segunda-feira, 22 de junho de 2015

Poesia. Erotismo. Maria Tereza Horta. «Oferece-me nos lábios os teus olhos. A planta é o sentir do teu corpo de asceta. Recordarei amanhã e depois recordarei como se fosses. Como se fosses, és, a intimidade antiga…»

Chichorro 
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Delírio
«O desejo revolvido.
A chama arrebatada.
O prazer entreaberto.
O delírio da palavra.
Dou voz liberta aos sentidos.
Tiro vendas, ponho o grito.
Escrevo o corpo, mostro o gosto.
Dou a ver o infinito».


Dádiva
«Oferece-me nos lábios
os teus olhos.
A planta
é o sentir do teu corpo
de asceta.
Recordarei amanhã
e depois recordarei
como se fosses.
Como se fosses
és
a intimidade antiga,
que predisse inclinada
pelas tuas mãos,
tu
a ruiva sensação
de seres-me idêntico,
oferece-me
o Outono liquefeito
do teu corpo
e esta liberdade, noite
de te saber autêntico».


Hino
É para ti
que crio os hinos
e os oceanos,
a persistência opaca
da noite,
o vício das árvores.
Os cabelos pretos
que desprendo
são para ti que invento,
o extinto
roxo
dos teus lábios.
É para ti que crio
o orvalho branco
dos meus espasmos,
onde tu és deus
e eu apenas nua,
a dar-te o líquido instinto
das gargantas.
Como os meus seios arqueados,
Lua».

Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘Poesia Completa



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