Fernão Lopes, a verdade e a história
«As crónicas de Fernão Lopes
sobre os rei Fernando I e João I (primeira parte) constituem a fonte do nosso conhecimento
sobre a vida de dona Leonor Teles. Quanto à participação da rainha no reinado de
Fernando I e na regência, é possível encontrar outras fontes) como os diplomas
da chancelaria do rei (serviço responsável pela elaboração dos documentos régios)
ou outros ligados aos mosteiros com os quais ela se relacionou. Por ora,
debrucemo-nos sobre o cronista e conheçamos um pouco da sua vida e obra na
pequena cronologia que se segue: 1380.
Nascimento provável de Fernão Lopes, no seio de uma família de camponeses ou de
mesteirais, em Lisboa. 1418. Data apontada
para o início da sua carreira de guarda-mor da Torre do Tombo. Simultaneamente,
foi escrivão do rei João I e do infante Duarte. 1419. Por ordem do infante Duarte, começou a escrever a Crónica
dos sete primeiros reis de Portugal. Parece ter iniciado, também, as crónicas
sobre Pedro I e Fernando I e as duas partes da crónica sobre João I. 1422. Exercício do cargo de escrivão de
puridade (espécie de secretário dos assuntos particulares) do infante Fernando.
1434. Duarte, agora já rei, oficializou
o trabalho de Fernão Lopes, que o deve ter iniciado em 1479. Numa carta de 19 de Março de 1434, o monarca encarregou-o de pôr
em crónica as histórias dos reis que antigamente em Portugal foram, isso mesmo os
grandes feitos e altos do mui virtuoso e de grandes virtudes el-rei meu senhor e
padre, cuja alma Deus haja. Em troca deste trabalho, o escritor recebeu
uma tença de 14 000 reais anuais. Parece ter-lhe sido, igualmente, passada uma carta
de nobreza, usando ele, a partir desta altura, o título de vassalo de el-rei; redacção da Crónica de D. Pedro I.
1437.Início da
elaboração da Crónica de D. Fernando, cija redacção terá terminado em 1443. 1439. O regente Pedro confirmou-lhe a tença concedida por Duarte I,
que falecera no ano anterior. 1443. Final
da redacção da Crónica de D. Fernando; final da redacção da Crónica
de D. João, Primeira Parte. 1449.
Afonso V aumentou a tença anual do cronista para 20 000 reais anuais. Final da
redação da Crónica de D. João I, segunda parte. 1454. Foi substituído no cargo de guardador das escrituras do Tombo, por Gomes Eanes Zurara, devido à
idade avançada e a um estado de saúde mais debilitado. 1460. Data provável da sua morre.
As fontes utilizadas pelo
cronista parece terem sido: crónicas de Pero López Ayala; Crónica do condestabre, anónima;
redigida possivelmente entre 1431 e 1436;
crónica latina sobre o reinado de João I, que Fernão Lopes atribuiu ao Doutor Christophorus;
a crónica de Martim Afonso Melo, mencionada pelo próprio Lopes, no capítulo 47
da Crónica
de D. Fernando; Livro de linhagens do conde D. Pedro.
A obra de Ayala serviu como fonte para cinquenta e cinco capítulos da Crónica de D. Fernando, e a Crónica de Don Juan I foi aproveitada
em setenta capítulos da Crónica de D. João
I. A utilização da Crónica do condestabre
como fonte é quase total; apenas oito capítulos não são utilizados por Lopes. As
fontes narrativas dominaram a pesquisa de Fernão Lopes e a consulta das fontes
documentais ocorreu, de forma pontual, somente para completar o relato. Primeira
publicação das suas obras: 1644.
Crónica de D. João I; 1735. Crónica
de D. Pedro I; 1816. Crónica de
D. Fernando». In Isabel Pina Baleiras, Uma Rainha Inesperada, Leonor Teles, Temas e
Debates, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-989-644-230-9.
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