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A dependência face a Coimbra
«(…)
Encontram-se documentados na diocese desde cerca de 1090; mas é difícil
perceber se têm ou não alguma relação com o governo de Lamego e Viseu. Na
verdade, a presença dos delegados de Coimbra na administração destas duas
dioceses é muito difícil de captar. Assim nos mostra, claramente, o exemplo do
mosteiro de Arouca, a instituição monástica do bispado de Lamego que maior
número de documentos conservou: em 93 diplomas referentes ao período de subordinação
a Coimbra, um só faz menção clara à existência de um arcediago à frente do
governo de Lamego; precisamente o mesmo que, entre todos os documentos
conhecidos outorgados pelos condes portucalenses e por Afonso Henriques, é o
único a indicar expressamente os agentes da diocese de Coimbra naqueles dois
bispados.
Observemos
mais de perto as informações deste diploma, uma carta outorgada por dona Teresa
a 31 de Março de 1128, que inclui na data a menção ao arcebispo de Braga, ao
bispo do Porto e aos responsáveis pelas três outras dioceses do condado à
época: in Colimbria arkidiacono
Tello, in Uiseo Odorio priore, in sede Lameco arkidiacono Monino. No
caso de Coimbra, o governante referido é o arcediago Telo, que viria a ser um
dos fundadores do mosteiro de Santa Cruz; a Sé encontrava-se vaga após a morte
do bispo, Gonçalo, ocorrida no ano anterior (faleceu a 17 de Abril de 1127, e o
seu sucessor, Bernardo, só se encontra documentado com segurança a partir de 1
de Julho de 1128, de acordo com os dados indicados). Para Viseu, é indicado o
prior Odório, que presidia ao cabido da catedral. À frente de Lamego,
encontramos um arcediago, Mónio, a respeito do qual dispomos somente desta
informação que nos dá a saber que, no final de Março de 1128, era sobre ele que
recaía a autoridade eclesiástica na diocese. Odório estava directamente ligado
à catedral cujo governo assegurava, na sua qualidade de membro e dirigente do
cabido viseense. Porque há que ter em conta que a inexistência de um prelado
próprio não era impeditiva do desenvolvimento da igreja local, no sentido de
existir um templo principal na cidade, em torno do qual se agrupava um conjunto
de cónegos, formando um cabido, como sucedia (e sucede ainda hoje) em todas as
catedrais. Em Viseu, a realidade capitular deste século de dependência face a Coimbra
começa a ser mais bem conhecida, graças às investigações levadas a cabo por
Anísio Miguel Sousa Saraiva, que mostram a importância que o colégio canonical
viseense tinha já por volta de 1110, período em que os condes portucalenses
fizeram de Viseu a sua capital, que se manteve como sede política do condado
até ao afastamento de dona Teresa, após a Batalha de S. Mamede. A Sé de Viseu
foi beneficiada pelo conde Henrique e por sua mulher com a transferência da
antiga catedral moçárabe, localizada na zona baixa da cidade, para o cimo da
colina, onde ganhava não só um novo edifício, mas também uma renovada
importância.
Foi
igualmente
beneficiada com o apoio que dona Teresa não pode ter deixado de dar à tentativa
de autonomização do bispado ocorrida por volta de 1119-1120, quando o cabido
elegeu o prior Odório como bispo. Foi uma tentativa gorada, pois logo Coimbra
se lhe opôs, fazendo valer os seus direitos de episcopado administrante; mas
mostra bem o grau de desenvolvimento que, por essa altura, já tinha atingido a
canónica viseense e, por consequência, a igreja local. Em Lamego, a situação
seria diversa, assim nos parece. Uma diferença fundamental, logo à partida, é
que, aqui, a presença e o apoio condal não se fizeram sentir como em Viseu.
Quanto ao cabido, é provável que, como diz a tradição, tenha tido origem num
templo da invocação de S. Sebastião, situado fora do espaço muralhado, e na
comunidade eclesiástica que aí se teria desenvolvido qual, a certa altura,
aparece designada como colegiada». In Anísio Sousa Saraiva,
Coordenação, Espaço, Poder, Memória, Faculdade de Teologia,
Centro de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica Portuguesa,
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2013, ISBN 978-972-836-157-0.
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