domingo, 18 de março de 2018

A Cidade Perdida. James Rollins. «Bem dentro da Galeria Kensington, numa das salas mais distantes, um brilho azulado errava lentamente, alterando as sombras à sua passagem»


Cortesia de wikipedia e jdact

The British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) Alcançou as portas de acesso à ala norte e mergulhou no interior, acolhido pela familiar mistura de mofo e amoníaco. Estava grato por ter de novo paredes sólidas à sua volta. Moveu a lanterna pela longa sala. Nada parecia errado, mas era-lhe exigido verificar cada uma das galerias da ala. Fez um cálculo rápido. Se se apressasse, poderia completar o circuito com tempo suficiente para outro cigarro rápido. Com a promessa de uma reparação de nicotina a tentá-lo, começou a percorrer a sala, o feixe da lanterna a precedê-lo. A ala norte expunha a colecção de aniversário do museu, uma colecção etnográfica, retraçando um quadro completo das realizações humanas através das eras, abrangendo todas as culturas. Como a Galeria Egípcia com as suas múmias e sarcófagos. Prosseguiu apressadamente, assinalando as diversas galerias culturais: céltica, bizantina, russa, chinesa. Cada série de salas estava encerrada por um portão de segurança. Com a falha de energia, os portões tinham descido automaticamente. Por fim, o outro extremo da sala surgiu à vista. A maior parte das colecções das galerias estava ali exposta apenas temporariamente, transferida do Museum of Mankind para a celebração do aniversário. Mas a última galeria sempre ali estivera, pelo que Harry se conseguia lembrar. Ela abrigava a exposição árabe do museu, uma inestimável colecção de antiguidades vindas da Península Arábica. A galeria fora comissionada e paga por uma única família, que enriquecera graças a temerários empreendimentos petrolíferos nessa região. Os donativos para manter tal galeria com exposição permanente no British Museum deverão exceder os cinco milhões de libras por ano.
Impunha-se respeitar semelhante tipo de dedicação. Ou não. Com um resfolego de desdém perante tal desperdício insano de bom dinheiro, Harry fez deslizar o foco da lanterna pela placa de latão gravada por cima da entrada: Galeria Kensington. Também conhecida como O Sótão da Megera. Embora Harry nunca tivesse encontrado lady Kensington, pelas conversas entre funcionários era claro que qualquer descuido em relação à sua galeria, marcas de pó num armário, uma ficha de exposição com manchas, um objecto antigo não correctamente posicionado, seria severamente penalizado. A galeria era o seu projecto de estimação pessoal e ninguém resistia à sua ira. Perderam-se empregos na sua sequência, incluindo o de um anterior director. Foi essa preocupação que manteve Harry por mais alguns momentos no seu posto do lado de fora do portão de segurança da galeria. Fez deslizar a lanterna em volta da sala de entrada com mais do que cuidado casual. Contudo, também aí tudo estava em ordem. Quando se afastava, desviando a lanterna, um movimento atraiu o seu olhar. Estacou, o foco apontando para o chão. Bem dentro da Galeria Kensington, numa das salas mais distantes, um brilho azulado errava lentamente, alterando as sombras à sua passagem. Outra lanterna..., estava alguém na galeria... Harry sentiu o bater do coração na garganta. Uma intrusão. Encostou-se à parede próxima. Os seus dedos procuraram atabalhoadamente o transmissor de rádio. Através das paredes, os trovões reverberavam, sonoros e profundos. Matraqueou o rádio. Tenho um possível intruso aqui na ala norte. Aguardo instruções. Esperou que o chefe do turno respondesse. Gene Johnson podia ser um pulha, mas era também um ex-oficial da RAF. Ele sabia do ofício». In James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand Editora, 2015, ISBN 978-972-252-930-3.

Cortesia de BEditora/JDACT