sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Aprendendo a Seduzir. Patricia Cabot. «Estava escuro no corredor vizinho a porta da sala de estar. Escuro e frio, ao contrário do resto da casa da cidade de Dame Ashforth, que estava cheia com mais ou menos 100 convidados e praticamente a mesma quantidade de serventes»

Cortesia de wikipedia e jdact

Londres, Inglaterra. Maio de 1870
«(…) Porque ela fez isso?, perguntou-se Caroline. Será que os homens sentiam prazer com mulheres que metiam dedos nas suas bocas? Evidentemente que não, porque o marquês, por sua vez começou a chupar escandalosamente o dedo colocado sobre a boca dele. Por que ninguém nunca mencionou isso para ela? Se o marquês queria que Caroline colocasse o dedo na sua boca, ela com certeza teriam feito isso, se o tivesse deixado feliz. Realmente, era completamente desnecessário para ele fazer aquilo com lady Jacquelyn, uma mulher que ele mal conhecia, para não falar comprometida, tão simples como isso. Debaixo de lady Jacquelyn, o marquês de Winchilsea deixou escapar um gemido abafado, sim, lady Jacquelyn provavelmente estava com o dedo em forma. Caroline viu a mão dele passar do quadril de lady Jacquelyn para um dos consideráveis seios. Hurst não tinha, Caroline percebeu removido sequer o seu casaco ou a camisa. Bem, ela supôs assim ele seria capaz de voltar ao jantar festivo mais rápido. Mas certamente, o fogo, para não mencionar o calor do corpo de lady Jacquelyn, estava gerando o calor suficiente, para ele se sentir demasiado quente.
Ele não parecia ter isso em mente, no entanto. A mão que tinha ido à taça do corpete de Lady Jacquelyn, deslocou-se para a parte de trás do seu pescoço longo, onde afastou os cabelos escuros que emergiam da cabeça dela. Então, ela puxou Hurst para baixo, até que ele tocasse os seus lábios. Lady Jacquelyn teve que, por fim, retirar o dedo da boca dele, para acomodar melhor a língua, que ela colocou lá de vez. Bem, pensou Caroline. É isso, então. O casamento é o mais definitivo abandono. Caroline ficou em dúvida, se deveria, ou não, pronunciar-se naquele aposento. Conter a respiração, interromper os amantes nos seus abraços (se fosse esse, o termo correcto para aquilo), e fazer uma cena. Mas então ela concluiu que, simplesmente não seria capaz de suportar o que, sem dúvida se sucederia: as desculpas, as recriminações, Hurst faria um discurso retórico sobre o seu amor por ela, e Jacquelyn iria encher os olhos de lágrimas. Sim, lady Jacquelyn seria capaz de chorar, Caroline não duvidou disso. Realmente, o que mais poderia fazer, a não ser virar-se e sair da sala tão calmamente como ela havia entrado? Rezando para que Hurst e Jacquelyn estivessem muito ocupados para ouvir o clique do trinco, ela aliviou-se ao ver a porta suavemente fechada atrás dela, e só então, libertou a sua própria respiração.
E se perguntou o que ela deveria fazer agora. Estava escuro no corredor vizinho a porta da sala de estar. Escuro e frio, ao contrário do resto da casa da cidade de Dame Ashforth, que estava cheia com mais ou menos 100 convidados e praticamente a mesma quantidade de serventes. Ninguém estava vindo naquele caminho, já que todo o champanhe, comida e música estava um andar abaixo. Ninguém excepto uma patética noiva abandonada, como ela. Os seus joelhos de repente fraquejaram, Caroline sentou-se no terceiro e quarto degrau da escada dos serventes no exacto oposto da porta que ela fechou tão devagar. Ela não estava, como ela sabia, desmaiando. Mas ela sentia-se com um pouco de náusea. Ela ia precisar de algum tempo pra se recompor antes de voltar lá para baixo. Colocando um cotovelo no joelho, Caroline descansou o queixo na sua mão e encarou aquela porta através das barras da escadaria, perguntando o que ela iria fazer agora. Parecia para ela que a coisa que qualquer garota normal iria fazer era chorar. Afinal de contas, ela havia acabado de encontrar o seu noivo nos braços, bem, para ser precisa, nas pernas, de outra. Ela deveria, ela sabia por causa da extensa leitura de romance, estar chorosa e tempestuosa. E ela queria estar chorosa e tempestuosa. Ela queria de verdade. Ela tentou forçar algumas lágrimas, mas nada veio.
Eu acho, Caroline pensou consigo, que eu não consigo chorar porque eu estou terrivelmente zangada. É, deve ser isso. Eu estou com bastante raiva e é por isso que eu não consigo chorar. Porque, eu deveria ir e encontrar uma pistola, voltar e atirar em lady Jacquelyn no coração. Isso era o que eu deveria fazer». In Patricia Cabot, Aprendendo a Seduzir, 2001, Editorial Planeta (2010), Editorial Essência, 2012 / 2016/, ISBN 978-854-220-677-7.
                      
Cortesia de EPlanete/EEssência/JDACT