Cortesia
de ANTT
[…]
Esta
colecção é constituída pelas respostas elaboradas pelos párocos ao
interrogatório, através do qual se pretendia obter informações sobre as
paróquias, abrangendo a totalidade do território continental português.
Apesar de a exaustividade das respostas não ser constante, apresentam-se, na
generalidade, de forma sequencial aos pontos do interrogatório (que está
dividido em três partes relativas à localidade em si, à serra, e ao rio)
fornecendo dados de carácter geográfico (localização, relevo, distâncias),
administrativo (comarca, concelho, dimensão, e confrontações), e demográfico
(número de habitantes), sendo possível obter informações sobre a estrutura
eclesiástica e vivência religiosa (orago, benefícios, conventos, igrejas,
ermidas, imagens milagrosas, romarias), a assistência social (hospitais,
misericórdias, irmandades), as principais actividades económicas (agrícola,
mineira, pecuária, feira), a organização judicial (comarca, juiz), as
comunicações existentes (correio, pontes, portos marítimos e fluviais), a
estrutura defensiva (fortificações, castelos ou torres), os recursos hídricos
(rios, lagoas, fontes), outras informações consideradas assinaláveis (pessoas
ilustres, privilégios, antiguidades), e quais os danos provocados pelo
terramoto de 1755. Os volumes 42 e 43 contém apontamentos sobre múltiplas
freguesias, elaborados pela mesma pessoa, provavelmente o Padre Luís Cardoso,
incluindo algumas respostas originais de párocos, datadas de 1722, 1730 e
1732, e que deverão corresponder a um inquérito anterior ao de 1758.
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O
Dicionário Geográfico do Reino de Portugal, que o erudito e infatigável padre
Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa, tinha composto sobre as
memórias que os párocos do reino enviaram, por ordem superior, à Secretaria de
Estado, perdeu-se miseravelmente nas ruínas do terramoto de 1755, escapando
apenas, as letras A B e C do primeiro e segundo volumes, por estarem já
impressas, e distribuídos por partes, aonde não chegou o estrago. A simples
leitura destes volumes, que restam, basta para convencer os verdadeiros
portugueses, quero dizer, os amantes da glória, e da Pátria, de que a perda dos
que faltam, foi grande e irreparável, e o seria muito mais, se o autor, apesar
de ser já avançado em anos, não concebera o projecto de refundar a sua obra,
adicionando-a com a relação dos estragos e catástrofe, que acaba de mudar a
face de todo o Reino. Com este fim pediu novamente, instou e conseguiu da
Secretaria do grande e respeitável Sebastião José de Carvalho e Melo, ordem
para que todos os párocos do Reino enviassem novas descrições das suas
freguesias, com aquelas escrupulosas e circunstanciadas miudezas que mais
abaixo constarão da cópia dos interrogatórios, que impressos, lhes foram
enviados com o preceito de responderem, que a maior parte dos párocos cumpriram
no mesmo ano de 1758, com que lhes foi intimado; não quis porém o padre Cardoso
destas participações.
Não
quis ou não pôde, porque as enfermidades, ou a velhice ou o pressentimento da
morte, ou tudo junto fez, que o padre Cardoso olhasse como impossível a
execução do seu projecto, e assim, por sua morte em 1769, ficaram em montão
confuso mas bem guardado, todas as descrição que lhe tinham sido enviadas,
guardadas até agora em que um padre da mesma Congregação do Oratório, e Casa
das Necessidades, zeloso da utilidade, e instrução pública as fez arranjar com
forma de dicionário e mandou encadernar em 44 volumes de fólio, incluso este
índice para na biblioteca da mesma casa estarem patente a instrução, utilidade
e curiosidade portuguesa. De todos os 43 volumes, todos com o título “Dicionário
Geográfico de Portugal” se extraiu o presente índice geográfico para facilitar
a invenção de qualquer cidade, vila, concelho ou aldeia paroquial, devendo
advertir-se, que havendo sido, apesar de bem guardadas, havendo sido
desvairadas mais de 500 descrições, foi necessário, para completar a obra,
suprir com a leitura, estas faltas, suplemento que certamente, não há-de de
satisfazer a muitos leitores; mas na sua mão está emendarem, e corrigirem nos
suplementos, ou volumes 42 e 43. De resto, damos a cópia dos interrogatórios
conforme aos quais se acham feitas as respostas e são do teor seguinte:
1.
Em que província fica, que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
2.
Se é d'el-rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?
3.
Quantos vizinhos tem e o número das pessoas?
4.
Se está situada em campina, vale, ou monte, e que povoações se descobrem dela,
e quanto dista?
5.
Se tem termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos
vizinhos tem?
6.
Se a paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias
tem a freguesia, todos pelos seus nomes?
7.
Qual é o orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem
irmandades, quantas, e de que santos?
8.
Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação
é, e que renda tem?
9.
Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?
10.
Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus
padroeiros?
11.
Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem?
12.
Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que
houver notável em qualquer destas cousas?
13.
Se tem ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do lugar, e a quem
pertencem?
14.
Se acode a eles romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?
15.
Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
16.
Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças
de outra terra, e qual é esta?
17.
Se é couto, cabeça de concelho, honra, ou beetria?
18.
Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por
virtudes, letras, ou armas?
19.
Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?
20.
Se tem correio, e em que dias da semana chega e parte; e, se o não tem, de que
correio se serve, e quanto dista a terra onde ele chega?
21.
Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do
reino? Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras cousas dignas de
memória?
22.
Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas
águas tem alguma especial qualidade?
23.
Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as
embarcações que o frequentam e que pode admitir?
24.
Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de
armas, descreva-se a sua fortificação.
25.
Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado
se acha ao presente?
26.
Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê, e se está reparado?
27.
E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente
interrogatório?» In Joana Braga, Memórias Paroquiais, Índice, Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, 270.01.03, 1/2014, Lisboa, 2014, ID L 712.
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