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de wikipedia e jdact
«(…) Seis séculos
mais tarde, os frades do mosteiro de Samos dispersam-se por lugares bem
afastados da Galiza. É o caso de frei João Samos, Galego, que, em Santa Maria das
Virtudes, não longe de Santarém, esconjurava os demónios, como se vê no Livro dos Milagres de Nossa Senhora das
Virtudes compilado por Frei João da Póvoa em 1497. Mas se a
Galiza foi inicialmente porto de abrigo para os que fugiam aos exércitos
islamitas, em breve se converteu em foco de dispersão de povoadores. No repovoamento
do Norte de Portugal (séculos X-XI) observa-se um movimento inverso ao dos
primeiros tempos. Os galegos instalam-se nas terras entre Minho e Mondego, onde
concorrem com os moçárabes na ocupação dos espaços disponíveis. Estes fluxos e refluxos
populacionais foram certamente responsáveis pelo caldeamento de uma individualidade
lexical comum à Galiza, Minho e Douro Litoral.
Na Idade Média é essencialmente
como centro despoletador de emigrações que a Galiza nos aparece. Uma ligeira
sondagem à história do repovoamento peninsular leva-nos a concluir que as
gentes galegas estão presentes nas mais variadas regiões da Península.
Encontramos galegos no repovoamento da Estremadura castelhano-leonesa, que se
opera nos séculos XI-XII em cidades como Salamanca, Ávila, Segóvia e Zamora e
até no reino de Toledo e na região de Alcarria se fixam gentes da Galiza. No século
XIII vêmo-las ainda no repovoamento da Andaluzia e em Sevilha do século XIV
existia mesmo a Rua dos Galegos, junto da praça onde era vendido o pescado (Collantes
de Terán diz-nos que muitos galegos que se encontram em Sevilha se dedicam ao
comércio de pescado ou de madeira). Manuel González assinala esta presença como
sintomática de uma Galiza siempre provida en hombres.
Lindley Cintia observa que o
topónimo Galegos tem
uma frequência notável na Estremadura leonesa e, ao analisar a linguagem dos
foros de Castelo Rodrigo, considera que o falar fundamentalmente galego, mas com
leonesismos, de Castelo Rodrigo e de Riba-Coa no século XIII, se deve aos
repovoadores galegos que, atraídos pelo seu rei Afonso IX, aí se fixaram como
verdadeiras colmeias de imigrantes. É por esta mesma época que os galegos
aparecem nas cidades portuguesas de Santarém e Évora onde, em vagas sucessivas,
se vão enraizando. Sabe-se que a migração tem sido, ao longo dos tempos, uma constante
da história da Galiza. É legítimo inquirirmos, para a época que nos ocupa, as
causas da migração para Portugal.
Uma das causas principais que tem
sido apontada como explicação para o fenómeno migratório em geral, é a taxa de
natalidade juntamente com a escassez de recursos económicos. Trata-se de uma
explicação económico-demográfica que se ajusta bem à Galiza medieva, verdadeiro
reservatório de homens e de energias. Os historiadores dizem-nos que a
população galega experimentou ao longo dos séculos XII e XIII um processo de
crescimento demográfico. Alguns afirmam mesmo que a Galiza foi, na segunda
metade do século XII e primeira do XIII, um dos centros políticos e culturais
mais vivos da Península, criador da poesia trovadoresca e de obras como Pórtico da Glória de Compostela
ou Pórtico do Paraíso de
Orense. Estes incontestáveis depoimentos alertam-nos desde já para a limitação
de uma explicação quantitativa para o fenómeno galego na Idade Média». In
Maria Ângela Beirante, Onomástica Galega em duas cidades do sul de Portugal,
Santarém e Évora, Revista da Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas, nº 6, 1992-1993, III Congresso
Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Vigo, 1990.
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