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Uma
chamada de atenção do papa Negro ao papa Branco
«(…)
Contudo, é muito mais do que isso: trata-se de uma clara chamada de atenção do papa
negro ao papa de Roma. O que mais me impressiona, quando falo com eles, é o
seu sincero e profundo amor para com a Igreja e para com o Santo Padre e também
o seu compromisso em fazer algo que possa influenciar naquilo que consideram
uma grave crise na Igreja. E dois parágrafos mais abaixo: partilho as
preocupações do senhor e da senhora Brenninkmeijer. De facto, este é o
principal ponto de inflexão. Tanto a carta de Nicolás como a carta escrita
pelos Brenninkmeijer constituem uma clara acusação contra a cúria do Vaticano, em
particular, e contra a hierarquia católica no geral. No texto que dirigiram ao papa,
os Brenninkmeijer denunciam o papel do dinheiro em muitos departamentos da
Igreja e fazem uma crítica aberta ao Conselho Pontifício para a Família, o qual
acusam de se servir de colaboradores demasiado ingénuos e acríticos, em vez de empregar
pessoas que possam e queiram agir no sentido determinado pelo Concílio Vaticano
II. Depois de um comentário sincero sobre a grande quantidade de crentes europeus
cultos que abandonam a Igreja, embora não abandonem a sua fé, Huber e Aldegonde
Brenninkmeijer concentrarem o seu ataque no jovem arcebispo de Utreque, Willem
Jacobus Eijk. Os leigos rotulam no de conservador, tanto no campo teológico litúrgico
como no da moral. Eijk tornara-se famoso na Holanda devido às suas declarações
explosivas sobre a homossexualidade, o consumo de drogas, a união de facto, a
manipulação genética ou a eutanásia (monsenhor Eijk baseara a sua tese de
doutoramento em Medicina e Filosofia nestes últimos dois aspectos).
As
cartas de Adolfo Nicolás e do casal Brenninkmeijer foram recebidas em meados de
Novembro, mesmo na altura em que se começavam a definir os nomes dos bispos que
seriam elevados ao grau de cardeal no consistório de 18 de Fevereiro do ano
seguinte. Nessa lista constava o nome de Eijk. Ao que parece, segundo alguns
vaticanistas, a única coisa que estas cartas conseguiram foi reforçar e posição
de Ratzinger no que dizia respeito ao seu apoio ao conservador monsenhor Willem
Jacobus Eijk. De facto, fazendo caso omisso dos dois escritos, Bento XVI entregou
o barrete cardinalício a Eijk, confirmou-o como membro da Congregação para o Clero
e, como se isso não bastasse, nomeou-o membro da importante Congregação para a
Educação Católica. Talvez. Bento XVI tivesse visto na carta do geral dos jesuítas
uma clara interferência na sua liderança. Certo é que, apesar dos conselhos de
Nicolás e do casal Brenninkmeijer, o papa reforçou a posição dos conservadores
numa sede como a de Utreque. Sua Eminência o cardeal Eijk, fiel seguidor do cardeal
Bertone, representa o que já muitos definiram como a juventude neoconservadora
entre os mais antigos membros da cúria e do Sacro Colégio Cardinalício». In
Eric Frattini, Os Abutres do Vaticano, 2012, tradução de Pedro Carvalho,
Bertrand Editora, Lisboa, 2013, ISBN 978-972-252-598-5.
Cortesia de
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