terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O Triângulo Secreto. Didier Convard. «A porta foi aberta. Filipe e o cavaleiro entraram numa cripta onde estava reunida uma assembleia de dez templários em túnicas brancas. Todos mantinham o capuz na cabeça»

Cortesia de wikipedia e jdact

As Lágrimas do Papa
Os Templários
«(…) Não deveis dizer tal coisa. Com o tempo, a vida voltará a fazer as suas exigências. Passareis pelo luto e a paz vos será devolvida. Havia cinco degraus para subir antes de se chegar ao patamar da entrada. Uma alta porta de carvalho, sólida e maciça, foi aberta pelo templário com uma chave comprida, a qual tirou de sob a túnica. Uma sala escura de janelas fechadas. Um odor de mofo. Um cheiro adocicado de madeira carunchada. Esperem por mim aqui, disse o rei aos dois cavaleiros. Filipe desapareceu na escuridão, ao lado do templário que lhe deu a mão para conduzi-lo. Sire, disse o templário, já que está na hora e que temos a idade, vamos abrir os nossos trabalhos. Eu o acompanho, Renaud.
A escuridão era um dos elementos do ritual; Filipe compreendera isso desde a primeira vez, na sua iniciação. Portanto, confiou no templário que, de mãos dadas com ele, o ajudou afectuosamente a andar em passos lentos. O rei já havia estado ali por quatro vezes. Lembrava-se da distância a ser percorrida para se chegar a uma porta que o templário se limitou a empurrar para abrir. E também da escada em caracol que devia descer com cuidado. E do subsolo lamacento... E de mais uma porta na qual o rei precisou bater três vezes para que, atrás dela, uma voz perguntasse: quem bate à entrada do Templo? E o cavaleiro respondeu: é o rei Filipe sob a minha guarda e apadrinhamento, que espera ser recebido por seus irmãos da Loja Primeira. A voz ordenou: que ele entre!
A porta foi aberta. Filipe e o cavaleiro entraram numa cripta onde estava reunida uma assembleia de dez templários em túnicas brancas. Todos mantinham o capuz na cabeça. Três colunas suportavam a curva da abóbada feita de pedras volumosas. No piso de grandes lajotas havia sido desenhado um tabuleiro de quadrados pretos e brancos. Três candelabros iluminavam o local com as suas chamas curtas que um fraco filete de ar, às vezes, inclinava. Assim que o rei entrou, os templários deram as mãos formando uma corrente, à qual Filipe e o cavaleiro Renaud imediatamente se integraram.
Bem-vindo à nossa corrente, Filipe!, disse um templário. Amanhã, em Saint-Denis, o vigário vos entregará o estandarte com a cruz de ouro. Pelo Santo Cravo e pelo Santo Espinho, sereis cruzado. E me tornarei soldado da Igreja para ir a Jerusalém, completou Filipe. Deixai Jerusalém para Ricardo e Barba-Roxa. Não deveis ir tão longe, lançai outro templário na corrente. Filipe reagiu: deixá-los libertar sozinhos o Santo Sepulcro? Onde estaria a honra da minha cruzada? Com voz doce, fraseado lento e sereno, um templário ergueu a voz: já é tempo de vos instruirmos sobre um grande segredo, Sire. Um segredo que até o papa Clemente deve ignorar. Ainda nos concedeis a graça de acreditar em nós? Sempre consenti em escutá-los. A prudência e a inteligência dos seus conselhos me pouparam muitos infortúnios, admitiu o rei.
Trata-se de um Evangelho escrito em três rolos de pergaminho. A peça central do mistério de que vos falamos na reunião anterior, explicou a voz suave. Um quinto Evangelho? Nenhum texto faz menção a ele. Não se trata de uma heresia que estão considerando como palavra verdadeira?, estranhou o monarca. Não, Sire, precisou a voz tranquila. Ele existe, de facto. Ao menos, uma cópia feita pela mão de quem o redigiu. Então, Renaud tomou a palavra: os rolos estão em São João de Acre. Num subterrâneo, sob uma construção denominada a Torre maldita. O autor desse quinto Evangelho depositou o seu tesouro no fundo de uma gruta antes de pôr-se ao mar... Eu vos acompanharei à Terra Santa e vos guiarei». In Didier Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas do Papa, Editora Bertrand Brasil, 2012, ISBN 978-852-861-550-0.

Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT