Cortesia
de wikipedia e jdact
Jerusalém
«(…)
Maureen acenou com o guia, embaraçada. Estou procurando a Oitava Estação. O
mapa mostra... Mahmoud descartou o livro, com uma risada. A Oitava Estação.
Jesus se encontra com as mulheres santas de Jerusalém. Fica aqui perto, logo
depois da esquina. Ele apontou. O local é assinalado por uma cruz bem em cima
do muro de pedra, mas tem de olhar com muito cuidado. Mahmoud fitou Maureen
atentamente por um momento, antes de acrescentar: é como tudo em Jerusalém. Tem
de olhar com muita atenção para ver o que é. Maureen observou seus gestos, até
ter a certeza de que compreendia a orientação. Sorriu, agradeceu e virou-se
para sair. Mas parou de repente, quando alguma coisa numa prateleira próxima
atraiu sua atenção. A loja de Mahmoud era um dos estabelecimentos mais
sofisticados de Jerusalém. Vendia antiguidades autenticadas, como lampiões do
tempo de Cristo ou moedas com a efígie de Pôncio Pilatos. Um delicado
tremeluzir de cores passando pela vitrine deixou-a fascinada. São jóias feitas
com fragmentos de vidros romanos explicou Mahmoud, enquanto Maureen se
aproximava de um mostruário com jóias de prata e ouro com mosaicos coloridos. São
deslumbrantes, murmurou Maureen. Ela pegou um pendant de prata. Prismas de cor projectaram-se pela sala,
enquanto ela suspendia a jóia para a luz, iluminando a sua imaginação de
escritora. Qual seria a história que este pedaço de vidro poderia contar? Quem
sabe o que foi outrora? Mahmoud encolheu os ombros. Um vidro de perfume? Um
pote de especiarias? Um vaso para rosas ou lírios?
É
espantoso pensar que há dois mil anos era um objecto do quotidiano na casa de
alguém. Uma perspectiva fascinante. Maureen resolveu examinar mais atentamente
a loja e as coisas que oferecia. Ficou impressionada com a qualidade dos itens
e a beleza dos mostruários. Isto tem mesmo dois mil anos? Claro. E algumas das
outras peças à venda são ainda mais antigas. Maureen balançou a cabeça. Antiguidades
como estas não deveriam pertencer a um museu? Mahmoud riu, um som exuberante e
efusivo. Minha cara, a cidade de Jerusalém inteira é um museu. Não se pode
abrir um buraco no seu jardim sem encontrar alguma coisa muito antiga. A maior
parte dos objectos valiosos vai para colecções importantes. Mas nem tudo. Maureen
foi até um balcão de vidro, onde havia jóias antigas de cobre marchetado e
oxidado. Sua atenção foi atraída por um anel com um disco do tamanho de uma
moeda pequena. Mahmoud acompanhou o seu olhar, tirou o anel do mostruário e o
estendeu para ela. Um raio de sol, passando pela vitrine, incidiu sobre a peça
e, iluminando a sua base redonda, realçou um padrão de nove pontos em torno de
um círculo central.
Uma
escolha muito interessante, comentou Mahmoud. A sua atitude jovial mudara.
Estava agora intenso e sério, observando Maureen atentamente, enquanto ela o
interrogava a respeito do anel. Quão antigo é este anel? É difícil dizer. Meus
peritos dizem que era bizantino, provavelmente do século VI ou VII, talvez mais antigo. Maureen
examinou o padrão dos círculos. Este padrão parece..., familiar. Tenho a
impressão de que já o vi antes. Sabe se simboliza alguma coisa? A intensidade
de Mahmoud relaxou. Não posso dizer com certeza o que um artesão pretendia
criar há mil e quinhentos anos. Mas me garantiram que era o anel de um cosmólogo.
Um cosmólogo? Alguém que compreende a relação entre a Terra e o cosmo. Como
acima é abaixo. E devo dizer que me lembrou, na primeira vez em que o vi, dos
planetas girando em torno do sol. Maureen contou os pontos em voz alta. ...sete,
oito, nove. Mas não podiam saber que havia nove planetas naquele tempo ou que o
sol era o centro do sistema solar. Isto não é possível, não é mesmo? Não
podemos presumir que sabemos o que os antigos percebiam. Mahmoud encolheu os ombros.
Experimente o anel. Maureen, notando subitamente a conversa de um vendedor, devolveu
o anel. Não, obrigada. É muito bonito, mas eu estava apenas curiosa. E prometi
a mim mesma que não gastaria dinheiro hoje. Não tem problema. Mahmoud
recusou-se a pegar o anel de volta, numa atitude firme. Porque o anel não está
à venda. Não? Não. Muitas pessoas já quiseram comprar esse anel. Eu me recuso a
vendê-lo. Sinta-se à vontade para experimentar. Apenas por diversão». In
Kathleen McGowan, O Segredo do Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN 853-252-096-0.
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