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de wikipedia e jdact
As
Lágrimas do Papa
Os
Três Rolos
«(…) Eis
o torreão chamado Torre maldita, Sire. O caminho está livre. Vamos rápido... Estou
cansado e o meu sangue está quente. Sem dúvida, é a doença do suor. Não é raro apanhar
essa febre nessas regiões. Filipe e o templário entraram na escura construção
por uma passagem ou porta disfarçada
numa fortificação ou praça de guerra. Renaud virou-se
para o rei. Estendeu-lhe a mão. Sinceramente, é verdade, estais ardendo! A noite
ecoava lamentos e prantos longínquos, encobertos pelos risos dos cruzados
embriagados e gritos das mulheres violadas. O templário abriu caminho com a
ajuda da tocha e deu a mão ao rei para ajudá-lo a descer uma escada estreita de
degraus desconjuntados, que se embrenhava na humidade e no odor de mofo. Em baixo
da escada, apareceu um corredor, uma galeria apertada com chão de terra batida,
na qual só se podia entrar abaixado. Cuidado, Sire, o tecto está cada vez mais
baixo. Vamos dar uns vinte passos assim e, depois, escolher uma passagem entre
outras três.
Como saberá qual dos
caminhos deveremos seguir, cavaleiro? Vede, respondeu Renaud, sorrindo e
indicando com a tocha um motivo gravado na parede. Um peixe estilizado, traçado
grosseiramente com uma lâmina. Este era o sinal de reconhecimento dos primeiros
cristãos, observou o rei. É verdade, Sire. Esses peixes nos guiarão até à
cripta, onde encontraremos o que viemos buscar. Aos meus olhos, tudo isso tem
um quê de prodígio! Não, Majestade! Não, não se trata de magia; os agentes do
Templo informaram os comandos em todo o mundo. Sabeis que
fazemos uma certa investigação há muito tempo. A Tradição preservou as
informações relativas a este local ao longo dos séculos. É esse tipo de segredo
que os irmãos Primeiros transmitem entre si nas assembleias?, perguntou Filipe.
É, Sire. Uma memória oral que tomamos o cuidado de legar, sem nunca traí-la.
O rei e o templário
chegaram à bifurcação indicada por este último. Graças ao motivo gravado na
pedra, os dois visitantes podiam seguir confiantes por uma das estreitas
passagens. Eles avançaram por longos minutos, curvados, raspando os ombros nas paredes
estreitas, as botas patinhando na lama. Finalmente, saíram numa cripta minúscula,
escavada com grandes golpes de picareta numa rocha toscamente consolidada com
pedregulhos talhados às pressas. Chegamos, suspirou o templário, erguendo-se e
soltando a mão do rei, que
ele havia puxado como uma criança amedrontada. Por sua vez, Filipe esticou-se,
queixando-se das costas. Vós vos entregastes como um diabo durante as lutas,
observou o templário. Girastes a vossa espada como teríeis feito com um mangual
nos trigos. É verdade que eu ceifava, precisou Filipe. Quebrei cabeças! Cortei braços!
E transpassei alguns dorsos! Renaud varria as paredes com a tocha.
É aqui, bradou ele, de repente,
mostrando um pedregulho com a imagem de um peixe. Agora o animal tem uma cruz
em cima. Quem fez essas marcas, Renaud? E quando? Sabeis muito bem, Filipe. Um
homem sábio, há doze séculos. Tomai, pegai a tocha e a segurai no alto para
mim. Renaud tirou a adaga da bainha e começou a soltar a pedra. Ele arranhava o
cimento de arenito para reduzi-lo a poeira. O trabalho era demorado, e o rei estava
impaciente; a febre lhe queimava a carne e lhe gelava os ossos. Paciência, meu
rei, disse Renaud, com voz suave. Assim que voltarmos ao acampamento, mandarei
chamar o boticário e indicarei alguns remédios que melhorarão o vosso sangue. Também
é versado em medicina, cavaleiro? Que conhecimento lhe falta? Continuando o
trabalho, Renaud respondeu sorrindo: eu pratico matemática, retórica,
filosofia, e me esforço para desenvolver as virtudes teologais: fé, esperança e
caridade... Tenho a pretensão de conhecer as estrelas principais e o curso
delas... Na verdade, essas são algumas das minhas qualidades, além do manejo da
espada e de dois ou três rituais de magia, que realizo longe dos homens da
Igreja. Ah, estava-me esquecendo... O quê?, disse o rei, deliciado. Leio e falo
fluentemente uma boa dezena de idiomas, bem como várias línguas regionais e
dialectos. Filipe soltou um suspiro: eu sinto-me bem idiota ao seu lado e temo
não ter vida suficiente para adquirir uma centésima parte do seu conhecimento».
In Didier Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas
do Papa, Editora Bertrand Brasil, 2012, ISBN 978-852-861-550-0.
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