Cortesia
de wikipedia e jdact
Nota: Comunicação
apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia,
realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987
«A
partir da segunda metade do século XIV, e principalmente durante todo o
século XV, Portugal conheceu, no dizer de Oliveira Marques, um considerável
surto urbana, em certa medida correspondente ao crescimento das cidades da
Europa Ocidental nos séculos XI a XIII. Este surto urbano, atestado desde a
segunda metade do século XIV pela construção de novas muralhas e consequente
alargamento da área urbanizada, e particularmente notório um século depois, graças
antes de mais ao inicio da recuperação demográfica e ao desenvolvimento do comércio
externo e inter-regional. É por esta altura que se começam a destacar as
cidades costeiras, voltadas sobretudo para o comércio marítimo internacional e
para todas as actividades com ele relacionadas: os exemplos mais significativos
serão, porventura, o Porto, Tavira e Setubal. No entanto, tal nem sempre
acontecera. Ate finais do reinado de Dinis I, as cidades do interior, viradas
para o comércio interno, para o comércio
com Castela, para a produção agro-pecuária e para a administração
eclesiástica e militar, achavam-se ainda bem situadas na hierarquia urbana.
Como exemplos ilustrativos desta situação podemos apontar os casos de Braga,
Bragança, Coimbra e Portalegre. Aliás deve referir-se que, durante o século
XIV, os principais centros do Pais, exceptuando Lisboa, localizavam-se no interior
(como Santarém, Évora, Coimbra, Braga).
A maioria destes núcleos
urbanos, em especial os centros transmontanos e as povoações beirãs, entrara
num acentuado processo de decadência com a deslocação dos interesses económicos
para as cidades costeiras,
no decurso do século XV. De qualquer modo, o surto do comércio externo com os
diversos reinos ao longo desta centúria, acompanhado pelo crescimento dos contactos comerciais com o reino vizinho,
testemunhado pelo movimento alfandegário e dos portos-secos evitou a
decadência completa de povoações como
Bragança, e confirmou, no panorama urbanístico nacional, a importância
dos centros alentejanos. Por seu turno, o Algarve irá beneficiar desta expansão
das actividades marítimas, assistindo-se, então, ao crescimento espectacular de
Tavira, Faro ou Lagos. Beneficiando de uma localização privilegiada, quer do
ponto de vista comercial, quer em termos militares, estes centros começam a opôr-se
à sede do bispado (Silves), tendo em vista a obtenção da supremacia regional.
No entanto, apesar do evidente progresso das vilas algarvias em relação à cidade
de Silves (em decadência devido ao assoreamento do rio Arade e aos surtos de
malária), a sede do bispado somente será transferida para Faro em 1577.
Deste modo, fica desenhado, em
traços muitos gerais, o quadro onde integraremos as povoações objecto do nosso
estudo: Olivença e Faro. Como vimos, enquadram-se em duas regiões que conhecem,
em termos urbanos, pelo menos desde o século XIV, uma fase de expansão, e que
têm, de resto, uma forte tradição urbanística, pois o Alentejo, especialmente a
parte oriental, e o Algarve, parecem ter mantido, desde a antiguidade, ininterrupta ou renovada, uma tradição urbana.
Todos conhecemos as dificuldades
de conseguir estimativas demográficas exactas para o período medieval. Também
neste caso não podemos determinar com segurança
qual
seria o quantitativo populacional de Olivença
e
Faro em 1464, ano em que o rei Afonso V autoriza
que se faça nelas um certo número de obras municipais. No entanto,
algumas informações conhecidas
poderão dar-nos uma ideia aproximada. Para Olivença,
o
rol dos besteiros do conto (de cerca de 1422), com as reservas que se impõem
neste tipo de indicações assinala 40 besteiros,
colocando-a ao mesmo nível do Porto, de Leiria, de Estremoz e de Mértola. Ainda
relativamente ao ano de 1422 um outro investigador refere que Olivença e
o seu termo deviam ter uma população aproximada de 8
500 pessoas.
O Itinerário de Fernando Colombo
(filho do descobridor da América) que no início do século XVI percorreu a vila,
indica 1500 vizinhos e observa ainda uma certa prosperidade económica. Esta
cifra deverá ser confrontada com a que
nos é fornecida pelo numeramento geral do Reino, de 1527 que nos
dá para Olivença 1053 fogos». In Amândio Barros, Alterações
urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV, mestrado
de História Medieval, FLUP, Comunicação apresentada às III Jornadas de História
Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro
de 1987.
Cortesia de FLUP/JDACT