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«(…) Santa Senhorinha de Basto (924-982, aproximadamente) é uma santa
do século X, nascida em território português, perto de Vieira do Minho, prima
de S. Rosendo. Foi educada por uma tia, chamada Godinha e também ela venerada
como santa e fundadora do mosteiro de S. João de Vieira, a qual aparece
referenciada no cartulário bracarense do Biber Fidei. Todavia, a vida de
Santa Senhorinha, pouco estudada ainda, foi publicada em latim nos Portugaliae Monumenta Historica-Scriptores
e recentemente traduzida para português. Sabemos que os monges beneditinos da
antiga Congregação dos Monges Negros de S. Bento do Reino de Portugal, a
consideravam monja e abadessa beneditina e como tal a representaram e
difundiram o seu culto. Frei Leão de S. Tomás resume a sua vida e descreve o
seu mosteiro, situado no fundo do vale, junto ao rio Basto, a três quilómetros
do mosteiro de Refojos, no caminho para Arco de Baúlhe. Na realidade, porém,
Santa Senhorinha é anterior à introdução da vida beneditina na nossa região,
patrocinada pelas determinações do Concílio de Coyança em 1050, favorecida por
Afonso VI de Leão. Deste modo, é puro anacronismo vesti-la a ela e à tia de
abadessas beneditinas. Quando muito, tanto ela como seu primo S. Rosendo, terão
levado um tipo de vida consagrada, que prolongaria no tempo os usos e costumes
da região, que ainda conservava a memória do monaquismo de S. Frutuoso.
Tempos depois, em plena monarquia portuguesa, sucedeu que o miraculado filho
de Sancho I, feito rei Afonso II, deu privilégios à igreja de Santa Senhorinha
de Basto por provisão datada de Guimarães, a 28/2/1220. O rei Afonso III, filho
do dito Afonso II, confirmou o couto e ampliou os privilégios, como consta das
Inquirições de 1258. Sabe-se que o rei Pedro I, a 15/9/1360, estando em Valença
do Minho, honrou Santa Senhorinha fazendo à sua igreja, onda dona Inês de
Castro erigira uma capela a S. Gervásio, uma doação do padroado que detinha na
igreja de Santa Maria do Salto, no Barroso, dando-nos a entender que esta, já
então, era simples freguesia e não mosteiro. Parece que o couto foi extinto por
volta de 1620, quando o benefício passou para o morgado da Taipa, em Celorico
de Basto. A igreja tinha quatro anexas (Santa Maria do salto, Ourilhe,
Painzela, Pedraido), as quais eram da apresentação do respectivo abade que, por
isso mesmo, daí colhia os rendimentos.
De Santa Senhorinha se ocupou, modernamente, o arcediago-bispo de
Lamego António Castro Xavier Monteiro, em livrinho de 48 páginas. O túmulo de
Santa Senhorinha é venerado na freguesia do mesmo nome e a igreja paroquial,
seiscentista, tem várias e pobres referências iconográficas e tumulares à Santa,
mas no mosteiro nada subsiste. É sabido de todos que as tropas francesas,
depois da 2ª Invasão comandada por Soult (16/5/1809), retiraram a toda a pressa
pela mágica e dantesca ponte da Misarela, sobre o rio Rabagão, quase na
confluência com o Cávado, na freguesia do Ferral, já no concelho de Montalegre.
É ponte muito antiga, romano-medieval, por onde passavam peregrinos a caminho
de S. Tiago de Compostela. A ela está ligado um curioso culto dos irmãos S.
Gervásio e Santa Senhorinha, que a tradição faz naturais da vizinha região de
Basto e que, aqui, teriam atravessado o rio para ir a Compostela e ao mosteiro
de Celanova visitar seu primo S. Rosendo. De faco, na região existe uma lenda
cde gostoso sabor antropológico-cristão segundo a qual, quando para uma mulher
o período de gestação foi atribilado ou já houve caso de nado-morto, se deve
fazer o baptismo pré-natal no útero da mãe, extra-sacramental, por um padrinho
ali surpreendido, de noite e ao acaso. Este, deitando água do rio sobre o
ventre materno, deverá dizer a seguinte fórmula: eu te baptizo, criatura de Deus, pelo poder do Senhor e de Santa
Maria. Se fores rapaz, serás Gervaz; se fores menina, serás Senhorinha». In
In
Geraldo Coelho Dias, D. Sancho I, Peregrino e devoto de Santa Senhorinha de
Basto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Revista da Faculdade de
Letras, II Série, Vol. XIII, Porto, 1996.
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