segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «Noudar é igualmente referida, mas de novo como incorporada no território da margem esquerda do Guadiana, espaço que muda muitas vezes de mãos durante o século XIII»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de Noudar e a defesa do património nacional
As Histórias Gerais de Portugal
«(…) Pinheiro Chagas refere-nos a conquista da margem esquerda do Guadiana, mas não fala de Noudar, é uma obra com bastantes ilustrações, onde a visualização dos feitos militares medievais portugueses é particularmente enfatizada, como se fosse um complemento importante do âmbito textual, mas faltam-lhe informações pormenorizadas sobre esta fortaleza alentejana. A obra de Fortunato Almeida, História de Portugal, tem uma referência a Noudar, sobre a entrega do castelo a Portugal, que pertencia ao termo de Moura, o que foi feito em Outubro de 1295. Também dá importância às conquistas portuguesas do tempo de Sancho II, e ao contencioso com Castela pelo domínio do Algarve. O castelo de Noudar aparece esporadicamente em diversas obras gerais e em situações específicas, inserido em contextos diplomáticos e políticos. O local também tem interesse no estudo da organização administrativa do reino, nomeadamente de tipo fiscal, e embora sejam pequenas referências, não devemos menosprezar também este tipo de informação, como a incorporação do referido local no almoxarifado de Beja.
Temos também outras referências a Noudar, de novo como fazendo parte da política de reconstrução de fortalezas fronteiriças e também do seu couto de homiziados, um dos poucos de Portugal. Não podemos dizer que Noudar foi completamente ignorada pela historiografia geral nacional, era um posto avançado em frente a território castelhano que protegia uma passagem para Portugal, como já anteriormente foi referido, portanto, era uma fortaleza com alguma importância. A historiografia geral, seja de que época for, não confere muita importância a locais específicos, o que se entende, esse trabalho é deixado para a historiografia regional e local e publicações mais específicas de outras áreas de estudo com ligações à história, nomeadamente a arqueologia.

O castelo de Noudar na historiografia Regional Portuguesa
Tendo já sido referido que Noudar não tem, de facto, um grande impacto historiográfico nas obras gerais, vai ter visibilidade com artigos diversos de vários investigadores (não necessariamente historiadores) que se quiseram ocupar dos temas da fronteira e também deste caso específico, não havendo uma ligação exacta e imediata entre o dito castelo e os estudos da fronteira do Baixo Alentejo. Há referências àquela fortaleza desde muito cedo, nas publicações culturais do século XX, muitas delas não sendo necessariamente de história, como é o caso de O Archeologo Português, onde temos referências ao castelo de Noudar, referências do início do século XX, é certo, mas são informações que devem ser sempre tidas em conta.
Outra informação importante é sobre a etimologia do topónimo Noudar, escrito Nodar, que é apontado como tendo origem germânica. Temos também informações mais recuadas, do século XVIII, trazidas por Francisco Brandão, onde encontramos uma referência explícita de que Noudar pertencia no século XIII ao termo de Moura. Este autor refere ainda que em 1295, antes do tratado de Alcanizes, esta vila com o seu castelo estariam já ambos sob o domínio português. Existem outros artigos publicados sobre a chamada raia alentejana com um âmbito cronológico bastante dilatado, onde Noudar é igualmente referida, mas de novo como incorporada no território da margem esquerda do Guadiana, espaço que muda muitas vezes de mãos durante o século XIII.
Ainda sobre os artigos mais recuados cronologicamente, temos informações que nos são trazidas pelo Arquivo de Beja, publicação dos anos 40 do século XX. Façamos referência ainda ao artigo de Gustavo Matos Sequeira, este dando destaque a Noudar por inteiro, enfatizando a ocupação cristã da fortaleza, descrevendo a fortaleza, e enquadrando-a historicamente, desde a doação de Afonso X a dona Beatriz, sua filha e rainha de Portugal, até ao seu abandono, cerca de 1825, pois desde o século XVIII que o sítio vinha a perder habitantes. É uma publicação do início do século XX, e como tal, tem evidentemente diversas lacunas, devido ao facto de os aparelhos conceptuais do autor não serem os que dispomos hoje em dia». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.
                                                                                                                      
Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT