segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «Herculano refere a conquista do espaço a leste do Guadiana como mais uma prova brilhante da índole guerreira de Sancho»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de Noudar e a defesa do património nacional
As Histórias Gerais de Portugal
«(…) A arqueologia, face à falta de fontes escritas que refiram a importância de núcleos populacionais e centralizadores, é uma ciência que pode trazer contributos muito importantes para a compreensão da ocupação humana de um sítio, através de materiais arqueológicos, que são bons indicadores de modos de vida, riqueza pessoal, comércio (importação e rotas), pois os historiadores árabes falam pouco de Serpa e Moura, localidades relativamente próximas de Noudar. Temos também informação sobre o povoamento islâmico dos territórios próximos do rio Guadiana, uma ocupação populacional que englobava vários centros importantes no Alentejo, como Maura (Moura), Baja (Beja), Sirpa (Serpa) e Martula (Mértola). Temos, não só a menção da conquista dessas localidades islamizadas, mas também a amplitude da reconquista portuguesa e a ocupação dela decorrente entre os séculos XII e XIII. Este avanço cristão, era um movimento que, sendo comum à cristandade peninsular e deslocando-se para o sul, fazia com que os respectivos estados ibéricos considerassem as zonas de fronteira com o Islão como suas áreas de conquista, sendo esta a experiência guerreira portuguesa durante os séculos referidos. Observamos, pois, que não é intenção da historiografia geral mais recente de dar muito ênfase a locais específicos, nem o deve ser, para isso existem publicações próprias, de âmbito regional e local. Existe também a necessidade de consulta de uma perspectiva de obras mais recuadas, em termos cronológicos, pois outros autores se ocuparam da história de Portugal em períodos e épocas cronológicas diferentes da nossa, mas de onde conseguimos retirar também informação preciosa para o nosso trabalho, embora também estas pouco ou nada refiram sobre o caso específico de Noudar.
Herculano refere a conquista do espaço a leste do Guadiana como mais uma prova brilhante da índole guerreira de Sancho, e onde mais uma vez são Moura e Serpa que têm destaque. Também serão mencionadas por este autor na questão sobre a posse do Algarve, entrando a margem esquerda do Guadiana no contencioso entre Afonso III de Portugal e Afonso X de Castela. O mesmo autor, para construir a sua História de Portugal, conseguiu fazer uma reunião de diversos tipos de fontes, como monumentos históricos da literatura árabe, bulas pontifícias e forais, mal conhecidas e utilizadas, que lhe permitiram realizar a sua obra e trazer muita informação à história medieval de Portugal, dando um contributo muito importante à historiografia portuguesa em geral.
Já Oliveira Martins refere a conquista do Alentejo por Sancho II, como uma caminhada em direcção ao Algarve. Toma uma posição favorável ao monarca deposto Sancho II, dizendo que a coroa cai obscuramente nas mãos de um usurpador, o seu irmão Afonso, o futuro Afonso III, rei de Portugal.
Existe outra referência, da primeira metade do século XX, nas histórias gerais de Portugal, onde Noudar recebe destaque sobre a sua incorporação na coroa portuguesa pelo acordo da Guarda de 1295, ratificado mais tarde em Ciudad Rodrigo. Ângelo Ribeiro dá-nos uma referência de Noudar como sendo entregue a Portugal no contexto da vinda de outros castelos para o reino português, como os de Moura, Serpa e Mourão. Houve estrangeiros que se debruçaram sobre a história de Portugal, onde, evidentemente, as referências relativamente a Noudar ou à margem esquerda do Guadiana são escassas ou inexistentes. Temos o exemplo da História de Portugal de Henrique Schaefer. Este autor era bastante elogiado por Alexandre Herculano, que o considerava como o maior investigador estrangeiro que se ocupou da história de Portugal. A sua obra, no entanto, é de um carácter bastante geral. Faz alusão à situação política do reino e que Sancho II foi o rei, até ao seu tempo, que mais trabalhou para o alargamento das fronteiras do reino português. Este investigador fala das conquistas alentejanas deste monarca português, mencionando Elvas, Moura e Serpa, mas não faz referência a Noudar». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.
                                                                                                                      
Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT