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A
filiação da Ordem de Avis em Calatrava. Visita de 1346
«(…)
Assim sendo, a posição de Cocheril, segundo a qual, apesar de uma anterior filiação em Calatrava, a
dependência de Avis relativamente a Calatrava apenas se efectivou em 1236
(porque só então o mestre se intitula magíster
ordinis Calatravensis in Portugalia, deve ser revista. Com
efeito, a filiação dos freires de Évora em Calatrava implicou desde logo, como
não poderia deixar de ser, uma efectiva dependência da milícia portuguesa na
castelhana. E embora a documentação régia nos leve a pensar que essa
dependência nunca existiu, porque os monarcas referem tudo ao Mestre e freires
de Évora e sua Ordem sem nunca mencionarem Calatrava, conforme constatou M.
Miguel Oliveira é mais ou menos constante a referência a esta nos actos
conservados no cartório de Avis, relativos aos seus primórdios. Ou seja, e como
veremos de seguida, a supremacia da ordem castelhana sobre a portuguesa não
terá sido apenas honorífica, como defendeu este autor.
As
visitas de Calatrava a Avis
Desde
o início que a vida dos freires de Évora se regeu pela Regra dada por Cister à
Ordem de Calatrava e pela qual integrara esta na organização cisterciense: ao
tornar-se filha da abadia de Morimond, Calatrava ficava, como outros
conventos da Ordem, sujeita à visita e correcção do seu abade. Do mesmo modo, a
partir do momento em que se dá a filiação em Calatrava, esta tem o papel de
abadia-mãe de Avis, com a consequente obrigação de a visitar e verificar o
exacto cumprimento do estipulado na Regra que Cister havia dado aos monges
guerreiros. Como tivemos já oportunidade de afirmar, documentação do cartório
de Avis atesta a presença em Portugal do mestre de Calatrava, ou de alguns dos seus
freires, no início do século XIII. Assim aconteceu em 1215, 1221, 1223, 1224 e
1225. Não podemos, contudo, saber se a sua vinda tinha algum objectivo
específico, quiçá estranho à própria milícia de Évora, ou mesmo afirmar que
estiveram presentes no capítulo da milícia portuguesa. Há muito que se conhecem
algumas destas visitas. Poucas, é certo, mas nem por isso menos reveladoras de
uma situação de dependência cujos contornos nem sempre são fáceis de
determinar. E apesar de o título desta comunicação apontar para a generalidade
das visitas, não nos parece que valha a pena dedicarmo-nos agora à análise das
que tiveram lugar em 1238 e em Março de 1342. É sabido que, em ambas, os
representantes de Calatrava estiveram presentes no convento de Avis, presidiram
aos capítulos em que foram eleitos os mestres e confirmaram-nos no cargo. Em
1342, e estando já eleito João Rodrigues Pimentel, o comendador de Maqueda,
comissário do mestre castelhano, visitando
a casa de Avis que he filha de Calatrava, lembra aos freires
portugueses as Definições [que
deviam] firmemente teer e aguardar. Uma outra visita, a
terceira documentalmente atestada, teve lugar em 1346, mas sendo há muito
conhecida, não foi nunca analisada em pormenor. Será sobre esta que nos
debruçaremos mais adiante. Muitas outras visitas terão ocorrido durante a Idade
Média, mas delas não nos ficou qualquer notícia no cartório de Avis. De facto,
a Ordem de Calatrava manteve os seus direitos, enquanto abadia-mãe, sobre a
milícia portuguesa até 1391, altura em que, devido ao Grande Cisma do Ocidente,
eles lhe são temporariamente retirados. Ao longo do século XV, Calatrava vai viver
entre duas situações antagónicas, no que diz respeito a Avis: se por um lado
havia recuperado o direito de visita em 1436 e, portanto, o mosteiro de Morimond
(de quem dependia) a exortasse a cumprir a sua obrigação relativamente às
Ordens-filhas, por outro, a Ordem de Avis ia conhecendo alterações profundas no
seu espírito e organização, não sendo por essa razão receptiva ao controlo por
parte da congénere castelhana. Daí que não seja de admirar que, no século XVI,
o capítulo geral de Calatrava ainda comissione cavaleiros para as visitas
regulares a Avis, que, provavelmente, nunca tiveram lugar». In Maria
Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de
Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.
Cortesia
da Faculdade de Letras do Porto/JDACT