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de wikipedia e jdact
Nitocris, a Primeira Mulher Consagrada
Faraó
O reinado de Nitócris
(…)
De acordo com o grego Eratóstenes, o nome Nitócris significa Atenas é
vitoriosa, e não andava longe da verdade, porque Nitócris, em egípcio Neit-iqeret, pode
traduzir-se por Neit (o modelo egípcio da Atenas grega) é excelente.
Mais uma vez, a deusa Neit é a protectora de uma mulher de primeiro plano.
Bela e corajosa
A história das dinastias redigida
pelo sacerdote egípcio Maneton perdeu-se, mas subsistem fragmentos citados por
autores da Antiguidade. Um deles, conservado num texto de Eusébio, fala nestes
termos da faraó Nitócris: Uma
mulher, Nitócris, reinou; tinha mais coragem do que os homens da sua época e
era a mais bela de todas as mulheres, loira e de faces rosadas. Diz-se que
construiu a terceira pirâmide. De acordo com uma tradição
tardia, teria sido sepultada com o corpo repousando sobre um sarcófago em
basalto azul. Esta terceira pirâmide poderia ser a de Miquerinos, no planalto
de Gize, mas não foi encontrado nenhum vestígio de Nitócris aí. Em contrapartida,
certos arqueólogos crêem que o monumento foi restaurado na época da mulher
faraó; a atenção que prestou a este grandioso monumento explica talvez a lenda.
A beleza de Nitócris faz pensar nos títulos das rainhas do Antigo Império: grande no amor, de belo rosto, encantadora,
soberana no encanto, que satisfaz a divindade graças à sua beleza, à voz feiticeira com que canta, que enche os palácios com o odor do seu
perfume, a soberana de todas as mulheres, a senhora das Duas Terras e da Terra
até aos seus confins. Trata-se, pois, de uma beleza ritual,
de um encanto consubstancial à função de rainha do Egipto e, afortiori, à de rainha
faraó.
Outra lenda tardia, de que não
encontramos vestígios nos documentos egípcios, afirma que Nitócris era a esposa
de um rei que havia sido assassinado por traidores. Este acto odioso não lhes
permitiu reinar e por isso pediram à pobre Nitócris que governasse a fim de não
interromper a linhagem legítima. A jovem aceitou, mas preparou a sua vingança
em segredo: mandou construir uma grande sala subterrânea e convidou os
traidores para um banquete para festejarem a vitória; enquanto festejavam,
Nitócris mandou abrir um cano por onde a água entrou. Os traidores afogaram-se
e Nitócris suicidou-se lançando-se a uma câmara cheia de cinzas, onde sufocou.
Um dramático conto oriental, mas sem fundamento histórico.
O fim do Antigo Império
O
glorioso tempo das pirâmides termina com o reinado de Nitócris, seguindo-se um período
confuso acerca do qual estamos muito mal informados. Instaura-se uma grave
crise que, sem pôr em causa a instituição faraónica, parece traduzir-se em
perturbações sociais e económicas. Cheias nocivas, brusca alteração
climatérica, invasão de tribos beduínas, enfraquecimento do poder central,
aumento do poder dos chefes das províncias que esquecem o interesse geral?
Numerosas explicações foram avançadas sem que se obtivesse uma certeza. Nem
sequer conhecemos com exactidão aquilo que os egiptólogos designaram por o
primeiro período intermédio, intermédio entre o fim do Antigo Império e o início
do Médio: entre cem a cento e noventa anos, durante os quais o Egipto
enfraquece. O reino de Nitócris foi, pois, o último do Antigo Império, dessa
idade áurea do Antigo Egipto; durante cerca de cinco séculos, faraós
construtores de pirâmides edificaram um mundo de uma força e beleza
incomparáveis. Se é verdade que um povo feliz não tem história, este pensamento
aplica-se maravilhosamente bem ao Antigo Império, em que reis e rainhas falam
da sua função, do seu papel de ligação entre o divino e o humano, da prática dos
rituais concebidos como uma ciência da vida. Mas é em vão que buscamos
pormenores da sua vida privada ou a sua história pessoal, pois filiações e
genealogias são incertas. Os baixos-relevos dos túmulos, porém, põem em cena o
quotidiano e as venturas dos meses e dos dias naqueles tempos em que a História
havia sido ritualizada e concebida como uma festa. Seria injusto considerar
Nitócris como responsável pela quebra produzida; na realidade, a sexta dinastia
enfraqueceu pouco a pouco e, durante o longo reinado de Pépi II, evoluções negativas,
difíceis de perceber em consequência da pobreza de documentação, conduziram o
Egipto à crise». In Christian Jacq, As Egípcias, Edições ASA, 2002,
ISBN-978-972-413-062-0.
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