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«(…) O Leal Conselheiro é,
inclusivamente, um conjunto de curtos trabalhos de agenda que o monarca ia
confidenciando a seus papelinhos, entre eles: o conselho que deu ao Infante
Henrique quando foi com a armada sobre Tânger; coisas de que foi requerido nas
primeiras cortes que fez em Santarém (1433-1434); lembrança acerca dos prémios
devidos a certas classes dos seus homens de criação; tratado do bom governo da
Justiça e de oficiais dela, escritos em latim; regimento para aprender a jogar
as armas; um tratado sobre as valias do pão, conforme o preço do trigo…
Na reunião dos seus conselhos e
avisos (livro da Cartuxa), há matérias mais abrangentes, prosaicas, sublinhadas
por João José Alves Dias, na sua edição referida acima, como a da História
social e História económico-financeira, a da organização feudal,
nomeadamente no que diz respeito às relações senhores-súbditos, o que se colhe
em capítulos diversos. O 21.º é um dos preciosos documentos sobre como
organizar uma expedição guerreira. Quanto à cultura, esta mostra-se também
extensa, na parte que está consagrada a traduções do Latim e seus critérios;
regras para ler convenientemente um livro: ainda a estilística, a língua e a
ortografia. O capítulo 54 indica a composição da biblioteca do soberano, já
estudada por Teófilo Braga. Também a música, com abundância de pormenores, é
referida num estudo erudito.
Seguem-se aspectos da vida
quotidiana, também muito interessantes. Rui Pina diz-nos que o rei mandava
registar os conselhos e as coisas que louvava e de que gostava em um seu livro,
que consigo sempre trazia, de cousas familiares e especiais. Ao lermos o Leal
Conselheiro, ficamos com a noção exacta que um livro como este, sem um plano
pré-concebido, foi redigido com tempo, em consecutivas e demoradas análises
introspectivas, profundas meditações sobre a vida, pensando, durante muitos
anos, nos assuntos da própria obra e nesta mesma, acima de tudo. Foi também o
consequente resultado de apontamentos, que ia mostrando e lendo à sua Rainha.
Terá sido ela a mola impulsionadora para a publicação do texto, de maneira a
tentar fazê-lo curar-se do humor menencorico e da maneira que fui
doente, como ele dizia:
da maneira como
se devem amar os casados; ou por que os amores fazem mais sentimento no coraçom
que outra benquerença, da prudencia, justiça, temperança, fortaleza e as
condições que perteencem a boo conselheiro; das virtudes que se requerem
a uu boo julgador; dos pecados do coraçom; dos pecados da omissom;
da guarda da lealdade em que faz fim todo este trautado.
Começa-se o trautado que se chama
Leal Conselheiro […] a requerimento da muito excelente Rainha Dona Leonor:
senhora vós me requerestes que juntamente vos mandasse screver alguas cousas
que havia scriptas por boo regimento de nossas conciencias e voontades […] ca
scripto é.
O Autor fala das virtudes
teológicas, da fé, esperança e caridade e das cardeais, prudência, justiça,
fortaleza e temperança. A propósito da virtude da fé, defende acaloradamente a Imaculada
Conceição de Nossa Senhora por Imagem de sua mãe e a presença de sua mulher.
Filha de Fernando I, rei de
Aragão, e da Sicília, chamado o de Antequera, nasceu em data que se
desconhece e veio a tornar-se rainha de Portugal por enlace com o Eloquente.
Foi seu irmão, Afonso V de Aragão, o Magnânimo, que tratou do contrato, ávido
de estabelecer uma sólida aliança entre as casas de Aragão e Navarra e
Portugal. O convénio tomou lugar em 1427, na aldeia aragonesa de Olhos Negros,
nas proximidades Daroca, sendo o Infante representado por Pedro, arcebispo de
Lisboa, Foi recebedora do Príncipe português, como arras, da quantia de 30 000
florins de ouro aragoneses, assegurados em rendas da vila de Santarém; além das
terras e rendimentos respectivos que tinham sido pertença de Filipa de
Lencastre, morta em 1415, a saber: Alenquer, Sintra, Óbidos, Alvaiázere, Torres
Vedras e Torres Novas. E eram famosos os seus vestidos e mantos compridos de arminho,
ouro e prata.
Da parte do rei Fernando I teria
o dote de 200 000 florins e o mantimento que sempre fora dado às infantas
castelhanas que se tinham vindo casar ao País vizinho, mandando transportar
burras de ourivesaria rara e de rica pedraria, e escarlatas e sedas, dados os
interesses aragoneses na Itália. Em Abril de 1428, partiu dona Leonor de
Valência a caminho de Valladolid e de Portugal, celebrando-se a cerimónia, em
Coimbra, a 22 de Setembro». In João Silva Sousa, Dona Leonor, A Triste
Rainha, FCSHUN de Lisboa,Wikipédia.
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