Convite
para ser rei. A escolha de Fernando Augusto de Coburgo
«(…) O conde do Lavradio não
esclarece quem lhe mencionou e recomendou o príncipe, mas é muito provável que
tivesse sido inculcado por mensageiro de Vitória Coburgo, duquesa de Kent. Foi
ela, e sobre isso não há dúvida, a primeira dos Coburgos a interessar-se pelo
assunto e a fazê-lo avançar, mesmo antes de conhecer a opinião dos irmãos. Mas,
prudente, porque a sua situação em Inglaterra não podia sofrer a mínima
beliscadura, só se manifestou claramente depois de conseguida a aprovação do
rei Guilherme IV e do governo inglês, que a deram de imediato, pois punha termo
definitivo à hipótese Orleães. O emissário português testemunha: … em toda esta negociação fui auxiliado por
Suas Altezas Reais, a duquesa de Kent e duque de Sussex, e por lord Palmerston,
que, para isso, recebeu ordens positivas do rei de Inglaterra.
A 28 de Julho, Lavradio envia a
proposta ao duque Fernando Jorge, depois de a ter dado a conhecer à duquesa de
Kent e ao duque de Sussex. Pelo mesmo mensageiro que partiu para Viena seguia
uma carta de Vitória. Esta estava certa de que o irmão ficaria muito honrado
com o pedido e daria grande atenção ao facto de ser apoiado pelo governo
britânico e por ela própria, mas pede a Sussex, dada a delicadeza da matéria,
que faça entender a Lavradio que não é conveniente visitá-la antes da resposta
afirmativa do irmão. Depois, afirma, quando ela chegasse adoptaria um
comportamento que demonstrasse o seu apoio. É óbvio que Vitória se apressou a
escrever aos irmãos Ernesto e Leopoldo. Ao conhecer a reviravolta do seu projecto
matrimonial, em Agosto, dona Maria ficou agradada e em carta a Lavradio
diz-lhe: Agradeço-lhe muito as suas duas
cartas, assim como também a resolução que o conde tomou, a qual aprovo muito.
Pode ser que certas pessoas não façam o mesmo. Referia-se a rainha, entre
outros, à madrasta, que promovia o casamento da enteada com o seu irmão
Maximiliano. Aliás, logo em Abril, dona Amélia escrevera à mãe nesse sentido,
comunicando-lhe que era isso que se desejava em Portugal. Dona Maria prossegue
na carta a Lavradio: o que eu acho é que
foi excelente que nós tivéssemos metido a duquesa de Kent e o duque de Sussex neste
negócio, porque me parece sempre bom metermos nos nossos negócios algum tory
e também me parece que é o príncipe de Saxe Coburgo o que é melhor para
Portugal, não só por ser de uma família tão ilustre como ele é, mas também por
ser parente do rei dos Belgas e da princesa Victoria.
Na Casa reinante em França, o
nome foi também bem acolhido. Em carta à filha mais velha, a rainha dona Maria
Amélia escreve: Já tinham comunicado ao
pai, de Lisboa, o projeto de casamento da pequena rainha com o filho do príncipe
Fernando. O pai aprová-lo-ia muito e espero que se acerte. Parece-me que
estando ligado à Inglaterra e a Léopich [rei Leopoldo, seu genro] por
parentesco e à Áustria pela posição, seria uma boa escolha, que poderia ser
vantajosa para Portugal.
A renitente autorização do pai
Fernando
Jorge Coburgo viajava pelas suas terras da Hungria e só em Setembro leu as cartas
remetidas de Londres, em Julho. Respondeu de imediato, dizendo-se muito
lisonjeado, mas pediu tempo para discutir o assunto que tinha de ser levado ao
conhecimento dos irmáos Ernesto, chefe da família, e Leopoldo, um chefe de
facto. Estes já estavam a par da situação e, mais interessados na grandeza da
sua Casa do que na felicidade do jovem em causa, exerceram forte pressão sobre
o irmão para que aceitasse. Olivier Defrance viu em Leopoldo aquele que
conseguiu demover Fernando Jorge, mas o papel de Ernesto foi decisivo. Quanto
ao jovem Fernando, ninguém o ouviu. O seu destino foi traçado pelo pai e pelos
tios. À mãe, decerto, também ninguém atendeu». In Maria Antónia Lopes, D.
Fernando II, Um Rei Avesso à Política, Círculo de Leitores, 2013, ISBN
978-972-42-4894-3.
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