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Com
a devida vénia ao Mestre Hugo Calado
O
castelo de Noudar e a defesa do património nacional
As Histórias Gerais de Portugal
«(…) A arqueologia, face à falta
de fontes escritas que refiram a importância de núcleos populacionais e
centralizadores, é uma ciência que pode trazer contributos muito importantes
para a compreensão da ocupação humana de um sítio, através de materiais
arqueológicos, que são bons indicadores de modos de vida, riqueza pessoal,
comércio (importação e rotas), pois os historiadores árabes falam pouco de
Serpa e Moura, localidades relativamente próximas de Noudar. Temos também
informação sobre o povoamento islâmico dos territórios próximos do rio
Guadiana, uma ocupação populacional que englobava vários centros importantes no
Alentejo, como Maura (Moura), Baja (Beja), Sirpa (Serpa) e Martula (Mértola).
Temos, não só a menção da conquista dessas localidades islamizadas, mas também
a amplitude da reconquista portuguesa e a ocupação dela decorrente entre os
séculos XII e XIII. Este avanço cristão, era um movimento que, sendo comum à
cristandade peninsular e deslocando-se para o sul, fazia com que os respectivos
estados ibéricos considerassem as zonas de fronteira com o Islão como suas
áreas de conquista, sendo esta a experiência guerreira portuguesa durante os
séculos referidos. Observamos, pois, que não é intenção da historiografia geral
mais recente de dar muito ênfase a locais específicos, nem o deve ser, para
isso existem publicações próprias, de âmbito regional e local. Existe também a
necessidade de consulta de uma perspectiva de obras mais recuadas, em termos
cronológicos, pois outros autores se ocuparam da história de Portugal em
períodos e épocas cronológicas diferentes da nossa, mas de onde conseguimos
retirar também informação preciosa para o nosso trabalho, embora também estas
pouco ou nada refiram sobre o caso específico de Noudar.
Herculano refere a conquista do
espaço a leste do Guadiana como mais uma prova brilhante da índole guerreira de
Sancho, e onde mais uma vez são Moura e Serpa que têm destaque. Também serão
mencionadas por este autor na questão sobre a posse do Algarve, entrando a
margem esquerda do Guadiana no contencioso entre Afonso III de Portugal e
Afonso X de Castela. O mesmo autor, para construir a sua História de Portugal,
conseguiu fazer uma reunião de diversos tipos de fontes, como monumentos históricos
da literatura árabe, bulas pontifícias e forais, mal conhecidas e utilizadas,
que lhe permitiram realizar a sua obra e trazer muita informação à história
medieval de Portugal, dando um contributo muito importante à historiografia
portuguesa em geral.
Já Oliveira Martins refere a
conquista do Alentejo por Sancho II, como uma caminhada em direcção ao Algarve.
Toma uma posição favorável ao monarca deposto Sancho II, dizendo que a coroa
cai obscuramente nas mãos de um usurpador, o seu irmão Afonso, o futuro Afonso
III, rei de Portugal.
Existe outra referência, da
primeira metade do século XX, nas histórias gerais de Portugal, onde Noudar
recebe destaque sobre a sua incorporação na coroa portuguesa pelo acordo da
Guarda de 1295, ratificado mais tarde em Ciudad Rodrigo. Ângelo Ribeiro dá-nos
uma referência de Noudar como sendo entregue a Portugal no contexto da vinda de
outros castelos para o reino português, como os de Moura, Serpa e Mourão. Houve
estrangeiros que se debruçaram sobre a história de Portugal, onde,
evidentemente, as referências relativamente a Noudar ou à margem esquerda do
Guadiana são escassas ou inexistentes. Temos o exemplo da História de Portugal
de Henrique Schaefer. Este autor era bastante elogiado por Alexandre Herculano,
que o considerava como o maior investigador estrangeiro que se ocupou da
história de Portugal. A sua obra, no entanto, é de um carácter bastante geral. Faz
alusão à situação política do reino e que Sancho II foi o rei, até ao seu
tempo, que mais trabalhou para o alargamento das fronteiras do reino português.
Este investigador fala das conquistas alentejanas deste monarca português,
mencionando Elvas, Moura e Serpa, mas não faz referência a Noudar». In
Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa
Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de
Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de
Letras, Departamento de História, 2007.
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