domingo, 16 de dezembro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «O castelo de Noudar é muito pouco referido pelas histórias gerais, devido à sua situação periférica, aparecendo na maioria das vezes no contexto do tratado de Alcanizes»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de Noudar e a defesa do património nacional
«(…) Para trabalhar a conquista da raia alentejana, e mais especificamente Noudar, existe bibliografia diversificada, embora nem toda ela nos possa elucidar sobre o problema da situação do castelo referido no contexto político-militar peninsular. Em primeiro lugar, como referência bibliográfica geral, temos as Histórias de Portugal, obras de carácter geral e descritivo dos factos, que são sempre necessárias para se saber o contexto político, social, económico que envolvia o reino português dentro de determinado período cronológico. As Histórias de Portugal são sempre um grande auxiliar, pois são elas que assumem um papel de referência geral dos estudos históricos de um determinado país, no que concerne à divulgação a um público mais geral. Estamos, no entanto, a trabalhar uma área geográfica específica, que comporta uma ou mais populações específicas, que tinham aspectos culturais diferentes das outras comunidades do reino.
Estamos perante uma sociedade de fronteira, específica nas suas vivências culturais, pelo que as histórias não lhe dão muita atenção, pois são a historiografia do geral, não havendo referências específicas àquilo que muitas vezes nos propomos a estudar ou mesmo nenhuma, e nem é suposto que as tenham, pois sendo uma região tão afastada dos centros populacionais mais importantes e praticamente à margem dos grandes acontecimentos que marcaram a história da nação portuguesa, é natural que pouco se refiram a Noudar, então para isso teremos que recorrer às obras específicas sobre o assunto que estão disponíveis, se quisermos saber mais ou mesmo levar adiante um estudo mais exaustivo. As Histórias de Portugal são obras de carácter geral, mas cada História de Portugal, de diferentes direcções, de investigadores diferentes, especializações diferentes, e contendo mesmo âmbitos cronológicos diferentes, têm de ter igualmente características diferentes. Em seguida, tratam-se os pontos que achei mais pertinentes utilizar para o meu estudo da conquista da raia alentejana no geral, e no caso específico de Noudar, e de cada uma das diversas Histórias que utilizei. Mesmo tratando-se de histórias gerais, também se dará ênfase à arqueologia, ciência que tantos e bons contributos no dá para o presente estudo.

As Histórias Gerais de Portugal
O castelo de Noudar é muito pouco referido pelas histórias gerais, devido à sua situação periférica, aparecendo na maioria das vezes no contexto do tratado de Alcanizes e das reformas do monarca Dinis I no contexto da defesa do reino através dos castelos de fronteira. O castelo de Noudar, pertencente ao termo de Moura, como diz Francisco Brandão, estaria numa situação secundária, face a esta última localidade, pelo que viria sempre seguindo esta localidade nas suas passagens de proprietários, sendo Moura um local mais importante estrategicamente pelas referências que lhe são feitas. Noudar não receberia muita importância do ponto de vista referencial, o que saliento, não diminuiria a sua importância. As referências ao castelo são escassas e são todas enquadradas no contexto político-militar nacional, face às relações com o reino vizinho de Castela. As Histórias de Portugal fazem uma exposição dos acontecimentos da conquista da raia alentejana, tratam o avanço cristão para o Sul da península, fazendo uma articulação entre os acontecimentos da reconquista do lado de cá da fronteira com o avanço leonês na Estremadura espanhola, nomeadamente a relação das quedas de Cáceres e Badajoz em 1227, com as conquistas portuguesas no Alentejo As conquistas leonesas facilitaram a ocupação portuguesa da margem esquerda do Guadiana, e o seu avanço para o sul, até ao Algarve, porque com a queda das respectivas fortalezas aos pés de Afonso IX de Leão, os bastiões muçulmanos alentejanos ficariam sem a hipótese de receberem reforços, oportunidade que os portugueses aproveitaram.
A fortaleza de Noudar, estando inserida neste espaço de fronteira, primeiramente com o muçulmano, foi possivelmente conquistada para mãos cristãs nos anos trinta do século XIII, altura em que Moura e Serpa também foram tomadas. Estando o castelo de Noudar no termo de Moura, e acompanhando esta localidade em inúmeras transições de proprietários que a margem esquerda do Guadiana teve, é possível que tenha vindo para a coroa portuguesa nesta altura. Os artigos das histórias gerais sobre fortificações são igualmente importantes na aquisição de informação de técnicas construtivas de estruturas defensivas e o seu material, herdadas da civilização islâmica, pois o local conheceu inúmeras ocupações humanas ao longo da sua existência». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.
                                                                                                                      
Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT