O Assalto
«(…) Às nove horas da noite, numa
terça-feira, Denny, Mark e Jerry estavam no interior da Biblioteca Firestone,
fazendo-se passar por estudantes universitários e a olhar para o relógio. As
falsas identificações de estudante tinham funcionado na perfeição; ninguém
franzira sequer o sobrolho. Denny encontrou o seu esconderijo numa casa de
banho das senhoras, no terceiro piso. Levantou um painel no tecto, por cima da sanita,
atirou a mochila de estudante lá para cima e instalou-se aí para algumas horas
de espera naquele espaço acanhado e quente. Mark arrombou a fechadura da
central técnica na primeira cave e esperou pelos alarmes. Não ouviu nenhum, tal
como Ahmed, que acedera facilmente aos sistemas de segurança da universidade.
Mark tratou de desmontar os injectores de combustível do gerador de reserva da
biblioteca. Jerry encontrou um lugar numa estação de estudo escondida entre filas
de prateleiras empilhadas, cheias de livros em que ninguém mexia há décadas. Trey
andava às voltas pelo campus, vestido como um estudante, carregando a sua
mochila, à procura de locais para as suas bombas.
A biblioteca encerrava à
meia-noite. Os quatro membros da equipa, assim como Ahmed na sua cave em
Buffalo, tinham contacto via rádio. Denny, o cabecilha, anunciou às 00:15 que
tudo estava a correr como planeado. Às 00:20, Trey, vestido de estudante e
transportando uma mochila volumosa, entrou na residência universitária
McCarren, no coração do campus. Viu as mesmas câmaras de vigilância que tinha visto
na semana anterior. Utilizou a escada não vigiada para chegar ao segundo piso,
entrou nuns lavabos mistos e fechou-se num dos compartimentos. Às 00:40, enfiou
a mão na mochila e tirou uma lata mais ou menos do tamanho de uma garrafa de
refrigerante de 50 centilitros. Montou um dispositivo de accionamento retardado
e escondeu-a atrás da sanita. Saiu da casa de banho, subiu ao terceiro piso e
pôs outra bomba numa cabina de duche vazia. Às 00:45, descobriu um corredor à
média luz no segundo piso de um dormitório e atirou descontraidamente uma fiada
de dez petardos Black Cat pelo corredor fora. Enquanto descia a escada, as
explosões ecoaram no ar. Passados segundos, ambas as bombas de fumo explodiram,
lançando densas nuvens de névoa acre para os corredores. Ao sair do edifício, Trey
ouviu a primeira vaga de vozes em pânico. Escondeu-se atrás de uns arbustos
perto do dormitório, tirou um telefone móvel descartável do bolso, ligou para o
112 de Princeton e deu a notícia assustadora: há um tipo com uma arma no
segundo andar da McCarren. E está a disparar.
Saía fumo de uma janela no
segundo andar. Jerry, sentado às escuras na estação de estudo, na biblioteca,
fez um telefonema semelhante a partir do seu telefone móvel pré-pago. Os
telefonemas não tardaram a chover, à medida que o pânico tomava conta do campus.
Todas as universidades americanas têm planos cuidadosamente preparados para lidar
com uma situação que envolva um atirador activo, mas ninguém os quer
implementar. Ainda foram precisos alguns segundos de perplexidade até a
funcionária responsável premir os botões certos, mas quando o fez as sirenes
começaram a tocar. Todos os estudantes, professores, administradores e
funcionários receberam uma mensagem e um alerta de e-mail. Todas as portas deviam
ser fechadas e trancadas. Todos os edifícios deviam activar as medidas de
segurança.
Jerrv fez outro telefonema para o
112 e comunicou que havia dois estudantes baleados. Havia rolos de fumo a sair
de McCarren Hall. Trey largou outras três bombas de fumo em latas de lixo.
Alguns estudantes correram por entre o fumo enquanto iam de edifício em
edifício, sem saber exactamente onde encontrar um lugar seguro. A segurança do
campus e a polícia da cidade de Princeton acorreram rapidamente ao local,
seguidas de perto por meia dúzia de carros de bombeiros. A seguir, vieram as
ambulâncias e depois chegou o primeiro de muitos carros de patrulha da polícia
estadual de New Jersey». In John Grisham, O Manuscrito, 2017,
Bertrand Editores, 2018, ISBN 978-972-253-544-1.
Cortesia de BertrandE/JDACT