Os
cinco cavaleiros
«(…) Noite.
Uma nau enorme de ventre pesado e
borda lisa, exibindo os seus estandartes marcados por uma cruz, com as suas
seis velas quadradas infladas pelo melhor dos ventos, singrava em boa
velocidade o mar agitado, fendendo as ondas e cortando-as de frente. Nos seus
ovéns, balançavam algumas lanternas com halos amarelos, vaga-lumes frágeis
dançando entre o céu e o mar como estrelas baixas. Geoffroy de Saint-Omer
deixou o convés onde havia vomitado. Descendo com dificuldade os poucos degraus
que levavam à coxia de paredes muito inclinadas, ele enxugava a boca com uma
ponta da capa. Estava furioso, com a tez verde e olhos revirados. Onda,
balanço, oscilação... Como se pode suportar um tratamento desses sem vomitar as
tripas? O homem havia passado dos trinta há pouco tempo, mas uma sólida barriga
enchia a sua camisa. De estatura média, parecia um urso. Ombros sólidos, mãos
fortes, um pescoço grosso. Tinha olhos pequenos e rasgados, nariz acentuado que
uma antiga rixa havia quebrado, cabelos castanhos jogados para trás. O chão
parecia lhe fugir a cada passo. Praguejava o tempo todo, procurando recuperar o
equilíbrio, batendo os braços em gestos grotescos. Você é ridículo, Geoffroy!,
disse uma voz. Uma porta havia sido aberta, e Basile le Harnais, segurando uma
lanterna na mão direita, não conseguiu deixar de rir diante do espectáculo
oferecido pelo amigo. Ridículo?, respondeu Geoffroy. Então é assim que eu vou
morrer! Tive de esvaziar o estômago por cima da amurada. Se eu continuar com
esse regime, em breve serei só pele e osso. Meu pobre amigo; você não parou de
vomitar a sua bile no mar desde que subimos neste navio. Basile aproximou-se e
pegou o braço do doente, acrescentando: só estamos esperando por si! O conde
está impaciente. Com os diabos, o que fazem para não ter enjoos? Sem dúvida,
escolhemos uma comida leve que não pesa no estômago. Eu aconselhei-o mil vezes
a só tomar sopa, um bom caldo de legumes. Está vendo o que acontece ao empanturrar-se
de toucinho e de peixes encharcados de salmoura? Sem contar as canecas de
hidromel que toma de manhã à noite! Sábio Basile e os seus sensatos conselhos!
Basile le Harnais tinha
dificuldade em sustentar Geoffroy, embora fosse forte e seco como um pau velho.
De cabelos ralos, barba grisalha, rosto comprido como uma lâmina, tinha marcas
de uma febre malsã na pele enrugada, apesar dos trinta e nove anos. Depois de
muito esforço, os dois cavaleiros conseguiram, enfim, entrar na sala dos oficiais,
onde eram aguardados por Hugues de Champagne, Payns e Arcis de Brienne. Arcis
estava ocupado em estender cuidadosamente um pano branco em cima de uma arca de
madeira, ornamentando-a com três pequenos candelabros, cada um deles com uma
vela acesa, feita de sebo de boi. Assim que Basile fechou a porta, o conde lhe
perguntou: certificou-se de que não havia ninguém na coxia? A maior parte dos
peregrinos está dormindo e os marinheiros de vigia fazem manobras,
tranquilizou-o Basile, enquanto Geoffroy se jogava num banco que estalou a
ponto de se quebrar.
O conde tinha vinte e sete anos.
Era alto, de constituição forte, rosto quadrado e jovial iluminado por um olhar
claro e muito alegre. Antes de partir, havia raspado os cabelos; uma penugem
loura crescia como uma escova na sua cabeça. Virando-se para Payns, ele propôs:
vamos começar, irmão? Payns não respondeu imediatamente. Dirigiu o olhar para
Geoffroy e assentiu, com uma expressão reprovadora lhe repuxando os lábios
finos. Se o nosso doente conseguir manter-se de pé, poderemos proceder à cerimónia,
reprovou ele.
Geoffroy soltou um gemido de gato
e, querendo provar que coragem era o que não lhe faltava, ergueu-se do banco
para tentar manter uma posição vertical e digna, a despeito dos movimentos
contrariantes do navio. Payns aproximou-se, pôs a mão na testa dele e
constatou: está fervendo. No entanto, disse Geoffroy, sinto o frio correr nas
veias. Olhe, estou tremendo! Feche os olhos por um instante, recomendou Payns,
com uma voz subitamente doce e grave. Feche os olhos como se fosse dormir! Os
três outros cavaleiros calaram-se para observar a cena. Payns era alto, magro e
musculoso. Todo o seu corpo mostrava uma vida saudável, rigorosamente constituída
de exercícios físicos, meditação e jejum. Os seus olhos eram tão azuis, tão pálidos,
que, às vezes, pareciam os de um morto. No entanto, tinha um olhar intenso,
profundo, no qual ardiam chamas brancas e fugidias. Os cabelos espessos,
cortados na altura da nuca, tinham reflexos dourados». In Didier Convard, O
Triângulo Secreto, Os Cinco Templários de Jesus, 2006, Editora Bertrand Brasil,
2013, ISBN 978-852-861-663-7.
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