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IX
«e encontrar na fazenda
de dentro
sobre o pólo
essa flor de neve.
Regulus é do céu outra flor.
Girassol celeste com pétalas
de oiro
esta flor tem uma
memória.
Sua sangue.
Flor de ardor
consumindo o seu coração.
Marte é o fogo a crepitar
nas pétalas
da rosa.
Paixão de pedra
em gotas de orvalho frio
no fundo orgânico da noite
abrindo.
O céu é uma outra terra
uma planície onde
com todas as cores
uma flora vegetal desabrocha.
Spica é uma espiga azul
de luz em grãos se desfazendo.
Vénus é de marfim
Castor e Pólux duas margaridas
brancas
e Aitaír um gladíolo.
Nebulosas silvestres
da noite rebentando a meio.
Perfumes de luz
nos campos correndo do céu.
Via Láctea de pólen
da nocturna Primavera no
ar voando.
Júpiter no lodo celeste
abrindo em nenúfar.
Vega
na margem de uma estrada
como uma hidrângea brilhando
azul.
Sóis como torrados campos
de girassol.
Aldebarã investindo nos céus
com um sol vegetal
uma espiga verde de
sangue.
O céu é uma câmara
que de noite revela
em estrelas
a vida terrestre.
Invisíveis sombras
que do dia luzindo
são a memória.
Sinais.
Nomes.
Pistas.
Da vida os figurinos
as formas desenhando.
Constelações vivas e sensíveis
como animais da terra.
Constelações primitivas
como do jurássico fauna terrestre.
O céu é uma memória eterna.
Um alfabeto de formas.
Monstros mitológicos
povoando a floresta
do firmamento.
O céu a arca é
de um outro dilúvio eterno.
Amalteia espremendo
no pico dos céus»
Poema de António Cândido Franco, in ‘Estâncias Reunidas’
In António Cândido Franco, Estâncias Reunidas, 1977-2002, Quasi
edições, biblioteca Finita Melancolia, Vila Nova de Famalicão, 2002, ISBN
972-8632-64-9.
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