A rainha Quenet-Kaus, um faraó
esquecido?
Quem era Quenet-Kaus?
«(…) Chepseskaf, o último rei da
quarta dinastia, e Quenet-Kaus, considerada a mãe dos dois primeiros faraós da
quinta dinastia, mandaram construir o mesmo e excepcional tipo de túmulo.
Chepseskaf abandonou o símbolo da pirâmide que podia ser avistada de longe, e o
mesmo fez Quenet-Kaus; os primeiros monarcas da quinta dinastia voltarão a
mandar edificar pirâmides na estação de Abusir, próxima de Sacara. Uma
suposição ousada: a existência deste túmulo-sarcófago, de um templo funerário,
a sua posição de fundadora de uma nova dinastia, o culto que lhe será prestado
depois da sua morte, não levam a crer que Quenet-Kaus ocupou a função suprema
no início da quinta dinastia, entre o desaparecimento de Chepseskaf e a subida
ao trono de Kserkal (cerca de 2500-2491 a.C.)? Os poderes criadores sobre os
quais esta mulher reinava eram talvez os seus sucessores, que ela havia preparado
para reinarem, quer tenha sido a sua mãe espiritual ou carnal, ou ambas. Infelizmente
é impossível saber mais, mas reconhece-se hoje unanimemente que Quenet-Kaus,
grande dama do Antigo Egipto, foi uma das duas figuras marcantes.
As Mulheres de Pépi II
Uma outra rainha faraó?
O faraó Pépi II (cerca de
2278-2184 a.C.) é a figura central da sexta dinastia: noventa e quatro anos à
frente do Egipto, ou seja, o mais longo reinado da História! É certo que não edificou
uma pirâmide tão colossal como a de Quéops, mas o país manteve-se próspero e feliz.
Quando Pépi II foi escolhido para reinar, tinha apenas cinco anos. Era,
evidentemente, incapaz de governar. Esta função foi conferida a uma mulher,
Meryré-Anquenes, a amada da Luz divina, que a vida lhe seja concedida,
viúva do faraó Pépi I. Que fosse simplesmente considerada como regente não
altera os factos, assumiu os assuntos de Estado até ao momento em que Pépi II
foi capaz de assumir o
seu cargo.
Uma estátua em alabastro,
conservada no Brooklyn Museum, mostra-a sentada com uma grande peruca, tendo
sobre os joelhos o Faraó menino e enfeitiçando-o com a mão esquerda. A estatura
de Pépi II revela que é
certamente uma criança, mas tem um rosto de adulto. De facto, na concepção egípcia,
o senhor das Duas Terras é faraó desde o ovo; o papel da mãe do rei consiste em
fazê-lo crescer magicamente, em alargar
o seu coração e torná-lo plenamente ciente dos seus deveres.
Três rainhas para um faraó e pirâmides falantes
Pépi II viveu centenário e teve
três esposas sucessivas: Neit, Ipuit e Udjebten. Cada uma das três rainhas foi
a encarnação da deusa Hator, cujo nome significa templo de Hórus, ou seja, o próprio
faraó; na sua qualidade de senhora das estrelas, ela gerava o Hórus de ouro,
a obra-prima da Criação, o rei capaz de exercer na Terra a missão de natureza cósmica
que ela lhe confiava. A rainha chama-se aquela que vê Hórus e Set no mesmo ser
(o faraó) e que consegue conciliar o inconciliável restabelecendo a paz entre
os dois irmãos inimigos. É também aquela que reúne os dois senhores, os
mesmos Hóros e Set que reinam sobre o Norte e o Sul do país, cuja aliança é
indispensável.
Nesta
época, é certo que o título de Amiga (semeret)
de Hórus já não está reservado às esposas reais, podendo ser
concedido a uma filha de rei ou mesmo a uma dignitária. E não foi a única
inovação do longo reinado de Pépi II. Havia muito que se construíam pirâmides
para as mães de rei e as grandes esposas reais, que assim partilhavam o destino
estelar do faraó; quanto aos príncipes, não tinham sepulturas tão monumentais».
In
Christian Jacq, As Egípcias, Edições ASA, 2002, ISBN-978-972-413-062-0.
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