«(…) Alguém poderia pensar que Maman estava privada do
gozo mais pessoal de tal prazer, mas não era assim. Os clientes de sua casa
consideravam-na apetitosa e conheciam suas virtudes e vantagens sobre as demais
mulheres. Maman sabia
produzir um suco verdadeiramente delicioso para os banquetes do amor, que a
maioria das mulheres tinha que fabricar artificialmente. Maman sabia dar ao homem a ilusão
completa de uma refeição suculenta, algo muito macio para os dentes e húmido o suficiente
para satisfazer a sede de qualquer um. Os clientes muitas vezes conversavam
entre si sobre os saborosos molhos nos quais Maman sabia como envolver os seus petiscos rosados como concha,
o retesamento de suas oferendas, que lembrava o couro de um tambor. A pessoa
podia dar uma ou duas pancadinhas na concha redonda, era o suficiente. O
aromatizante delicioso de Maman aparecia,
algo que suas meninas raramente conseguiam produzir, um mel que tinha odor de
conchas do mar e tornava a passagem para dentro da alcova feminina no meio de
suas pernas um deleite para o visitante masculino. O basco gostava dali. Era
emoliente, saturante, cálido e aprazível, um banquete. Para Maman, era um dia festivo, e ela dava
o máximo de si. O basco sabia que ela não precisava de uma preparação longa. O
dia inteiro Maman havia
se nutrido com as expedições dos olhos, que jamais deslocavam-se para cima ou
para baixo do corpo de um homem. Estavam sempre no nível da abertura das calças.
Ela apreciava as amarrotadas, fechadas muito às pressas depois de uma rápida
sessão. As bem-passadas, ainda não amassadas. As manchas, oh!, as manchas do
amor! Manchas estranhas, que ela podia detectar como se carregasse uma lente de
aumento. Ali onde as calças não haviam sido arriadas o bastante, ou onde o pén…,
nas suas movimentações, havia retornado ao lugar natural no momento errado, ali
jazia uma mancha preciosa, pois tinha minúsculas partículas cintilantes, como
um mineral que houvesse derretido, e uma qualidade açucarada que engrossava os
tecidos. Uma bela mancha, a mancha do desejo, ali borrifada como perfume pela
fonte de um homem, ou colada por uma mulher muito ardorosa e aderente. Maman gostaria de começar onde
um acto já havia ocorrido. Era sensível ao contágio. A manchinha a fazia ferver
no meio das pernas enquanto andava. Um botão solto fazia com que ela sentisse o
homem à sua mercê. Às vezes, em grandes multidões, ela tinha coragem de ir em
busca e tocar. A sua mão movia-se como a de um ladrão, com incrível agilidade.
Jamais era desajeitada ou tocava o lugar errado, mas ia directo ao lugar abaixo
do cinto onde repousavam macias proeminências roliças e às vezes,
inesperadamente, um bastão insolente. No metropolitano, em noites escuras,
chuvosas, nos bulevares apinhados ou nos salões de baile, Maman deleitava-se em avaliar
e chamar às armas. Quantas vezes o chamado era respondido, e as armas
apresentadas à passagem de sua mão! Ela gostaria de ter um exército parado em
formação daquele modo, apresentando as únicas armas que podiam conquistá-la. Em
seus devaneios ela via esse exército. Ela era a general, marchando,
condecorando os compridos, os bonitos, fazendo uma pausa diante de cada homem
que admirava. Oh, ser Catarina, a Grande, e recompensar o espectáculo com um beijo de sua boca ávida, um beijo bem na ponta, apenas
para extrair a primeira lágrima de prazer! A maior aventura de Maman fora um desfile dos
soldados escoceses em certa manhã de Primavera. Enquanto bebia no bar, ela
ouviu uma conversa sobre os escoceses. Um homem disse: eles pegam os jovens e
os treinam para andar daquela maneira. É um passo especial. Difícil, muito difícil.
Há um coupe de fesse, um
balanço, que faz os quadris e aquela bolsinha que usam na frente do saiote
balançar de um jeito certo. Se a bolsa não balança, é uma falha. O passo é mais
complicado que os de um bailarino. Maman
ficou pensando: cada vez que a bolsa balança e o saiote balança, os
outros pendentes também devem balançar, ora essa. E o seu velho coração
emocionou-se. Balanço. Balanço. Todos no mesmo compasso. Aquele era o exército
ideal. Ela gostaria de acompanhar um exército daqueles em qualquer posição. Um,
dois, três. Ela já estava emocionada o bastante com o balanço dos pendentes, quando
o homem do bar acrescentou: e você sabe, eles não usam nada por baixo. Não
usavam nada por baixo! Aqueles homens robustos, homens tão empertigados,
vigorosos! Cabeças erguidas, pernas fortes nuas e saiotes, aquilo os deixava
vulneráveis como uma mulher, ora». In Anais Nin, A Fugitiva, L&PM Pocket, Brasil,
2012, ISBN 978-852-542-654-3.
Cortesia de L&PM/JDACT