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Châmoa
Gomes: a primeira amante real
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Em 1206 regressou a Portugal e morreu no ano seguinte por envenenamento. Se da
relação do monarca com dona Châmoa Gomes, anterior ao casamento com dona
Mafalda, se conhece alguns dados, o mesmo não se pode afirmar quanto à mãe do
outro bastardo de Afonso Henriques, Pedro Afonso, que foi senhor de Araga e
Pedrógão, tendo também ocupado o cargo de alferes-mor.
Referem
alguns autores que Afonso Henriques teria tido uma paixão por uma Elvira Gualter,
não se sabendo determinar ao certo quando teve lugar, e a quem atribuem a
maternidade de dona Teresa Afonso e de dona Urraca Afonso. As fontes não são
unânimes, algumas consideram que Elvira Gualter foi a mãe de todos os filhos
ilegítimos de Afonso Henriques, enquanto outras afirmam que dona Teresa Afonso
e dona Urraca Afonso eram irmãs, e não filhas, do monarca. Mas, a serem irmãs,
teriam que ser também ilegítimas. No ano de 1169, em Badajoz, Afonso Henriques
partiu a perna, o que o deixou combalido e obrigou a uma prolongada
imobilização. O seu filho Sancho começou, neste contexto, a estar mais activo
na governação, numa partilha de autoridade régia e naquela que seria a preparação
natural para a sucessão régia. O reconhecimento de Afonso Henriques como
rei de Portugal pela Santa Sé e da sua independência face a Castela chegou a 23
de Maio de 1179. O papa Alexandre III concedia, por fim, o que o monarca
procurara ao longo do seu reinado: a legitimação por direito da sua dignidade
régia. No fim da sua vida via consagrar-se aquilo por que tanto lutara. Deixava
ainda a sucessão já preparada e mesmo a de seu filho já se previa segura. A
morte sobreveio a 6 de Dezembro de 1185, em Coimbra, com 76 anos de idade,
e foi sepultado nessa cidade, em Santa Cruz de Coimbra, onde jaz em túmulo
manuelino na capela-mor.
Os
amores do bem-amado Sancho I
Corria
o ano de 1170 quando, no dia da Ascensão de Santa Maria, Sancho foi armado
cavaleiro, passo importante na sua vida, neste ano em que também assumiu a
responsabilidade de coadjuvar seu pai, Afonso Henriques, no governo do reino.
Mas a caminhada de Sancho, quinto filho de Afonso Henriques e de dona Mafalda,
até ao trono não foi simples, pois era ao primogénito, Henrique, que caberia a tarefa
de governar um dia Portugal. Os caminhos do destino nem sempre são os mais
ditosos e o primogénito veio a falecer aos oito anos. Provavelmente, era algo
com que a família já não contava, ultrapassada a idade mais propícia à morte. Era,
contudo, infelizmente, comum para a época, como o será ainda por muitos
séculos. Sancho nasceu Martinho, por ter nascido no dia deste padroeiro,
a 11, de Novembro de 1154 e, com um ano apenas, sem sequer ter idade para se
aperceber do que à sua volta se passava, passou para a ribalta. Só que Martinho
não era nome de rei, principalmente para uma jovem e recente monarquia que se
tentava impor face aos restantes reinos hispânicos. Assim, de Martinho passou a
Sancho e de secundogénito passou a primogénito. O nome mudava e a sucessão também.
Sancho
foi criado com a ama Teresa Afonso, a segunda mulher e viúva de Egas Moniz, e
cresceu rodeado de conselheiros e membros da corte de seu pai, ouvindo
certamente as histórias e as preocupações que a grande querela entre o poder
espiritual e temporal levantavam ao monarca, Afonso. Desde cedo ficou ligado às
famílias muito próximas da corte e com fortes ligações à nobreza senhorial do
Entre Douro e Minho. Como qualquer jovem nobre, exercitou-se nas artes da guerra,
na caça e nas brincadeiras cavaleirescas. Mas o estudo e a aprendizagem dos
princípios da fé também fizeram parte da educação de Sancho, principalmente
quando à corte e a Coimbra se deslocava. Quanto às relações familiares, sabemos
que Sancho cresceu juntamente com os filhos ilegítimos de Afonso Henriques.
Fernando Afonso, filho de Afonso Henriques com Châmoa Gomes, era mais velho,
mais experiente e ocupava um cargo de destaque e importância no reino. Fora
criado na corte e, tal como os filhos legítimos de Afonso Henriques, privara
com o pai desde pequeno. Fernando Afonso e Sancho tinham entre eles uma
diferença de quase 15 anos. Provavelmente, seria ao filho mais velho quem Afonso
Henriques recorreria em busca de auxílio. Como é que o herdeiro encarava a
presença de seu meio-irmão na corte e junto do pai? Vê-lo-ia como uma ameaça? Do
relacionamento com suas irmãs, dona Urraca, dona Teresa e dona Mafalda, nada se
sabe. Ou mesmo com os outros irmãos, João e dona Sancha». In Paula Lourenço (coord), Ana
Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos
Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.
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