«(…) Os tempos, contudo,
não corriam de feição para pretensos apoliticismos. Agudiza-se o combate
ideológico entre os jovens integralistas de Coimbra, que se expressam através
do periódico A Ideia Nova, e os jovens republicanos do Centro
Académico, que não se abstêm de lançar contra os seus colegas monárquicos
graves acusações de vandalismo. Nos primórdios de 1928 (o ano de 1928 foi assinalado por um conjunto de
medidas governamentais extremamente impopulares junto da camada estudantil,
facto que, por si só, terá contribuído para uma maior consciencialização do
carácter prepotente da Ditadura Militar; a intenção, consagrada em decreto
datado de 12 de Abril de 1928, de extinguir as Faculdades de Direito de Lisboa,
de Letras do Porto e de Farmácia de Coimbra, bem como a Escola Normal Superior
da Universidade de Coimbra e as Escolas Normais Primárias de Coimbra, Braga e
Ponta Delgada e ainda o liceu da Horta, provocou um surto grevista nas três
academias.), e enquanto uma assembleia geral reunida em 22 de Janeiro aprova o
novo Estatuto Político do Centro Republicano Académico de Coimbra,
reactiva-se o Centro Académico Republicano do Porto, que publica o primeiro
número do seu jornal, O Democracia, no dia do aniversário do 31 de Janeiro de 1891, data que os republicanos passam a
comemorar com redobrada emoção. Subtis diferenças de pressupostos teóricos e de
objectivos políticos podem ser detectados nesta fase da vida dos dois Centros.
Enquanto o Centro Republicano
Académico de Coimbra se define, prioritariamente, como um grémio de acção e cultura política, orientado para a defesa dos
princípios da República democrática, e preconiza o mais rasgado espírito de reforma no regime da propriedade e do trabalho,
no sentido de tornar aquela acessível ao maior número e este produtivo e
liberto da tendência da mão-de-obra para o menor esforço, elementos do
Centro Académico Republicano do Porto organizam o Comité Académico Operário do
Porto, cujo escopo consiste em desenvolver uma forte propaganda contra o analfabetismo, alcoolismo, integralismo,
fascismo, clericalismo, e em defesa da organização operária (na primeira
reunião deste Comité foram nomeados os seus corpos gerentes, compostos por três
estudantes e três operários; Horácio Cunha, chefe de redacção do Democracia,
foi eleito presidente; Alexandre Pinto, secretário do mesmo jornal, foi
escolhido para secretário administrativo do Comité Académico Operário do Porto).
Entretanto, e a fim de tornar mais eficiente e proveitosa a acção dos
centros académicos, trabalha-se no sentido de conjugar esforços, coordenando iniciativas
que contribuam para viabilizar um futuro
social que nos honre e do qual sejamos dignos, como declara Emídio
Guerreiro, em nome do Centro Académico Republicano do Porto, a Vitorino
Nemésio, presidente do Centro Republicano Académico de Coimbra; futuro que,
reconhece-se, passa pela preparação de uma
verdadeira revolução. Os estudantes republicanos da academia de Lisboa não
podiam, obviamente, marginalizar-se deste renascimento de velhas práticas e
estratégias. Em Dezembro de 1927, e
com grande regozijo da imprensa afecta ao Partido Democrático, à Esquerda
Democrática e ao Partido Socialista, a Liga dos Estudantes Republicanos de
Lisboa participa nas manifestações do dia da Restauração, que se pretendem
grandiosas e politicamente significativas. O relativo insucesso que rodeia este
acontecimento não faz desmobilizar a jovem vanguarda da oposição republicana à
Ditadura Militar. Assim, em Maio de 1928
é posto à venda aquele que virá a ser o mais importante e expressivo jornal da
academia republicana, o Liberdade». In Ana M. Caiado Boavida, Tópicos
sobre a Prática Política dos Estudantes Republicanos (1890-1931), Limites e
Condicionantes do Movimento Estudantil,
Análise Social, vol. XIX, 1983.
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Social/JDACT