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Filósofos
Orientais
«(…) As descobertas prosseguem até que chegou à evidência de que
todas as coisas do mundo eram como um só indivíduo subsistente que reclamava a
existência de um agente voluntário, reduzindo-se à unidade as suas múltiplas
partes por aquela linha de contemplação ou de discurso com que se haviam
reduzido à unidade os corpos existentes no mundo da geração e da corrupção. E
dirigida a especulação para o mundo na sua totalidade, propôs-se investigar se
era uma substância novamente produzida depois do não ser e que saíra à
existência a partir da privação da mesma criação ou se, pelo contrário, era um
ser que nunca deixara de existir e a quem de maneira alguma precedera a
privação da existência ou o nada.
Ora, numa ilha próxima,
viviam duas pessoas excelentes e amantes do bem, Asal e Salmán. O primeiro
decidiu retirar-se para a ilha onde Hayy prosseguia as suas especulações enquanto
Salmán se decidiu abraçar a vida social. Sempre engolfado nas suas
especulações, Hayy b. Yaqsan só uma vez por semana abandonava a caverna em
busca de alimentos. Numa dessas saídas encontrou Asal. Vêm à fala. Palavra puxa
palavra, verificaram que as ideias filosóficas e religiosas, expostas de forma
alegórica por Asal, concordavam com as verdades que Hayy aprendera por si mesmo
aperfeiçoando as suas faculdades naturais. Asal e Hayy decidem então viver na
ilha de Asal mas não foram compreendidos pela multidão. Regressam à ilha deserta
onde vivem como sábios. Como Ibn Bayya, Ibn Tufayl considera a sabedoria como a
união mística com Deus. A filosofia da religião não pode servir como guia do comum
dos mortais. A comunidade social constitui um obstáculo para o homem solitário.
Mas, enquanto para Ibn Bayya, o Solitário que vive nas sociedades reais pode
tornar-se cidadão da sociedade ideal, para Ibn Tufayl a vida teórica do sábio é
incompatível com as ocupações sociais e políticas. Ibn Rushd, Abu l-Walid
Muhammad b. Ahmad Muhammad b. Rushd al-Hafid (O Neto), Averróis, (Córdova
1126-Marraquexe 1198).
O avô exerceu o cargo de
juiz e de imã na mesquita maior de Córdova; o pai, o de juiz na mesma cidade.
Averróis o Neto está em Marraquexe em 1153. Em 1169 é juiz de Sevilha, em 1171
ocupa o mesmo lugar em Córdova. Em 1182 Ibn Tufayl apresenta-o em Marraquexe ao
califa Abu Yacub Yusuf. Em 1195, por pressão dos alfaquis e de alguns notáveis
de Córdova, é banido para Lucena e os seus livros queimados na praça pública.
Em 1197 retorna a Marraquexe reconciliado com o novo califa Yacub Al-Mansur e
aí morre no ano seguinte. O místico Al-Arabi assistiu à entrada do corpo de
Averróis para a sepultura definitiva em Córdova. Num dos costados, a mula
carregava o cadáver do filósofo, no outro seguia o peso dos seus livros
Médico famoso, legou-nos o tratado Livro das Generalidades da Medicina.
Jurista, astrónomo, teólogo e filósofo. A maior parte dos seus livros
conservou-se em traduções latinas e hebraicas, muito poucas em árabe. O grande
mestre de Averróis é Aristóteles cujos livros principais conhece e comenta com
rigor. Escreveu um comentário à República
de Platão porque não conseguiu encontrar a Política. Os seus mestres
islâmicos são Al-Farabi na lógica e nas doutrinas morais e políticas. Ibn
Bayya, cujo livro Regime do
Solitário comentou e ainda Ibn Tufayl convergem na sua defesa
da convergência das duas atitudes independentes que são a filosofia e a fé
revelada. Conheceu as doutrinas de Avicena que critica duramente em numerosos
passos. A influência de Averróis é avassaladora no mundo cristão, particularmente
em Sigério de Brabante, Santo Alberto Magno, São Tomás de Aquino e também no seu
contemporâneo o filósofo judeu de língua árabe Maimónides. A sua influência
ainda se fazia sentir na Universidade de Pádua nos alvores do século XVII». In
António Borges Coelho, Tópicos para a
História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto
Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.
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