NOTA: De acordo com o original
Segunda Conferencia. 31 de maio de
1891
(…) Suspendemos a
primeira conferencia effectuada á respeito de Christovam Colombo e do descobrimento
da America, ao referir o despeito que assaltara á aquelle famoso navegante quando
soube que fora recusado por João II seu projecto de viagem directa ás índias
pelo Atlântico, seguindo rumo de Oeste. Disse-vos já que partira de Portugal e
dirigira-se para Génova. Amargurava-se porque desde o principio do século era
Portugal a única nação da Europa, que se entregava á empreza audaz de descobrimentos
de terras novas e desconhecidas; e pois lhe parecia difficil encontrar, outra que
ousasse devassar e curvar os mares e arrancar de seu seio continentes
ignorados. Não era alli que se apuravam então os conhecimentos geographicos, que
se desfaziam tradições e legendas pavorosas do mar tormentoso da Africa, em que
a edade média acreditava; que mostrara emfim que era fabula a existência de monstros
marinhos recontados por Endrisi, de estreitas luzentes, por Rogério Bacon, do cahos
impenetrável nas proximidades da linha segundo Albi, de basiliscos descriptos por
Averrhoes, de gigantes, serêas com rabos, pigmêos com olhos nos hombros e de mil
outras ficções extravagantes, devidas á imaginação dos Árabes, que assim pintando
o Atlântico affastavam os espíritos de ousadias de affrontal-o?
Chegado a Génova,
convencido sempre Colombo da exequibilidade de seus planos marítimos, tratou de
obter do governo da republica meios para executal-os, e navios para emprehender
a viagem projectada em seu espirito, affiançando ao estado grandiosas vantagens
e glorias immarcessiveis. Decorria então o anno de 1486, e portanto quando já bastantes progressos e adiantamentos haviam
os portuguezes conseguido, quer na arte de navegar, quer no emprego á bordo do astrolábio
e do quadrante, que, no reinado de João II, juntos á agulha, única empregada
no tempo de Henrique de Vizeu (infante), facilitavam agora as emprezas de atirar-se
aos mares, abandonar as costas terrestres, podendo-se já, em grandes distancias,
reconhecer e tomar as alturas e ficar-se certo da posição maritima. Com razão
escolhia Colombo a Génova por ser sua pátria, no intuito de dar-lhe as honras do
descobrimento das Indias, que convinha effectuar-se quanto antes pois que os portuguezes
prosseguiam na sua rota, e com suas diligencias mais tarde ou cedo encontrariam
o Indostão e as Indias próximas ao Mar Vermelho e ao golfo Pérsico.
Génova, porém, estava
decadente, bem como Veneza, e todas as demais republicas marítimas da Itália, que
tanto poderio e commercio haviam exercido na edade média, aproveitando-se da fraqueza
do império grego de Constantinopla. Trancavam-lhes agora as relações mercantis os
Turcos, senhores do mar Negro, do Bosphoro, e da Syria. Génova
não se achava habilitada, portanto, para assentir-lhe ás propostas. Dissemos que
Génova era sua pátria. Foi elle sempre em sua vida considerado Genovez quer em Portugal
quer depois em Hespanha. Todos os escriptores coevos o affirmavam. Depois de morto,
porém, como adquirira e legara um nome glorioso e immortal, diversos povos, em escriptos
a respeito, tentaram chamal-o seu compatriota: até o Diccionario Larousse o faz nascer na Sabóia! Para esclarecer
a questão de um modo terminante, e provar-se claramente que em Génova e dentro da
cidade nascera, e de familia pobre alli residente, publicou-se em Hespanha, no século
actual (século XIX), seu testamento datado de 1498, e bem assim os processos que contra a coroa hespanhola e contra
seus herdeiros hespanhoes haviam promovido vários fidalgos e famílias italianas,
que pretendiam ser reconhecidos seus parentes e herdeiros em falta de linha
directa; publicaram-se egualmente em Génova, nos nossos dias, umas linhas
escriptas por Colombo, no anno de 1506,
dias antes de fallecer, na pagina branca de um breviário, que existe ainda na bibliotheca
Corsini de Roma». In J. M. Pereira da Silva, Conferências Públicas, propriedade do
Instituto Histórico e Geographico Brazileiro e Academia Real de Sciencias de
Lisboa, Brazil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, Library University of California,
1892.
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Lisboa/JDACT