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O
Sonho de Marisa
«(…)
Movendo-se muito ligeiramente, com o coração agitadíssimo, simulando uma
respiração que se parecesse com a do sono, virou-se um pouco de lado, de modo
que, mesmo não lhe tocando, sentiu que agora sim, estava apenas a milímetros das
costas, das nádegas e das pernas de Chabela. Ouvia melhor a respiração dela e
julgava sentir um bafo recôndito que emanava daquele corpo tão próximo, chegava
até ela e a envolvia. Apesar de tudo, como se não se apercebesse do que fazia,
moveu muito lentamente a mão direita e poisou-a sobre a coxa da sua amiga. Bendito
toque de recolher, pensou. Sentiu que o seu coração se acelerava: Chabela ia
acordar, ia retirar-lhe a mão: afasta-te, não me toques, estás maluca? O que é
que te deu? Mas Chabela não se mexia e parecia sempre mergulhada num sono
profundo. Sentiu-a inspirar e expirar, teve a impressão de que aquele ar vinha
na sua direcção, entrava-lhe pelas narinas e pela boca e lhe aquecia as
entranhas. Por momentos, no meio da sua excitação, que absurdo!, pensava no
toque de recolher, nos apagões, nos sequestros, sobretudo o de Cachito, e nas
bombas dos terroristas. Que país, que país!
Sob
a sua mão, a superfície daquela coxa era firme e suave, ligeiramente húmida,
talvez devido à transpiração ou a algum creme. Será que Chabela tinha posto
antes de se deitar algum dos cremes que Marisa tinha na casa de banho? Ela não
a vira despir-se; emprestou-lhe uma camisa de dormir das suas, muito curta, e
ela tinha-se mudado no quarto de vestir. Quando voltou ao quarto, Chabela já a
trazia vestida; era semitransparente, deixava-lhe os braços, as pernas e um
pouco da nádega despidos, e Marisa recordava ter pensado: que corpo bonito,
como está bem conservada apesar das duas filhas, são as idas ao ginásio três
vezes por semana. Tinha continuado a mover-se milimetricamente, sempre com o
receio crescente de acordar a amiga; agora, aterrada e feliz, sentia que, por
momentos, ao ritmo da sua respectiva respiração, partes da coxa, nádega, das
pernas de ambas se roçavam e, logo a seguir, se afastavam. Ainda acaba por
acordar, Marisa, estás a fazer uma loucura. Mas não retrocedia e continuava a
esperar, o que é que esperava?, como que em transe, o próximo toque fugaz. A
sua mão direita continuava pousada na coxa de Chabela, e Marisa apercebeu-se de
que tinha começado a transpirar. Nisto, a sua amiga mexeu-se. Julgou que o seu
coração ia parar. Por uns segundos deixou de respirar; fechou os olhos com
força, simulando dormir. Chabela, sem se mover do sítio, tinha levantado o
braço e agora Marisa sentiu que sobre a sua mão apoiada na coxa dela se poisava
a mão de Chabela. Retirar-lha-ia bruscamente? Não, pelo contrário, com
suavidade, dir-se-ia até que com carinho, Chabela, entrecruzando os seus dedos
nos dela, arrastava. agora a mão com uma leve pressão, sempre colada à pele,
para o meio das suas pernas. Marisa nem acreditava no que estava a acontecer.
Sentia nos dedos da mão que Chabela agarrava os pêlos de um púbis ligeiramente
levantado e a concavidade molhada, palpitante, contra a qual ela a pressionava.
Tremendo
dos pés à cabeça, Marisa pôs-se de 1ado, encostou os seios, o ventre, as pernas
contra as costas, às nádegas e pernas da amiga, ao mesmo tempo que com os seus
cinco dedos lhe esfregava o sexo, tentando localizar o pequeno clí…,
esgravatando, separando aqueles lábios molhados do seu sexo inchado pela
ansiedade, sempre guiada pela mão de Chabela, a quem também sentia a tremer,
acoplando-se ao seu corpo, ajudando-a a enredar-se e a fundir-se com ela». In
Mario Vargas Llosa, Cinco Esquinas, Quetzal Editores, Lisboa, 2016, ISBN
978-989-722-288-7.
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