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«Ama-se quem se ama e não quem se quer
amar»
Castelã
da Tristeza
«Altiva
e couraçada de desdém,
vivo
sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa
por ele a luz de todo o amor...
E
nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã
da Tristeza, vês?... A quem?...
E o
meu olhar é interrogador,
perscruto,
ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora
o silêncio..., nada.... ninguém vem...
Castelã
da Tristeza, por que choras
lendo,
toda de branco, um livro de horas,
à
sombra rendilhada dos vitrais?...
À
noite, debruçada pelas ameias,
por
que rezas baixinho?... Por que anseias?...
Que
sonho afagam tuas mãos reais?...»
Tortura
«Tirar
dentro do peito a Emoção,
a
lúcida Verdade, o Sentimento!
E
ser, depois de vir do coração,
um
punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar
um verso de alto pensamento,
e puro
como um ritmo de oração!
E
ser, depois de vir do coração,
o
pó, o nada, o sonho dum momento!...
São
assim ocos, rudes, os meus versos:
rimas
perdidas, vendavais dispersos,
com
que eu iludo os outros, com que minto!
Quem
me dera encontrar o verso puro,
o
verso altivo e forte, estranho e duro,
que
dissesse, a chorar, isto que sinto!!»
Lágrimas
Ocultas
«Se
me ponho a cismar em outras eras
em
que ri e cantei, em que era querida,
parece-me
que foi noutras esferas,
parece-me
que foi numa outra vida...
E a
minha triste boca dolorida,
que
dantes tinha o rir das Primaveras,
esbate
as linhas graves e severas
e
cai num abandono de esquecida!
E
fico, pensativa, olhando o vago...
Toma
a brandura plácida dum lago
o
meu rosto de monja de marfim...
E as
lágrimas que choro, branca e calma,
ninguém
as vê brotar dentro da alma!
Ninguém
as vê cair dentro de mim!»
Torre
da névoa
«Subi
ao alto, à minha Torre esguia,
feita
de fumo, névoas e luar,
e
pus-me, comovida, a conversar
com
os poetas mortos, todo o dia.
Contei-lhes
os meus sonhos, a alegria
dos
versos que são meus, do meu sonhar,
e
todos os poetas, a chorar,
responderam-me
então: que fantasia,
Criança
doida e crente! Nós também
tivemos
ilusões, como ninguém,
e tudo nos fugiu, tudo morreu!...
e tudo nos fugiu, tudo morreu!...
Calaram-se
os poetas, tristemente...
E é
desde então que eu choro amargamente
na
minha Torre esguia junto ao Céu!...»
Sonetos de Florbela Espanca, in “Sonetos Completos”
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