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Os
amores do bem-amado Sancho I
«(…)
E Sancho, que relação teria com o pai? Se é verdade que desde que tinha 16 anos
passou a desempenhar funções régias ao lado de seu pai, certo é que Afonso
Henriques continuava a estar presente e a dominar. O nome de Sancho era quase
sempre omitido na documentação régia, não obstante as responsabilidades que
tinha de vingar no campo governativo, mas também no importante domínio bélico e
militar, tão vital para o reino. Os fracassos eram a Sancho imputados, como a
qualquer outro monarca..., só que Sancho não o era. Pelo menos, de pleno
direito. Não é difícil imaginar que foi o que sucedeu com a infrutífera segunda
tentativa da tomada de Badajoz. Por outro lado, a presença do filho bastardo do
fundador junto do rei era fonte de rivalidade e de desafio. Sancho I teria que
esperar para assumir o protagonismo sozinho.
Em
1173, parece ter sido reconhecido como regente do reino, o que passou por
um maior controlo da governação. Será neste ano que aparece publicamente e de
forma inegável associado a seu pai na trasladação das relíquias de S. Vicente
de Lisboa para a Sé. Por esta altura, o seu meio-irmão Fernando Afonso passou a
estar ausente da documentação. Terá sido reacção à aproximação entre Afonso
Henriques e Sancho? Como terá Sancho encarado o afastamento daquele que durante
tanto tempo exercera um dos cargos mais importantes do reino e sempre estivera
tão perto do rei, seu pai, talvez tanto como ele sempre quisera? Sentir-se-ia
mais seguro e mais confiante?
O
casamento de Sancho I
No
ano imediato teve lugar uma das mais importantes etapas da sua vida: o
casamento. Como herdeiro do trono, tornava-se vital garantir a descendência sucessória
da jovem e recente monarquia, e a escolha recaiu sobre dona Dulce de Aragão,
filha de Petronilha de Aragão e de Raimundo Berenguer IV de Barcelona e irmã de
Afonso II de Aragão. A infanta aragonesa tinha 14 anos quando casou com Sancho,
seis anos mais velho, em 1174. Foi acompanhada pelo seu séquito até Coimbra,
mas não são conhecidos pormenores deste matrimónio, nem sequer o dote e arras.
Sabe-se, contudo, que tinha rendimentos em Alenquer, em terras de Vouga, Feira
e Porto e geria uma herdade em Seia. Foi um casamento fértil em filhos. Dona
Teresa nasceu em 1176, dona Sancha por volta de 1180, e dona Constança em Maio
de 1182. Poucas informações existem quanto ao relacionamento entre o casal
régio. Alguns autores sugerem ter existido uma dúvida fugaz de que a rainha
teria sido adúltera. Sancho I alvoroçava-se ao saber, pelo vozear correntio,
que a rainha dona Dulce o enganara com um cavaleiro [...] Mas dona Dulce estava
inocente e ele, o acreditou para consolo da sua alma e para que se poupasse a
desventurada senhora a um castigo pérfido e imerecido.
Quando
Afonso Henriques morreu em 1185, Sancho tinha já três filhas e experiência
governativa. Foi aclamado rei a 9 de Dezembro, com 31 anos de idade.
Chegara ao fim a longa espera pelo trono. O reinado de Sancho I foi inaugurado
no dia de Santa Leocádia, importante mártir hispânica que morrera recusando-se
a renegar a sua fé em Cristo. Simbolizava, como sublinha a historiadora Maria João
Branco, aquilo por que um rei peninsular deveria querer lutar, ou seja, a
reconquista do território aos infiéis. Agora que conseguira libertar-se da
sombra de seu pai, outra questão devia preocupá-lo: ao fim de quase 12 anos de
casamento, Sancho I e dona Dulce ainda não tinham tido um filho varão. Mas a
rainha encontrava-se grávida de cinco meses quando seu marido foi elevado a rei
e foi desta gravidez que nasceu o primeiro filho masculino, aquele que garantia
a sucessão: Afonso, a 23 de Abril de 1186.
A
partir desta altura, nascem-lhe sete filhos mais. Pedro, em 23 de Março de 1187,
e Fernando Sanches, possivelmente a 24 de Março de 1188. A proximidade das
datas de nascimento destes dois infantes e o registo que ficou a um filho de
nome Henrique, em 1187, pelos escribas de Santa Cruz não permitem clarificar ao
certo a questão destes filhos. Se, por um lado, se coloca a questão de poderem ter
sido gémeos, por outro é mais provável, na opinião de alguns historiadores, que
os escribas tenham chamado, por erro, Henrique a Pedro. Ainda Raimundo, que
nasceu em 1195, e Mafalda, em 1195 ou 1196, juntaram-se à família. Por fim, em
1196 ou 1198 nasceram Branca e Berengária que, segundo José Mattoso, teriam
sido gémeas. Dona Dulce morreu em Setembro de 1198 na sequência do parto ou vítima
de peste. Em todo o caso, cumprira o seu papel. Dera ao reino uma numerosa
prole de filhos». In Paula Lourenço (coord), Ana Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes
dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos Livros, Lisboa, 2011, ISBN
978-989-626-136-8.
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