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A
Igreja não é o Vaticanismo
«(…)
Este plano universal de Deus para a salvação do género humano não se concretiza
apenas numa forma, por assim dizer secreta, na mente dos homens, que procuram Deus
de modo vário no esforço de o atingir, talvez às apalpadelas, e de encontrá-lo,
embora não esteja longe de cada um de nós..., iniciativas que podem constituir sempre
um encaminhamento pedagogicamente válido para o verdadeiro Deus ou preparação para
a mensagem do Evangelho. Assim diz o Vaticano II. Pelo contrário, os padres do
Ocidente deixaram-se condicionar bastante pela escultural definição agostiniana
que inexoravelmente estabelecia: Extra Ecclesiam nulla salus, fora da Igreja
não há salvação, asserção teologicamente válida mas não exclusivamente única. O
axioma tornou-se dogma insubstituível para todos os tempos e a razão pela qual os
nossos teólogos latinos, com vista a conseguir salvar os outros quatro biliões de
não baptizados, recorreram ao expediente do baptismo de desejo que os tornaria inconscientemente
cristãos. No Ocidente recorre-se a isto para salvar o conceito, teologicamente incompleto,
de que sem a Igreja, contentora de Deus e dos homens, não nos salvamos. Jesus, quando
pensou fundar a sua Igreja, por exemplo, quando prometeu a Pedro conferir-lhe o
primado sobre ela (Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; a ti
enquanto responsável máximo, darei as chaves do edifício do Reino dos céus; tudo
o que ligares e desligares dentro e nos lados poligonais desta construção social,
pelos séculos, tudo será confirmado pelo meu Pai que está nos céus, certamente que
a imaginou construída sobre uma rocha única e compacta, referindo-se a uma figura
geométrica poligonal precisa, sobre cujo vértice faria sentar Pedro, Seu Vigário.
Na Sua
memória estava a recordação de infância daquelas maravilhosas pirâmides que continuarão
a desafiar os séculos futuros, cuja figura geométrica, segundo a teoria de Luís
Alvarez, prémio Nobel, era e é um poderoso acumulador cósmico de energia unitiva
e coesivo, característica já conhecida dos antigos egípcios e persas. Jesus, emigrante
no Egipto desde os primeiros anos da sua meninice, antes de voltar para Nazaré terá
sido levado por São José e Sua Mãe a ver as gigantescas e fmosas pirâmides dos faraós,
meta de turismo internacional até hoje. Como acontece com todas as crianças, também
na criança Jesus, homem e Deus, terá ficado indelevelmente gravada, na Sua mente
e na Sua memória, aquela maravilha. pensando em comunicar aos outros homens, sob
forma plástica, a ideia da Sua Igreja instituenda, terá encontrado naquela forma
geométrica das pirâmides a melhor referência para a Sua obra divina em razão de
ser também plasticamente expressão de unidade e de coesão de toda a família humana.
A Igreja,
em forma de pirâmide, respondia melhor aos traços que Cristo lhe conferia através
do Espírito Santo, sintetizados nas características, todas elas essenciais, de una
santa, católica e apostólica. É uma hipótese que poderá ser mais ou menos compartilhada.
Certo é que a organização da Igreja de Jesus é, sociologicamente, em pirâmide: o
papa indissociavelmente unido aos bispos, aos sacerdotes e aos fiéis; separá-los
em blocos seria forçar a sua natureza, isto é, desvirtuá-la. A Igreja é, pois,
uma estrutura viva, essencialmente una e indivisível. Foi este o magnífico papel
dos padres da Igreja e da Idade Média cristã,
de que às maravilhosas catedrais foram exemplos plásticos. Para as erguer,
recortadas nas alturas, contribuíram o engenheiro, o técnico, o pintor, o escultor,
os artistas das artes murais, os geólogos, os físicos, os doutores em teologia,
os sacerdotes, a hierarquia, a fé do povo, a arte dos poetas, a arte dos
músicos, as preces dos santos, numa amálgama harmoniosa e compacta. Desde então
até aos nossos dias, o louvor e a glória à unidade e à trindade de Deus criador
são constantes. De resto, também o mistério da Santíssima Trindade se refere à figura
geométrica de um triângulo equilátero, geralmente piramidal». In I
Millenari, Via col vento in Vaticano, Kaos Edizioni, 1999, O Vaticano contra
Cristo, tradução de José A. Neto, Religiões, Casa das Letras, 2005, ISBN
972-46-1170-1.
Cortesia Casa das
Letras/JDACT