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Asfalto
«[…]
«A cidade
está deitada nas colinas
venho
a olhá-la desde a Outra Bandalá dentro há casas sem varanda
angustia o drama de lutas intestinas
O medo
tem olhos virados em cada esquina
o desespero
a cara destas ruas amarelascom vendedores harmónica bombas de gasolina
e uma pensão Austrália escrita nas paredes amarelas
Apetece
arrancar o asfalto
para
apalpar a terraNem que estejas a mascar de fome
fala como quem come
Se te
destapam a fraqueza
que
morde na barrigase te ouvem o dente
que falsamente rilha
ensaiam uma festa
poem-te uma cilha»
Café
no Campo Grande
«A árvore
acompanhadao automóvel com gente
na almofada
Um homem
está só
Olha
pela vidraça
toma
cafémúsica e a chuva
que cai na praça
Está
como um café
dentro
da chávena das coisas
Rapariga
alta caminhava
e
pelas pernas novasventos ou lagartos
remoinhavam em secretas covas
baixando levantando as saias
os cabelos tirados dum ramo de maias
enquanto nas esquinas dos balcões
escarvavam rinchavam
ocultos garanhões»
Poemas de António Borges Coelho, in “Ao rés da terra”
In Editorial
Caminho, 2001-2002, ISBN 972-211-454-9.