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«(…) A principal actividade económica e
fonte de riqueza do país era a criação de gado, ligada à agricultura. Grande
percentagem de terra consistia em pastagens. Bois e vacas surgem constantemente
mencionados na documentação como símbolos de riqueza e de bem-estar. Em gado ou
nos seus equivalentes se avaliavam preços, medidas agrárias e impostos. Gado
bovino, gado ovino, gado caprino, gado suíno e gado cavalar existiam por toda a
parte. Não era muito variada a produção agrária, predominando as terras de
semeadura, as vinhas e os Linhares, com alguns pomares e maciços à mistura. A
maior parte da economia portuguesa do tempo tinha um carácter puramente local.
Grande parte do comércio local fazia-se em géneros. Existia, claro está,
circulação monetária, mas estava longe de generalizada ou exclusiva. Afonso
Henriques cujo longo reinado implicou acréscimo de fortuna, desenvolvimento do
comércio e necessidade de prestígio, fez cunhar os primeiros dinheiros de
bilhão portugueses. Sancho I, Afonso II e Sancho II, já com maior afirmação e
reconhecimento político e, porventura dispondo de mais ouro, cunharam morabitinos (al-murabitin, o dos Almorávidas)
em metal amarelo,
copiados dos dinars muçulmanos.
Sempre existira comércio, terrestre e marítimo, entre o espaço português e os
demais reinos cristãos da Península Ibérica, sobretudo Leão. E sempre o
existira também com o Sul Islâmico. Tudo dependia, em última análise, das
vicissitudes político-militares. A Expansão geral dos séculos XI a XIII
incrementou, como é óbvio, essas ligações comerciais mormente com os vizinhos
cristãos, já com o mundo muçulmano decaíra consideravelmente, empobrecido e
dificultado pelas devastações da Reconquista Cristã e pelos fanatismos religiosos.
A integração de Lisboa, e depois, de todo o Sul, no espaço português, obrigou a
uma distorção das vias normalmente trilhadas ou ao surto de novas estradas de
ligação com os reinos vizinhos. E os progressos da Reconquista em Castela
resultaram no mesmo fenómeno. Todo o rico comércio com a Andaluzia passou a
interessar directamente os mercadores portugueses, da mesma forma que o acesso
fácil a Lisboa, a Alcácer ou aos portos algarvios motivou com certeza os
negociantes castelhanos. Para fins políticos e administrativos, Portugal estava
essencialmente dividido em terras ou territórios, cujo número sempre se mostrou
flutuante, regra geral, cada terra ou território correspondia a uma unidade
política de suserania feudal, ou seja, um senhorio, mas esta regra estava cheia
de excepções. Porém, os reis entregaram várias terras a um único tenente ou
administrador por parte da Coroa. Em todos os casos, as terras compreendiam um
ou mais julgados. Para fins religiosos, os bispados faziam as vezes de grandes
unidades administrativas. A unidade religiosa mais pequena chamava-se paróquia
ou freguesia. A freguesia surgira como substituta do antigo paço rural,
sempre que o seu senhor, nos casos em que sobreviveu, deixara de constituir a
fonte de protecção eficaz e o símbolo da riqueza e da autoridade junto da
população de cada villa. Em vez dele, foi o Padre da Paróquia (ou o abade do mosteiro) que
se tornou o chefe respeitado de muitas comunidades, aquele, cuja influência
jamais diminuiu. A sua área de acção coincidia com a antiga villa, herdando
dela a tradição unificadora, Não admira, pois, que o termo tradutor da
realidade religiosa, fregueses filigreses filhos da igreja, persistisse como
sinónimo da nova realidade político-social. A administração central pertencia
ao rei e seus conselheiros, alguns dos quais com cargos bem determinados: a
chefia do exército (alferes-mor),
a chefia da casa real (mordomo)
e a detenção do selo real (chanceler).
Antes dos começos do século XIII não existia qualquer registo centralizado
dos actos reais, que se conservavam juntamente com o selo e as outras insígnias
do poder. Datam igualmente daquele monarca as primeiras leis gerais. Favoritos régios,
funcionários e membros da família real formavam um pequeno grupo de pessoas que
o rei frequentemente convocava e escutava. Era a sua Cúria ou conselho. Quando
havia assuntos mais importantes a requererem debate generalizado, o rei chamava
então um grupo mais amplo de pessoas, incluindo a totalidade dos arcebispos e
bispos, os principais abades, os chefes da nobreza e os mais respeitados entre
ela, os mestres das ordens militares, etc. Foi dessas convocações que derivou o
princípio de Assembleia foi parlamento do reino (cortes). A Cúria real funcionava
também como tribunal. A Sul do vale do Mondego, continuava a existir a civilização
muçulmana, já velha de três séculos. A fronteira tinha sido deslocada para o
Tejo, com a única excepção de Évora, que permaneceu cristã no meio de um
deserto muçulmano. A Reconquista prosseguiria só muito mais tarde, quando o
poderio dos Almóhadas declinava visivelmente». In Ana Santos Leitão, Arez da
Idade Média à Idade Moderna, Tese de Mestrado, Edições Colibri, Centro de
História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013, CM de Nisa.
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