Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Há que analisar
os aspectos qualitativos que transcendem o simples crescimento demográfico,
embora não se possam separar dele. Enumeremos então estes aspectos:
Um dos mais importantes é de
natureza social, pois radica na essência da sociedade senhorial que a grande
propriedade nobiliárquica e eclesiástica modelou na zona galaico-portguesa;
A sociedade galega medieva é
constituída por uma grande massa de camponeses dependentes de uma minoria de
senhores e as coacções senhoriais desencadeiam naturalmente a emigração. A fuga
em direcção às terras do Sul constituía invariavelmente uma aventura bem
sucedida. Nos lugares reconquistados, o antigo colono (que legalmente não podia
abandonar a terra que cultivava) adquire direitos e liberdades;
Note-se que estas transferências
de população coincidiram com a rotura dos vínculos de parentesco extenso e com
a implantação da família conjugal. Como tipo de solidariedade reforçam-se os
laços de vizinhança que são transplantados para as novas comunidades, sem
esquecer por isso a marca da sua origem que, como vimos, se traduz em etno-topónimos;
Um outro aspecto igualmente
importante é de natureza político-militar pois assenta nos interesses da
nobreza e da monarquia, empenhadas no comando da sociedade e na manutenção de
um status privilegiado. Sabemos, por exemplo, que a nobreza portuguesa
procurou alianças com a galega através do casamento e que muitas linhagens
portuguesas (Barbosa, Soverosa, Límia, Ribeira, Trava, Pereira, Nóvoa) têm
origem galega.
Muitos nobres galegos, como que
fugindo ao centralismo castelhano, demandam a corte dos reis de Portugal. Assim
é que Pedro Fernandes Castro, o senhor mais poderoso da Galiza, foi educado na
corte portuguesa de Dinis I. Os seus filhos são indissociáveis da história de Portugal:
Inês de Castro ficou imortalizada na lenda e na arte. Álvaro Peres Castro foi o
primeiro condestável de Portugal e, como valido de Fernando I foi o primeiro
conde de Arraiolos. Fernando Castro, que foi adiantado-mor da Galiza, teve
papel dominante nas guerras entre Pedro I e Henrique de Trastâmara, em que se
envolveu Fernando I de Portugal, optando pelo partido legitimista. A vitória da
monarquia trastamarista, eminentemente centralizadora e castelhanizante,
canalizou para Portugal a maior parte da nobreza galega, sob a égide dos
Castros que tinham grande influência na corte portuguesa. Maior ascendente na corte
do monarca Fernando I (e mais ainda junto de Leonor Teles) veio a ter outro nobre
galego, João Fernandes Andeiro, conde de Ourém. A sua influência foi-lhe,
porém, funesta. Por ser partidário da união de Portugal a Castela, foi morto
pelo Mestre de Avis, fundador da nova dinastia portuguesa. Devemos ainda sublinhar
a importância de outro factor:
O político-religioso por se
desenvolver ao nível da organização eclesiástica».
In Maria Ângela Beirante, Onomástica
Galega em duas cidades do sul de Portugal, Santarém e Évora, Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
nº 6, 1992-1993, III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa
na Galiza, Vigo, 1990.
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