quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Os Cinco Templários de Jesus. Didier Convard. «Geoffroy soltou um gemido de gato e, querendo provar que coragem era o que não lhe faltava, ergueu-se do banco para tentar manter uma posição vertical e digna…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Os cinco cavaleiros
«(…) Noite.
Uma nau enorme de ventre pesado e borda lisa, exibindo os seus estandartes marcados por uma cruz, com as suas seis velas quadradas infladas pelo melhor dos ventos, singrava em boa velocidade o mar agitado, fendendo as ondas e cortando-as de frente. Nos seus ovéns, balançavam algumas lanternas com halos amarelos, vaga-lumes frágeis dançando entre o céu e o mar como estrelas baixas. Geoffroy de Saint-Omer deixou o convés onde havia vomitado. Descendo com dificuldade os poucos degraus que levavam à coxia de paredes muito inclinadas, ele enxugava a boca com uma ponta da capa. Estava furioso, com a tez verde e olhos revirados. Onda, balanço, oscilação... Como se pode suportar um tratamento desses sem vomitar as tripas? O homem havia passado dos trinta há pouco tempo, mas uma sólida barriga enchia a sua camisa. De estatura média, parecia um urso. Ombros sólidos, mãos fortes, um pescoço grosso. Tinha olhos pequenos e rasgados, nariz acentuado que uma antiga rixa havia quebrado, cabelos castanhos jogados para trás. O chão parecia lhe fugir a cada passo. Praguejava o tempo todo, procurando recuperar o equilíbrio, batendo os braços em gestos grotescos. Você é ridículo, Geoffroy!, disse uma voz. Uma porta havia sido aberta, e Basile le Harnais, segurando uma lanterna na mão direita, não conseguiu deixar de rir diante do espectáculo oferecido pelo amigo. Ridículo?, respondeu Geoffroy. Então é assim que eu vou morrer! Tive de esvaziar o estômago por cima da amurada. Se eu continuar com esse regime, em breve serei só pele e osso. Meu pobre amigo; você não parou de vomitar a sua bile no mar desde que subimos neste navio. Basile aproximou-se e pegou o braço do doente, acrescentando: só estamos esperando por si! O conde está impaciente. Com os diabos, o que fazem para não ter enjoos? Sem dúvida, escolhemos uma comida leve que não pesa no estômago. Eu aconselhei-o mil vezes a só tomar sopa, um bom caldo de legumes. Está vendo o que acontece ao empanturrar-se de toucinho e de peixes encharcados de salmoura? Sem contar as canecas de hidromel que toma de manhã à noite! Sábio Basile e os seus sensatos conselhos!
Basile le Harnais tinha dificuldade em sustentar Geoffroy, embora fosse forte e seco como um pau velho. De cabelos ralos, barba grisalha, rosto comprido como uma lâmina, tinha marcas de uma febre malsã na pele enrugada, apesar dos trinta e nove anos. Depois de muito esforço, os dois cavaleiros conseguiram, enfim, entrar na sala dos oficiais, onde eram aguardados por Hugues de Champagne, Payns e Arcis de Brienne. Arcis estava ocupado em estender cuidadosamente um pano branco em cima de uma arca de madeira, ornamentando-a com três pequenos candelabros, cada um deles com uma vela acesa, feita de sebo de boi. Assim que Basile fechou a porta, o conde lhe perguntou: certificou-se de que não havia ninguém na coxia? A maior parte dos peregrinos está dormindo e os marinheiros de vigia fazem manobras, tranquilizou-o Basile, enquanto Geoffroy se jogava num banco que estalou a ponto de se quebrar.
O conde tinha vinte e sete anos. Era alto, de constituição forte, rosto quadrado e jovial iluminado por um olhar claro e muito alegre. Antes de partir, havia raspado os cabelos; uma penugem loura crescia como uma escova na sua cabeça. Virando-se para Payns, ele propôs: vamos começar, irmão? Payns não respondeu imediatamente. Dirigiu o olhar para Geoffroy e assentiu, com uma expressão reprovadora lhe repuxando os lábios finos. Se o nosso doente conseguir manter-se de pé, poderemos proceder à cerimónia, reprovou ele.
Geoffroy soltou um gemido de gato e, querendo provar que coragem era o que não lhe faltava, ergueu-se do banco para tentar manter uma posição vertical e digna, a despeito dos movimentos contrariantes do navio. Payns aproximou-se, pôs a mão na testa dele e constatou: está fervendo. No entanto, disse Geoffroy, sinto o frio correr nas veias. Olhe, estou tremendo! Feche os olhos por um instante, recomendou Payns, com uma voz subitamente doce e grave. Feche os olhos como se fosse dormir! Os três outros cavaleiros calaram-se para observar a cena. Payns era alto, magro e musculoso. Todo o seu corpo mostrava uma vida saudável, rigorosamente constituída de exercícios físicos, meditação e jejum. Os seus olhos eram tão azuis, tão pálidos, que, às vezes, pareciam os de um morto. No entanto, tinha um olhar intenso, profundo, no qual ardiam chamas brancas e fugidias. Os cabelos espessos, cortados na altura da nuca, tinham reflexos dourados». In Didier Convard, O Triângulo Secreto, Os Cinco Templários de Jesus, 2006, Editora Bertrand Brasil, 2013, ISBN 978-852-861-663-7.
                                                        
Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT