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1150-1330.
O povoamento urbano
«(…)
Portanto, sem poder medir o crescimento da população urbana, pode-se avaliar de
maneira aproximada, para as cidades mais importantes, o ponto de chegada
quantitativo, no princípio do século XIV. Mas as estimativas variam entre
80.000 e 200.000 habitantes. Embora a primeira estimativa seja mais verossímil,
ela coloca Paris no nível das maiores cidades italianas, Veneza, Milão,
Florença. Depois de Paris, Rouen e Montpellier provavelmente contavam cerca de
40.000 habitantes, Toulouse 35.000, Tours 30.000, Orléans, Estrasburgo e
Narbonne 25.000, Amiens, Bordeaux, Lille e Metz 20.000. A população de Arras,
Avignon, Beauvais, Bourges, Dijon, Douai, Lyon, Marselha e Reims situar-se-ia entre
10.000 e 20.000 habitantes. As grandes cidades da Flandres condal, Gand,
Bruges, Tournai e Ypres, seriam povoadas respectivamente por 60.000, 30.000,
20.000 e 10.000 habitantes, aproximadamente. Essas cidades conheceram, ao longo
de um século e meio, um intenso crescimento, com fases de aceleração e de
desaceleração. Em meados do século XII, Lille adquire uma muralha que devia
conter cerca de 80 ha. Na metade do século XIII, uma nova muralha eleva essa
superfície a 100 ou 115 ha, englobando a ilha de Rihour, as pradarias adjacentes
e o subúrbio de Weppes.
Em
Metz, em meados do século XII, à muralha galo-romana acrescenta-se uma muralha
que protege o subúrbio mais activo do ponto de vista económico, o Neufbourg, ao
sul, até Champ e Seille. No primeiro terço do século XIII, construiu-se uma
nova muralha que englobou os subúrbios de além-Seille, Port-Moselle e
além-Moselle. No final do século a muralha do bairro de além-Seille foi
modificada para incluir a Greve. A muralha encerrava então uma superfície de
159 ha, enquanto a cidade romana cobria apenas 70 ha. Em Reims, o crescimento
urbano é favorecido pelo arcebispo Guillaume de Champagne, Guillaume das Mãos
Brancas, tio de Filipe Augusto (1176 -1202). A partir de 1183, ele realizou o
loteamento da totalidade de seu domínio em torno de uma artéria central, a
Nouvele Couture, e concedeu um foral aos habitantes do novo burgo. Loteou
também uma parte do Jard (cercado) episcopal, que se tornou o Jard-au-Drapiers ou
Jard-l‘Archevêque. Por sua vez, os cónegos do capítulo urbanizaram o território
denominado Terra Comum, e a abadia de Saint-Remi loteou os terrenos entre o
mosteiro e o Vesle, em 1205, menciona-se ali uma rue des Moulins [rua dos
moinhos]. Aqui, como em muitas outras cidades da época, teve-se uma visão ampla
e ambiciosa: nem todo o espaço oferecido foi ocupado; mas a superfície
construída quase duplicou. Essa explosão urbana concentra-se no período
1160-1210: já nesta última data, a cidade atingiu seus limites extremos para o
período medieval. Contrariamente ao período anterior, a urbanização, desta vez,
é dirigida. Fruto da vontade de um homem e não mais obra colectiva de gerações
sucessivas, a segunda fase de desenvolvimento foi muito diferente. A lenta e
cega progressão em mancha de óleo sucede o salto deliberado e organizado...
Desta vez a urbanização precede o povoamento em vez de ser a sua consequência...
Em Reims, os urbanistas dos anos 1180-1210 fixaram definitivamente a
configuração de sua cidade por vários séculos. Em 1209, Filipe Augusto decide a
construção de uma muralha, mas os urbanistas de Reims só a realizarão no século
XIV.
Em
Montbrison, a cidade também se desenvolve e conhece uma aceleração de seu impulso
entre 1190 e 1220. O castelo tornou-se a residência habitual do conde do Forez,
o mercado deixou de ser local para tornar-se regional, Montbrison se estende de
ambos os lados do Grand Chemin, onde o tráfico comercial se intensifica. Em
Montpellier, cujo nome aparece em 985 e que possui uma primeira muralha em 1901,
constrói-se na segunda metade do século XII uma nova muralha, o muro comum, que
engloba novos subúrbios. Em 1180, nos 40 ha fechados vivem provavelmente perto
de 10.000 habitantes. No curso do século XIII essa população quadruplicará. Em
Aix-en-Provence, já no fim do século XII, a superfície das três cidades
que compõem a aglomeração (cidade condal, vila de Tours, burgo Saint-Sauveur)
já duplicou desde a Alta Idade Média. Durante o século XIII, os muros são
transbordados por todos os lados e novos bairros brotam do outro lado de cada
lanço de muralha. Uma muralha circunda antes de 1270 um novo bairro de casas
construídas que se instalou sobre terrenos ditos incultos, entregues, porém, a
uma cultura intensiva, o futuro burgo dos Ingleses. A superfície ocupada pela
cidade ainda duplicou, ou mais que isso, entre 1200 e a Peste Negra. Entre 1060
e o final do século XII, em Avignon, o número dos moinhos quase duplicou, uma
muralha anterior a 1223 circunda 38 ha, o dobro do que encerrava a muralha do
século X. Na Alsácia, graças ao Atlas de F. Himly, pode-se determinar
facilmente as ampliações do solo urbano ocupado no interior de sucessivas
muralhas. Em Colmar, uma primeira muralha é construída por volta de 1220, uma
segunda, que engloba os subúrbios, é erigida de 1232 a 1328 e faz mais que
duplicar a superfície da cidade. Em Erstein, a cidade encerrada numa muralha em
1260 é quase duplicada pelo muro do subúrbio do Niederheim em 1291. Em
Haguenau, a cidade encerrada numa primeira muralha por volta de 1150 é
englobada num espaço cerca de quatro vezes maior por volta de 1230 e absorve o
Konigsau (castelo imperial, dotado de uma muralha por volta de 1114) antes de
conhecer um novo crescimento considerável na terceira muralha, por volta de
1300. Em Ribeauville são quatro cidades que se cercam sucessivamente de
muralhas, a cidade antiga (Altstadt) antes de 1287, a cidade baixa (Unterstadt)
e a cidade média por volta de 1298, o burgo superior (Oberdorf) antes de 1341.
Em Sélestrat, três muralhas se sucedem, em 1216-1230, 1280 e 1370-1425.
Estrasburgo conhece durante o nosso período duas ampliações que acarretam novas
muralhas, em 1202-1220 e de 1228 a 1334. Wissemborg constrói uma primeira
muralha que engloba a abadia de São Pedro e São Paulo, do século VII, e seu
núcleo, fortificado antes de 1179, conhece uma primeira ampliação com o
subúrbio de Bruch antes de 1213 e uma segunda com o subúrbio do Bannacker antes
de 1265». In Jacques le Goff, O Apogeu da Cidade Medieval, 1980, Livraria Martins
Fontes Editora, 1989, 1992, ISBN 978-853-360-127-1.
Cortesia de LMartinsFontesE/JDACT