«Há
um caminho que só eu sei
que
vai dar à casa antiga.
E há
uma varanda
que
dá para o mundo
onde
uma menina está sentada
a
pensar as palavras com o coração».
«Nas
tardes de Domingo
dormia-se
até tarde.
Só
a mãe sustentava no seu colo
aquele
mundo.
Das
suas mãos, o pão e o leite,
o
mel e as nozes
faziam
o suave milagre dos dias».
«Na velha casa do mundo
moramos todos.
Mas é na casa das memórias
que eu habito com o passado.
Por isso, a minha casa
é o meu jardim
onde vou arrancado os espinhos
da
roseira da alma».
«Olho as garças
sobrevoando o lago
as garças ou outras
quaisquer criaturas
da categoria volátil dos sonhos.
Olho as garças
e os meus olhos
prendem-se nelas.
É Natal e faz frio
paira uma qualquer névoa
no ar frio da praça.
Como uma sombra no meu coração,
as garças escurecem o lago.
A tarde respira humidade,
nos meus olhos cai a névoa.
É Natal. Faz frio.
Não tanto como no meu coração.
Aceno às garças, um adeus de olhar
não neva senão na alma.
Flocos nostálgicos caem
na
leveza da tarde».
Poemas
de Maria Sarmento,
in ‘O Silêncio e as Vozes’
In
Maria Sarmento , O Silêncio e as Vozes, Árion Publicações, colecção O Guardador
de Rebanhos, 1999, ISBN 972-840-909-5.
Cortesia
de Árion/JDACT