«Portugal teve esplêndidas
rainhas que souberam ajudar os seus maridos na governação do reino, através de
conselhos adequados e na educação dos filhos. Nunca é demais dizer-se que, por
detrás de um bom rei, há sempre uma grande rainha. E exemplos disso bem nossos
conhecidos estão Filipa de Lencastre, Leonor de Aragão, de quem vamos falar
hoje, e uma Infanta que, por acaso, nunca chegou a rainha mas que valeu por
dois ou três do seu marido: dona Beatriz, mãe de João, Diogo e do rei Manuel I.
À morte do Infante Fernando, dona Beatriz foi tutora e curadora dos filhos e
dos bens destes, e uma das mais exímias administradoras dos bens da Família,
tendo-se preocupado, inclusivamente, com a gestão das ilhas dos Açores e da
Madeira. Dona Leonor ou a triste Rainha encarregou-se de ajudar a curar
a doença do marido, da educação dos filhos cuja missão acabou por lhe ser
retirada, passando-se para Castela, por razões de Estado e rivalidades entre
partidos políticos, encabeçados por importantes senhores feudais no reino,
entre 1433 e 1445». In Resumo
«Não interessa aqui referir as
conjunturas políticas e económicas que o Reino atravessava desde os finais do
governo de Fernando I. São por demais sabidas, pois muitos autores têm-se
referido a elas. Mas foi, em grande parte, neste ambiente de constante desequilíbrio
que nasceu Duarte I, o terceiro filho do rei João, o primeiro, entre os vivos,
e lhe veio suceder no trono, em 1433 (João I teve de dona Filipa de Lencastre
dona Branca, nascida em Santarém, a 30 de Julho de 1388, vindo a falecer em
Março de 1389; acha-se sepultada na capela-mor da Sé de Lisboa; ainda, antes de
Duarte, Afonso, nascido igualmente em Santarém, a 30 de Julho de 1390 e
falecido a 22 de Dezembro de 1400; foi sepultado na Sé de Braga; o terceiro,
primeiro entre os vivos e sucessor do rei, foi Duarte I, que herdou a Coroa). Parece
ter sido associado ao governo do pai por 1411-1412, teria, então, 20 ou 21
anos, o que, de facto, para certos casos, seria o tempo de atingir-se a maioridade
(acerca da maioridade, o nosso especialista Martim Albuquerque tem sérias
dificuldades em obter um número que corresponda aquela: os catorze e os vinte e
cinco anos constituem os dois marcos em que o problema da menoridade do rei se
moveu; não conhecemos, de facto, quem defendesse um termo da menoridade
inferior aos catorze anos ou superior aos vinte e cinco; entre os dois limites
assinalados, todavia, oscilaram os factos e a doutrina).
Oliveira Martins, em Os Filhos
de D. João I, traça o retrato do herdeiro, da maneira mais infeliz
possível, comparando a sua fragilidade e depressão continuada com a fortaleza
de ânimo e de espírito dos demais Príncipes seus irmãos. Com efeito, Duarte I mostrava
aquela virtuosa abnegação e a passividade que o matou. O rei tinha na sua
virtude o quer que é enfermiço e feminino, a quem faltava a energia e a audácia
do pai, baseando-se na doença que o Infante contraiu e a que se refere no Leal
Conselheiro. E nas compreensíveis indecisões, antes e após o desastre de
Tânger, o biógrafo não hesita em qualificar o rei de homem sem vontade própria,
sem energia, e demasiado escrupuloso. Uma depressão, uma forte crise de nervos,
a ideia de suicídio…, abateram sobre ele muito novo. Não era fácil carregar
sobre os ombros uma missão que herdaria do progenitor, só porque fora o
primeiro varão a sobreviver, no elenco dos oito legítimos e dos seis vivos. A
situação europeia e as eminentes guerras com Castela travadas por convénios de
pazes sucessivos devem ter contribuído para um sério estado de esgotamento (o
Infante Pedro, de Bruges, escrevia-lhe, entre muitos outros conselhos que lhe
dera que se porventura sentirdes vossa vontade cansada e enfraquecida com o
peso dos grandes cargos e não ligeiros de remediar, oferecei-lhe [ao Conselho
dos seus ministros] os muitos maiores que el-rei vosso pai e outros príncipes
passaram e passam e esforçai-vos no muito siso e virtude que vos Deus deu com
que sois abastante para sofrerdes tanto como o quer no mundo mais sofreu).
Podia, inclusive, nem reunir as condições necessárias para reinar dado que, à
época, era tão-só necessário ser-se o filho mais velho para o fazer. O
resultado de Tânger, em 1437, não lhe permitiu enfrentar a realidade e pô-lo
num estado de acabamento rápido o que fez surpreender os seus mais ligados.
Morreu em 1438.
Entretanto, um tratamento
sabiamente prescrito por médicos e confessores tornou-o fictícia e
temporariamente num homem alegre e de gracioso recebimento, pouco ou nada tendo
a ver com o homem sisudo, porque inteligente e amante das letras que o Cronista
refere logo a seguir. Esta dualidade psicológica revelada pelo Infante e Rei
está bem patente nas suas duas obras». In João Silva Sousa, Dona Leonor, A Triste
Rainha, FCSHUN de Lisboa,Wikipédia.
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