quinta-feira, 21 de julho de 2016

Amantes dos Reis de Portugal. Paula Lourenço (coord), Ana C. Pereira e Joana Troni. «Quando Afonso Henriques morreu em 1185, Sancho tinha já três filhas e experiência governativa. Foi aclamado rei a 9 de Dezembro, com 31 anos de idade. Chegara ao fim a longa espera pelo trono»

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Os amores do bem-amado Sancho I
«(…) E Sancho, que relação teria com o pai? Se é verdade que desde que tinha 16 anos passou a desempenhar funções régias ao lado de seu pai, certo é que Afonso Henriques continuava a estar presente e a dominar. O nome de Sancho era quase sempre omitido na documentação régia, não obstante as responsabilidades que tinha de vingar no campo governativo, mas também no importante domínio bélico e militar, tão vital para o reino. Os fracassos eram a Sancho imputados, como a qualquer outro monarca..., só que Sancho não o era. Pelo menos, de pleno direito. Não é difícil imaginar que foi o que sucedeu com a infrutífera segunda tentativa da tomada de Badajoz. Por outro lado, a presença do filho bastardo do fundador junto do rei era fonte de rivalidade e de desafio. Sancho I teria que esperar para assumir o protagonismo sozinho.
Em 1173, parece ter sido reconhecido como regente do reino, o que passou por um maior controlo da governação. Será neste ano que aparece publicamente e de forma inegável associado a seu pai na trasladação das relíquias de S. Vicente de Lisboa para a Sé. Por esta altura, o seu meio-irmão Fernando Afonso passou a estar ausente da documentação. Terá sido reacção à aproximação entre Afonso Henriques e Sancho? Como terá Sancho encarado o afastamento daquele que durante tanto tempo exercera um dos cargos mais importantes do reino e sempre estivera tão perto do rei, seu pai, talvez tanto como ele sempre quisera? Sentir-se-ia mais seguro e mais confiante?

O casamento de Sancho I
No ano imediato teve lugar uma das mais importantes etapas da sua vida: o casamento. Como herdeiro do trono, tornava-se vital garantir a descendência sucessória da jovem e recente monarquia, e a escolha recaiu sobre dona Dulce de Aragão, filha de Petronilha de Aragão e de Raimundo Berenguer IV de Barcelona e irmã de Afonso II de Aragão. A infanta aragonesa tinha 14 anos quando casou com Sancho, seis anos mais velho, em 1174. Foi acompanhada pelo seu séquito até Coimbra, mas não são conhecidos pormenores deste matrimónio, nem sequer o dote e arras. Sabe-se, contudo, que tinha rendimentos em Alenquer, em terras de Vouga, Feira e Porto e geria uma herdade em Seia. Foi um casamento fértil em filhos. Dona Teresa nasceu em 1176, dona Sancha por volta de 1180, e dona Constança em Maio de 1182. Poucas informações existem quanto ao relacionamento entre o casal régio. Alguns autores sugerem ter existido uma dúvida fugaz de que a rainha teria sido adúltera. Sancho I alvoroçava-se ao saber, pelo vozear correntio, que a rainha dona Dulce o enganara com um cavaleiro [...] Mas dona Dulce estava inocente e ele, o acreditou para consolo da sua alma e para que se poupasse a desventurada senhora a um castigo pérfido e imerecido.
Quando Afonso Henriques morreu em 1185, Sancho tinha já três filhas e experiência governativa. Foi aclamado rei a 9 de Dezembro, com 31 anos de idade. Chegara ao fim a longa espera pelo trono. O reinado de Sancho I foi inaugurado no dia de Santa Leocádia, importante mártir hispânica que morrera recusando-se a renegar a sua fé em Cristo. Simbolizava, como sublinha a historiadora Maria João Branco, aquilo por que um rei peninsular deveria querer lutar, ou seja, a reconquista do território aos infiéis. Agora que conseguira libertar-se da sombra de seu pai, outra questão devia preocupá-lo: ao fim de quase 12 anos de casamento, Sancho I e dona Dulce ainda não tinham tido um filho varão. Mas a rainha encontrava-se grávida de cinco meses quando seu marido foi elevado a rei e foi desta gravidez que nasceu o primeiro filho masculino, aquele que garantia a sucessão: Afonso, a 23 de Abril de 1186.
A partir desta altura, nascem-lhe sete filhos mais. Pedro, em 23 de Março de 1187, e Fernando Sanches, possivelmente a 24 de Março de 1188. A proximidade das datas de nascimento destes dois infantes e o registo que ficou a um filho de nome Henrique, em 1187, pelos escribas de Santa Cruz não permitem clarificar ao certo a questão destes filhos. Se, por um lado, se coloca a questão de poderem ter sido gémeos, por outro é mais provável, na opinião de alguns historiadores, que os escribas tenham chamado, por erro, Henrique a Pedro. Ainda Raimundo, que nasceu em 1195, e Mafalda, em 1195 ou 1196, juntaram-se à família. Por fim, em 1196 ou 1198 nasceram Branca e Berengária que, segundo José Mattoso, teriam sido gémeas. Dona Dulce morreu em Setembro de 1198 na sequência do parto ou vítima de peste. Em todo o caso, cumprira o seu papel. Dera ao reino uma numerosa prole de filhos». In Paula Lourenço (coord), Ana Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Esfera dos Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.

Cortesia ELivros/JDACT