Erros da cúpula da Igreja
«(…) Beijar a mão estigmatizada
do padre Pio incrustada de escaras, não era uma empresa fácil. Sempre protegidas
por mitenes, apenas as descalçava na sacristia antes de ir celebrar e
calçava-as logo que colocava o cálice na mesa, no fim. Estas eram as ordens e a
sua obediência era impecável. A epiqueia dos superiores apenas excepcionava o
felizardo, que se colocava ao seu lado mal ele depositava o cálice. O jovem
diácono, talvez despreocupado de viver um momento litúrgico muito intenso,
planeou consigo mesmo comungar antes da missa das mãos do Padre e, depois, ir
dar acção de graças na sacristia, colocando-se no lugar exacto em que o Padre
devia depor o cálice para se desparamentar; dessa forma conseguiria o
privilégio de beijar-lhe a mão chagada e sem luva. Dito e feito; mas a partir
daí é que foi o bom e o bonito.
Pobre jovem diácono! Mal terminou
a missa, quantos estavam dentro da igreja invadiram a sacristia, como numa
maré, com empurrões e safanões que faziam abanar os pedestais dos santos. Por
mais que tentasse resistir à multidão, o diácono viu-se atirado à distância de
um metro e meio do Padre e assediado à volta por quantos desejavam beijar-lhe a
mão. Desiludido do seu propósito, que tinha corrido mal, pensou logo tentar de
novo e melhor na manhã seguinte. Quando padre Pio, repreendendo todos os
outros, levantou a mão direita acima das cabeças, fê-la girar em semicírculo e
chegando sobre o diácono baixou-a e deu-lha a beijar: Fá' subbte sbrigat,
anda depressa, despacha-te; enquanto dizia aos outros, em voz alta: Basta,
agora; basta!
Era sabido de todos que o Senhor
dava ao padre Pio o carisma de perscrutar os corações, isto é, de ler no coração
e na mente de quem se lhe apresentava, de forma a desvendar os pensamentos e os
pecados de quantos a ele recorriam ou de ausentes aos quais mandava informar.
Naquela manhã, quis satisfazer deste modo a boa intenção espiritual daquele
diácono, depois sacerdote, que ainda hoje o relata comovido até às lágrimas.
Luigi Orione, fundador da Piccola
Opera della Divina Providenza, agora canonizado, sem nunca ter conhecido
pessoalmente o padre Pio mas conhecendo-o profundamente em espírito e através
do fenómeno da bilocação, desenvolveu, nos anos 20, uma activa defesa a favor
do padre Pio, em Roma, junto do dicastério do Santo Oficio (maldito). O juízo deste
santo fundador era tido em grande consideração por muitos eclesiásticos em
virtude da sua vida santa, das suas obras de caridade e dos factos
extraordinários que operava. Para ele o Padre Pio era um verdadeiro santo,
dissessem o que dissessem os outros, incluindo os da cúria. Já perto do fim da vida,
também Luigi Orione teve de beber o cálice amargo da calúnia por causa de
algumas fraquezas apregoadas em relação ao outro sexo; exactarnente como o
Padre Pio.
Refira-se, antes de mais, que,
quando Orione chegava a qualquer lugar, a multidão era tal que as forças da
polícia só a custo conseguiam manter a ordem pública; por isso foi convidado a
notificá-las muitos dias antes das suas deslocações. Todavia chegavam
circunstanciadas notícias escritas a seu respeito em que o acusavam de manter
relações carnais com diversas mulheres; como não se lhes dava crédito, os
fautores decidiram passar à demonstração dos factos; era necessário apresentar
a prova provada. No limite das forças, Orione começava a sentir consequências
físicas desagradáveis. Persuadiram-no a deixar-se consultar e o veredicto foi
surpreendente: doença venérea, a sífilis. Com aquela doença, teria de manter-se
longe das pessoas. Confiaram-no a uma casa de irmãs em Sanremo, onde passou os
últimos anos de vida sob estreita vigilância. Aí morreu sem explicar como lhe
tinha sido transmitida a sífilis, consciente que estava de nunca ter tido
relações com ninguém.
Se
bem que todos continuassem a considerá-lo santo depois da morte, as ordens
foram draconianas dissuadindo quem pudesse testemunhar no processo canónico
acerca da veracidade das virtudes de Orione; a doença que contraíra
desaconselhava-o. Todos se calaram. Quando já ninguém falava dele, um
barbeiro-cirurgião de Messina, em perigo de vida, pediu a presença de um padre e
de duas testemunhas para restabelecer a verdade, abafada pela calúnia: quando
era barbeiro no colégio dos padres de Orione, em Messina, apercebera-se de que muitas
vezes tinha feito a barba e cortado o cabelo ao fundador Orione, a seguir ao
terramoto de 1908. Instigado e corrompido por um eclesiástico da congregação,
aceitou ferir, como que por acaso, a sua nuca e, fingindo desinfectá-la,
aplicou-lhe o conteúdo do frasco que recebera, que, só depois, soube tratar-se
de vurmo sifilítico». In I Millenari, Via col vento in Vaticano, Kaos
Edizioni, 1999, O Vaticano contra Cristo, tradução de José A. Neto, Religiões, Casa das Letras, 2005,
ISBN 972-46-1170-1.
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