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de wikipedia e jdact
«(…) Não
cabendo neste trabalho traçar a história da historiografia urbana portuguesa
saliento apenas alguns trabalhos mais recentes que, pela sua metodologia e
abrangência, criaram não só saber, mas igualmente método, meta distintamente
mais complexa. Nesse sentido é de realçar o trabalho de Luísa Trindade,
alavancado pela sua Dissertação de Mestrado e Tese de Doutoramento em que,
partindo de uma análise global dos dados conhecidos para o território nacional
e, de um criterioso trabalho de investigação de alguns casos particulares,
propõe metodologias claras e concisas de análise do espaço urbano nas suas
múltiplas vertentes. São igualmente de salientar nesse âmbito os trabalhos de
Iria Gonçalves e Amélia Aguiar Andrade sobre o espaço urbano medieval.
Os trabalhos de
Walter Rossa e Helder Carita sobre a formação e expansão dos modelos
urbanísticos portugueses, numa cronologia que, partindo do período medieval,
abarca já a época moderna são igualmente incontornáveis. Numa perpectiva
cronologicamente mais abrangente são igualmente de destacar os trabalhos de
investigação e síntese levados a cabo por Manuel Teixeira e Margarida Valla. Para
o período moderno saliente-se o trabalho de José Ferrão Afonso e de Susana
Martins que, apesar de restritos, do ponto de vista da amplitude geográfica do
seu objecto de estudo, aplicaram e criaram bases metodológicas válidas para
qualquer trabalho desta índole.
Em relação ao século
XVIII, a dívida de gratidão e o reconhecido mérito não me permitem omitir o
trabalho de Joaquim Jaime Ferreira-Alves sobre o Porto na Época dos Almadas. De
destacar igualmente em cronologia equivalente o trabalho de Luís Rodrigues
sobre a cidade de Bragança.
No que concerne à
cidade de Viseu, para além do já citado estudo de Amorim Girão, não há qualquer
tentativa de criar modelos de interpretação urbana do burgo. A historiografia
local prende-se sobretudo, à semelhança do que sucede na maior parte do país,
aos grandes edifícios e personalidades que os geraram, estudados de forma
independente e desarticulada como se o tecido urbano de que fazem parte fosse
meramente acidental. Ainda assim são de salientar os artigos, publicados
sobretudo na Revista Beira Alta, por Alexandre Lucena e Vale e Alexandre Alves
que produziram importantes avanços no conhecimento de alguns monumentos da
cidade e do seu suporte documental, bem como o trabalho anteriormente
desenvolvido por Maximiano Aragão principalmente ao nível do estudo das
instituições.
A cidade de Viseu,
independentemente da cronologia exacta em que decidamos iniciar o seu estudo
não é resultado de um projecto urbano prévio, ou de um traçado regular, mas
antes de um crescimento orgânico, de génese medieval, que responde de forma
pragmática e espontânea às necessidades vivenciais da população. A urbe com que
nos deparamos no início do século XVII, data com que balizamos o início do
nosso estudo, concentra-se ainda, maioritariamente, no interior das muralhas
afonsinas e hesita ousar a expansão. Sede episcopal anterior à nacionalidade é
em torno do núcleo central da Sé que se desenvolve a cidade, mais tarde
alicerçada igualmente no poder camarário consubstanciado nos Paços e Praça do
Concelho. As profundas transformações que algumas cidades vão conhecer a partir
do século XVI e sobretudo ao longo dos séculos XVII e XVIII, assinalando novas
formas de pensamento e conceptualização do espaço vivencial, só ao de leve
marcaram a urbe. A aplicação de esquemas clássicos na organização do espaço e o
cuidado pela imagem da cidade, tão caros à época, são visíveis em Viseu, não
como fruto de um plano levado a cabo por uma autoridade, civil ou eclesiástica,
mas antes como produto de um esforço comum que, sob os mesmos ideais estéticos,
produz obras independentes que contribuem para a beleza e até, por vezes,
regularidade do todo. Como eixo estruturante do traçado urbano da cidade temos,
antes de mais a muralha, que define o espaço urbano em si mesmo por oposição ao
que o não é. A partir desse limite estabelecem-se eixos viários que se
entrecruzam, criam-se ritmos diários de circulação e permanência, que geram
praças e rossios e, consubstanciam-se nas festas e procissões os cenários
extraordinários por eles compostos.
A
muralha
Em
contraste com o carácter aberto do campo era a presença da muralha que
consagrava o estatuto urbano de uma povoação, e que delimitava, física e
simbolicamente, a cidade da não cidade. Construída por motivos essencialmente
defensivos a sua funcionalidade foi sendo alterada ao longo do tempo, perdendo
progressivamente o seu carácter militar, mas mantendo inalterada sua função de
delimitação do espaço urbano». In Liliana Castilho, A cidade de Viseu nos Séculos XVII e XVIII, Arquitectura e Urbanismo,
Tese de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2012.
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