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1150-1330.
O povoamento urbano
«(…)
Com excepção de Estrasburgo, a maioria dessas cidades alsacianas surgiu na
Idade Média, como Lille ou Montpelher, a primeira a partir de um castelo
feudal, a segunda a partir de um posto de parada numa estrada de peregrinação,
O cami roumieu (caminho de Roma), que se torna no século XI uma
aglomeração de carácter comercial. Mas o crescimento urbano exprime-se também
por criações propriamente ditas. No entanto, a maioria delas, pelo menos depois
de 1150, não origina verdadeiras cidades, apesar de algumas realizações dos
templários, que fundam aglomerações ao lado de algumas de suas comendadorias,
como, em 1192, La Couvertoirade (Aveyron), cuja muralha circular, com suas
portas e torres, acha-se bem conservada. Uma grande realização é Montauban,
fundada em 1144 pelo conde de Toulouse, Alphonse Jourdain, defronte do burgo do
mosteiro de Montauriol, cujos habitantes o abandonaram em massa para ir morar
na nova cidade. Em pouco tempo Montauban cresceu e tornou-se importante. O papa
de Avignon João XXII, elevou-a a bispado em 1317. O século XIII, após as sauvetés
(aldeolas francas criadas durante o feudalismo, por iniciativa dos mosteiros,
para servir de refúgio e proceder ao arroteamento) do século XII, é, na ordem
das criações de aglomerações, o século das bastides (cidades
fortificadas). Como
o nome indica, o fenómeno é essencialmente um facto meridional, um fenómeno
do Sudoeste. Ele afecta principalmente o Toulousain, o Albigeois, o Agenais e o
Péri-gord. As bastides são
antes de tudo criações de grandes personagens. Em primeiro lugar, seguindo o
exemplo do conde de Toulouse, Raymond VII (criador, notadamente, de Cordes em
1222), os reis da França, São Luís, Filipe III, o Ousado,
Filipe
IV, o Belo, o primeiro sobretudo através de seu irmão, Afonso de Poitiers,
conde de Toulouse de 1249 a 1271, os outros por intermédio de Eustache de
Beaumarchais, senescal de Toulouse de 1272 a 1294. Um documento de
1271 atribui a Afonso de Poitiers quarenta e cinco criações ou recriações (fecit,
fecit fieri, fecit ãe novo, criou, fez criar, criou de novo), especialmente
Sainte-Foy-la-Grande (c. 1250), Villeneuve-sur-Lot (1253), Villefranche-de- Rouergue
(1256), Villefranche-de-Lauraguais (1271). No reinado de Filipe, o Ousado, e no
início do reinado de Filipe, o Belo, aparecem outras, como Montréjeau, Revel (1280),
Mi-rande (1282), Grenade-sur-Garonne (1290), Beaumont de Lomagne, etc. Os reis da
Inglaterra, a oeste, fundam também suas bastides,
entre as quais Créon, Libourne (1269), Beaumont-en-Périgord (1272),
Monpazier (1285). Em menor grau, os grandes senhores da região, e em primeiro
lugar os condes de Armagnac e os condes de Foix-Béarn, foram também fundadores
de bastides. A última
onda de bastides atingiu
o Périgord entre 1261 e 1306 e, embora representem apenas 4% do habitat da
região, as 23 bastides ali
criadas forneceram 9 das 60 sedes de distrito de castelanias, ou seja, 15%. O
que significa o fenómeno das bastides?
Houve quem as considerasse o canto do cisne do movimento comunal,
mas as lutas sociais não parecem ter desempenhado nenhum papel em sua criação.
Foram vistas também como uma expressão do impulso demográfico do período, mas
num momento em que esse impulso parece bastante atenuado. O aspecto militar nessa
zona fronteiriça onde reis da França e da Inglaterra disputam asperamente o
terreno também chamou a atenção, e é provável que os soberanos tenham visto aí
pontos de apoio estratégicos, mas a maioria dessas bastides não foi fortificada durante longo tempo.
Finalmente,
o grande especialista da questão, Charles Higounet, pensa que se trata
sobretudo de uma Organização da ocupação do solo e de um agrupamento da
população. Assim as bastides
permanecem muito inseridas no tecido campesino, constituindo antes
burgos rurais do que cidades propriamente ditas. Talvez seja sobretudo pela
regularidade de sua planta, por uma certa ideia urbanística de sua estrutura,
à qual voltaremos, que as bastides trouxeram sua contribuição para a
formação da França urbana. Mas pode ser que essa estrutura esteja igualmente
ligada à dos solos. Sua presença na França urbana é, salvo excepções, marginal.
Ao lado da criação de bastides,
São Luís está na origem de duas realizações urbanas do Sul, entre o Ródano
e o Garonne; Carcassonne e Aigues-Mortes. Carcassonne, fundada em 1247, após a
destruição do subúrbio consecutiva à revolta de Raymond Trencavel, foi cercada
de muralhas, em pedra somente do lado do rio, contra as inundações, o resto em terra
batida, por ordem de Filipe, o Ousado, em 1276. Aigues-Mortes, concebida em
1240, dotada de um foral em 1246 e onde os genoveses tinham cônsules já em
1249, foi criada como base de partida para a cruzada. Só a torre de Constance
foi construída no reinado de São Luís. O essencial das muralhas data do reinado
de Filipe III e foram terminadas por Filipe, o Belo». In Jacques le Goff, O Apogeu da
Cidade Medieval, 1980, Livraria Martins Fontes Editora, 1989, 1992, ISBN
978-853-360-127-1.
Cortesia de LMartinsFontesE/JDACT