Delírio
«O desejo revolvido.
A chama arrebatada.
O prazer entreaberto.
O delírio da palavra.
Dou voz liberta aos
sentidos.
Tiro vendas, ponho o grito.
Escrevo o corpo, mostro o gosto.
Dou a ver o infinito».
Dádiva
«Oferece-me nos lábios
os teus olhos.
A planta
é o sentir do teu corpo
de asceta.
Recordarei amanhã
e depois recordarei
como se fosses.
Como se fosses
és
a intimidade antiga,
que predisse inclinada
pelas tuas mãos,
tu
a ruiva sensação
de seres-me idêntico,
oferece-me
o Outono liquefeito
do teu corpo
e esta liberdade,
noite
de te saber autêntico».
Hino
É para ti
que crio os hinos
e os oceanos,
a persistência opaca
da noite,
o vício das árvores.
Os cabelos pretos
que desprendo
são para ti que invento,
o extinto
roxo
dos teus lábios.
É para ti que crio
o orvalho branco
dos meus espasmos,
onde tu és deus
e eu apenas nua,
a dar-te o líquido instinto
das gargantas.
Como os meus seios
arqueados,
Lua».
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘Poesia Completa’
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