quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Bizâncio. O Império da Nova Roma. Cyril Mango. «A última importante colonização eslavónica foi a dos Sérvios e dos Croatas, que no reino de Heraclio ocuparam as terras, onde ainda chegaram a habitar. Depois, em 680. vieram os Búlgaros turcos…»

jdact

Aspectos da Vida Bizantina. Povos e Línguas
«(…) Outra observação poderá ser feita com base no nosso levantamento, nomeadamente, o facto de apesar da crescente insegurança em quase todas as partes do Império, muitos dos súbditos de Justiniano viviam ainda nas suas terras de origem tradicionais. A diáspora dos Gregos, dos Judeus e, a um menor grau, dos Sírios, acontecera alguns séculos antes. Do ponto de vista etnográfico, assim como em muitos outros aspectos, a era justiniana representa, portanto, o final da Antiguidade. Seria maçador descrever todas as mudanças etnográficas que o Império testemunhou depois do século VI, mas devemos mencionar e comentar aquela que representou a maior mutação de todas, que teve início algumas décadas depois da morte de Justiniano. O primeiro sinal fez-se sentir com a instalação em massa de Eslavos na península Balcânica. Com efeito, vieram várias vagas de Eslavos e, ao contrário de invasores anteriores, estes vieram para ficar. Num passo muito citado de João de Amida (também conhecido por João de Éfeso). regista-se que em 581:

um povo execrável, os chamados Eslavónios, invadiu toda a Grécia e o país dos Tessalonicenses, bem como toda a Trácia, tomando cidades e vários fortes, devastando e queimando o que lhes surgia pela frente, e escravizando as populações. Fizeram-se senhores do país inteiro que colonizaram à força, e ali passaram a habitar, vivendo em paz em territórios romanos, sem ansiedades ou receios, capturando prisioneiros, chacinando e destruindo tudo.

Outra fonte, a chamada Crónica de Monemvasia, refere que no ano de 587-588 os Turcos Ávaros (com os quais os Eslavos eram normalmente aliados):

capturaram toda a Tessália e toda a Grécia, o antigo Epiro, Árica e Eubeia. De facto, atacaram os Peloponenses e tomaram as suas terras pela força das armas. Depois de expulsarem e destruírem os povos helénicos autóctones, estabeleceram-se no 1ocal. Aqueles que conseguiram escapar às suas mãos assassinas dispersaram-se por várias zonas. Assim, os cidadãos de Patras mudaram-se para a região de Reggio, na Calábria, os Argivos para a ilha de Orobe, os Coríntios para a ilha de Egina [...] Apenas a parte oriental do Peloponeso, de Corinto ao cabo Maleas, não fora invadida pelos Eslavónios, devido à natureza inacessível e inóspita da região.

Existem algumas dúvidas em relação à data exacta destes acontecimentos, mas é inegável que no final do século VI e início do século VII, quando a fronteira danubiana entrou em completo colapso, praticamente toda a península Balcânica escapou ao controlo imperial. Apenas alguns postos avançados costeiros, tais como Mesêmbria no mar Negro, Tessalonica, Atenas e Corinto, se mantiveram. Em todos os outros locais, a população antiga procurou refúgio nas ilhas perto da costa, assim como em Monemvasia, ou emigrou para Itália. O domínio dos bárbaros estendia-se até às defesas exteriores de Constantinopla, as chamadas Longas Muralhas Anastasianas, que descreviam um largo arco desde o mar Negro a Selímbria (Silivri) no mar de Mármara, mas até estas iriam em breve ser abandonadas.
A última importante colonização eslavónica foi a dos Sérvios e dos Croatas, que no reino de Heraclio ocuparam as terras, onde ainda chegaram a habitar. Depois, em 680. vieram os Búlgaros turcos e conquistaram o país ao qual deram o seu nome, e onde viriam a ser assimilados pela população eslavónica. A barbarização dos Balcãs começou a inverter-se apenas no final do século VIII, mas por essa altura os efeitos já se haviam tornado irreversíveis». In Cyril Mango, Bizâncio, O Império da Nova Roma, 1980, Edições 70, 2008, ISBN 978-972-441-492-8.

Cortesia de E70/JDACT