Londres,
Inglaterra. Maio de 1870
«(…) Porque ela fez isso?, perguntou-se Caroline. Será que os
homens sentiam prazer com mulheres que metiam dedos nas suas bocas?
Evidentemente que não, porque o marquês, por sua vez começou a chupar
escandalosamente o dedo colocado sobre a boca dele. Por que ninguém nunca
mencionou isso para ela? Se o marquês queria que Caroline colocasse o dedo na sua
boca, ela com certeza teriam feito isso, se o tivesse deixado feliz. Realmente,
era completamente desnecessário para ele fazer aquilo com lady Jacquelyn, uma
mulher que ele mal conhecia, para não falar comprometida, tão simples como
isso. Debaixo de lady Jacquelyn, o marquês de Winchilsea deixou escapar um gemido
abafado, sim, lady Jacquelyn provavelmente estava com o dedo em forma. Caroline
viu a mão dele passar do quadril de lady Jacquelyn para um dos consideráveis
seios. Hurst não tinha, Caroline percebeu removido sequer o seu casaco ou a
camisa. Bem, ela supôs assim ele seria capaz de voltar ao jantar festivo mais
rápido. Mas certamente, o fogo, para não mencionar o calor do corpo de lady Jacquelyn,
estava gerando o calor suficiente, para ele se sentir demasiado quente.
Ele não parecia ter isso em
mente, no entanto. A mão que tinha ido à taça do corpete de Lady Jacquelyn,
deslocou-se para a parte de trás do seu pescoço longo, onde afastou os cabelos
escuros que emergiam da cabeça dela. Então, ela puxou Hurst para baixo, até que
ele tocasse os seus lábios. Lady Jacquelyn teve que, por fim, retirar o dedo da
boca dele, para acomodar melhor a língua, que ela colocou lá de vez. Bem, pensou Caroline. É isso, então. O casamento é o mais definitivo
abandono. Caroline ficou em dúvida, se deveria, ou não,
pronunciar-se naquele aposento. Conter a respiração, interromper os amantes nos
seus abraços (se fosse esse, o termo correcto para aquilo), e fazer uma cena.
Mas então ela concluiu que, simplesmente não seria capaz de suportar o que, sem
dúvida se sucederia: as desculpas, as recriminações, Hurst faria um discurso
retórico sobre o seu amor por ela, e Jacquelyn iria encher os olhos de
lágrimas. Sim, lady Jacquelyn seria capaz de chorar, Caroline não duvidou
disso. Realmente, o que mais poderia fazer, a não ser virar-se e sair da sala
tão calmamente como ela havia entrado? Rezando para que Hurst e Jacquelyn
estivessem muito ocupados para ouvir o clique do trinco, ela aliviou-se ao ver
a porta suavemente fechada atrás dela, e só então, libertou a sua própria
respiração.
E se perguntou o que ela deveria
fazer agora. Estava escuro no corredor vizinho a porta da sala de estar. Escuro
e frio, ao contrário do resto da casa da cidade de Dame Ashforth, que estava
cheia com mais ou menos 100 convidados e praticamente a mesma quantidade de serventes.
Ninguém estava vindo naquele caminho, já que todo o champanhe, comida e música
estava um andar abaixo. Ninguém excepto uma patética noiva abandonada, como
ela. Os seus joelhos de repente fraquejaram, Caroline sentou-se no terceiro e
quarto degrau da escada dos serventes no exacto oposto da porta que ela fechou
tão devagar. Ela não estava, como ela sabia, desmaiando. Mas ela sentia-se com
um pouco de náusea. Ela ia precisar de algum tempo pra se recompor antes de
voltar lá para baixo. Colocando um cotovelo no joelho, Caroline descansou o
queixo na sua mão e encarou aquela porta através das barras da escadaria,
perguntando o que ela iria fazer agora. Parecia para ela que a coisa que
qualquer garota normal iria fazer era chorar. Afinal de contas, ela havia
acabado de encontrar o seu noivo nos braços, bem, para ser precisa, nas pernas,
de outra. Ela deveria, ela sabia por causa da extensa leitura de romance, estar
chorosa e tempestuosa. E ela queria estar chorosa e tempestuosa. Ela queria de
verdade. Ela tentou forçar algumas lágrimas, mas nada veio.
Eu acho, Caroline pensou consigo, que eu não consigo chorar porque eu estou terrivelmente zangada. É,
deve ser isso. Eu estou com bastante raiva e é por isso que eu não consigo
chorar. Porque, eu deveria ir e encontrar uma pistola, voltar e atirar em lady
Jacquelyn no coração. Isso era o que eu deveria fazer». In Patricia Cabot, Aprendendo a Seduzir, 2001, Editorial
Planeta (2010), Editorial Essência, 2012 / 2016/, ISBN 978-854-220-677-7.
Cortesia de
EPlanete/EEssência/JDACT