quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

João II no 31. Crónica Esquecida. Seomara Veiga Ferreira. «E havia ainda a legislação sobre os rendimentos e minas de ouro, pois era necessário um forte plano material de apoio ao grande esquema de expansão que começava a germinar…»

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O Homem de Alexandria e a Pedra Filosofal
«(…) As conquistas ao longo da costa, fruto da expansão portuguesa, iam de Ceuta e Tânger até ao Cabo de Santa Catarina. Tudo os navegadores portugueses tinham ultrapassado: o Cabo Não, o Bojador, o Branco, St.ª Ana, Mesurado, Palmas, Formoso, as Ilhas de Fernando Pó, São Tomé e Príncipe, Ano Bom... Abravanel, Isaac, tinha trinta e sete anos e governava as finanças, residindo numa bela casa apalaçada perto da do duque de Bragança, por cima da rua a norte do Picadeiro. Foi por ele que soubemos que as coisas iam mal por Castela e a irmã do Rei não conseguia o apoio desejado, do ponto de vista político e militar, para as suas justas pretensões. Antes disso, o Príncipe e o Rei ocupavam-se da construção naval e das leis que permitiam a continuidade desse trabalho. E havia ainda a legislação sobre os rendimentos e minas de ouro, pois era necessário um forte plano material de apoio ao grande esquema de expansão que começava a germinar na fronte do Príncipe que continuava, mas agora dentro de um plano de concepção imperial, as conquistas e dilatação da fé, perpetradas pelo tio-avô Henrique. João reunia médicos, físicos, matemáticos, cosmógrafos, astrólogos, estes todos judeus, como mestre Moisés, José Vecino ou Vizinho, Rodrigo. Mestre José estudara em Salamanca com o rabi Zacuto... Um ano antes de João tomar conta do projecto já Abraão Zacuto escrevia o Almanaque Perpétuo. João escreve para Itália, para a Alemanha. Quer saber em pormenor as teorias de Toscaneili... Mas o Príncipe sabia mais que ele. Os Portugueses têm um conhecimento profundo do Oceano até onde o desbravaram e João resolve não ir mais para Ocidente, mas procurar contornar a África, ir devagar mas com certezas, sem cair em aventuras que custam caro e, quantas vezes!, se tornam irremediáveis! Só que Afonso, seu pai, estava muito perto de o arrastar e ao Reino para longe do Oceano, para Castela, para um desastre que, se não fosse a argúcia do herdeiro do trono, teria sido incomensurável, apesar do jovem o ter apoiado no Conselho.
O ano de 1474 manifestou-se pouco fértil em acontecimentos. Não fora a decisão das Cortes reunidas em Coimbra determinar que os corregedores entrassem nas terras dos nobres e o marquês de Montemor demover o Rei de tal decisão, e as mortes em Dezembro, de Henrique IV em Madrid e ainda, pouco antes, a de um amigo do tio Gil, e com certo escândalo que a opinião popular levantou, pois frei João Sobrinho, carmelita, de cuja ordem foii Provincial, morreu e, dizia-se, envenenado por judeus. Frei João morreu velho, fora mestre de El Rei Duarte I e bebera uma mistela qualquer para sobreviver..., o que não resultou como sucede muitas vezes. Apenas isso.
Com a morte de Henrique IV em 1474 e da Rainha morena em Junho de 1475, as coisas toldaram-se por Castela e por cá. Dona Joana, a bela Rainha morena, viera à Guarda pedir auxílio ao irmão, mas este não ligara importância, só que agora reunia o Conselho. Tinha de ajudar a sobrinha, dona Joana, também, pobre jovem indefesa, a quem os partidários da tia Isabel, casada com Fernando de Aragão, irmã do pai, chamavam, a Beltraneja, ignominiosamente. Ora essa tia Isabel, jovem ainda, de fraco queixo, feiota mas inteligente, que casara com o primo de Aragão, Fernando, que era um marrano de sangue real, descendente de uma avó judia, intitulava-se Rainha de Castela... O que se passara entretanto?» In Seomara Luzia da Veiga Ferreira, Crónica Esquecida d’el rei João II, Editorial Presença, Lisboa 1995, 4ª edição, Lisboa 2002, ISBN 972-23-1942-6.

Cortesia de EPresença/JDACT