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«Completaram-se, no pp ano de 2001, dois
séculos sobre a Guerra das Laranjas, onde de novo Portugal e Espanha se
enfrentaram. Desta vez, o conflito teve uma origem exterior à Península, e foi motivado
pela política expansionista da França, de quem a Espanha era aliada desde a celebração
do Tratado de Santo Ildefonso, em 1796. O objectivo de privar a Grã-Bretanha do
seu mais fiel apoio no Continente, Portugal, levava as autoridades francesas a pressionar
o governo espanhol, no sentido de uma intervenção que obrigasse o nosso país a romper
com a aliança inglesa, o que só aconteceu em 1801, depois de numerosas vicissitudes.
Para assinalar tal efeméride,
publicamos o quarto estudo monográfico que dedicamos àquela campanha, depois
dos que tiveram como tema os combates de Arronches e de Flor da Rosa na invasão
de Portugal, em 1801. O cerco de Campo Maior constitui uma excepção no quadro das
operações ocorridas nesse breve conflito, onde o desempenho das tropas portuguesas
deixou muito a desejar, seja pela incompetência dos comandos, pela má
preparação e motivação dos soldados e pela deficientíssima logística. Bem
vistas as coisas, os resultados podiam ter sido muito piores…
No entanto, aquele triste panorama
foi amenizado por três elementos positivos. O primeiro foi a resistência da Praça
de Elvas, se bem que as operações militares em seu redor fossem escassas; o segundo
foi a fortaleza de Marvão, que repeliu no dia 3 de Junho uma tentativa de assalto
por parte de forças da Divisão de Vanguarda, e manteve fogo durante 14 horas, obrigando
os assaltantes a retirar; o terceiro foi a defesa de Campo Maior. Sobre este episódio
existem alguns estudo, que utilizámos, bem como abundante documentação inédita,
tanto portuguesa como espanhola. A resistência daquela praça, cujo governador
era o tenente coronel de engenheiros, Matias José Dias Azedo, foi uma acção
militar que permitiu salvar a dignidade de Portugal e do seu exército.
O Posicionamento das tropas espanholas
A declaração de guerra da Espanha
a Portugal foi feita a 27 de Fevereiro de 1801 e as hostilidades iniciaram-se três
meses depois. Manuel Godoy, nas suas memórias, descreve esse momento: a 20 de Maio,
marcado para a marcha, entrou o exército em Portugal com um aparato solene e bateu
o campo, afugentando os inimigos, encerando em Elvas e Campo Maior as
guarnições destas praças, e tomando na sua largura as posições convenientes para
assediar ambas as fortalezas.
A Divisão de Vanguarda, comandada
pelo marechal de campo, marquês de Solana, que estava concentrada em Santa
Engrácia, junto ao Xévora, tomou posições junto a Elvas, onde se registaram
recontros esporádicos com as tropas portuguesas. O brigadeiro José Urbina intimou
o Governador de Elvas, Francisco Xavier Noronha, para que se rendesse, mas este
recusou firmemente tal exigência, confiante na inexpugnabilidade das suas fortificações
e nos 9 000 homens de linha e milícias que as guarneciam. A mesma Divisão dirigiu-se
depois para Campo Maior e dali para S. Vicente, que ocupou, encaminhando-se
para Barbacena e Monforte. Desta localidade marchou sobre Arronches, onde, a 29
do mesmo mês de Maio, travou combate com forças portuguesas comandadas pelo coronel
José Cárcome Lobo, as quais foram completamente derrotadas.
A 1.ª Divisão, comandada pelo tenente
general Diego Godoy, irmão do Príncipe da Paz, igualmente acampada em Santa Engrácia,
atravessou a fronteira no mesmo dia 20 de Maio e tomou posições junto a Elvas,
cortando as ligações com Campo Maior. Dirigiu-se depois para S. Vicente e Barbacena,
apertando o cerco a Elvas; um destacamento rumou a sul, entrando mais tarde em Borba
e em Vila Viçosa». In António Ventura, O Cerco de Campo Maior em 1801, Edições Colibri, Centro
de Estudos Documentais do Alentejo, 2001, ISBN 972-772-270-9.
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