Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino
«(…) Uma vez mais, as referências
à rainha são uma repetição daquilo que é narrado em todas as outras crónicas
anteriores. Dizem respeito ao seu casamento com o infante Afonso, filho do rei Dinis
I e da rainha dona Isabel, e herdeiro do trono de Portugal. À cronística
medieval associamos, inevitavelmente, o nome de Fernão Lopes, nomeado por
Duarte I, em 1434, cronista-mor do reino. Actualmente, é considerado o primeiro
cronista régio. Com Fernão Lopes se consumará a criação de uma historiografia
inteiramente portuguesa. É pela sua pena que chegaram até nós a Crónica do rei D. Pedro, a Crónica do rei D. Fernando e a Crónica do rei D. João I.
Na Crónica de D. Pedro, escrita, provavelmente, na quarta
década do século XV, cerca de um século após o reinado deste monarca, não
existe qualquer referência à mãe do soberano. Talvez o mais importante fosse o
narrar de pequenas histórias, reais ou fictícias, que louvassem para sempre os
dez anos de paz, de justiça e de prosperidade que se teriam vivido nesse
reinado e que, no dizer do cronista, tantas saudades deixaram. Escrita pelo mesmo
autor, nos finais da quarta década do século XV, a Crónica de D. Fernando, respeitando a linha cronológica, vai
narrando os acontecimentos de política externa e interna que mais marcaram o
reinado do Formoso. Assim,
quando o rei Pedro de Castela, cognominado O Cruel, morreu sem herdeiros directos, o rei Fernando aspirou à
coroa castelhana. Nesta perspectiva, o cronista exalta o passado linhagístico
de Fernando I. Para tal, o monarca é apresentado como herdeiro de seu primo,
porque era bisneto legítimo do rei Sancho IV de Castela por parte de sua avó
dona Beatriz:
d’el-rrei dom Pedro seu primo,
esto nom foi d’esta guisa, mas faziam entender a el-rrei, e ell assi o dezia,
que pois el-rrei dom Pedro era morto, que el ficava erdeiro nos rreinos de
Castella e de Leom. Ca era bisneto legitimo d’el-rrei dom Sancho de Castella,
neto da rrainha dona Beatriz filha do dito rrei dom Sancho.
Quanto à Crónica
de D. João I, a memória linhagística foi recordada, uma vez mais,
através da rainha dona Beatriz. Desta vez, para mencionar, em capítulo autónomo,
que Pedro e dona Inês de Castro possuíam laços de parentesco. Segundo Fernão
Lopes, tinham um mesmo antepassado comum, Sancho IV. Este monarca castelhano
era avô de Pedro, por parte de sua mãe, a rainha dona Beatriz, e bisavô de dona
Inês, porque a sua avó paterna, dona Violante, era filha ilegítima de Sancho.
Ao explicitar de uma forma detalhada e individual todos os antepassados de Pedro
e Inês, uma vez mais, Fernão Lopes remete para a reconstrução da dimensão
familiar e dinástica, onde a rainha, neste caso concreto, surge como elemento
de ligação a uma memória linhagística que era necessário preservar e conservar:
certo he que dona Enes era sobrinha delRei dom Pedro
(…). ElRei dom Pedro era filho da Rainha dona Beatriz, filha delRei dom Sancho
de Castella; e dona Viollante, molher que foi de dom Fernam Rodriguez de
Castro, e aquella Rainha dona Beatriz eram ambas irmaãs, filhas do dito Rei dom
Samcho, posto que nom fossem dhũa madre. Porque dona Viollante Samchez ouvera
elRei dom Sancho dhũa dona que chamavom dona Maria Afomso, molher que foi de
dom Garçia dUzeiro; e esta dona Viollamte Samchez foi madre de dom Pedro de
Castro que sse chamou da Guerra, cuja filha foi esta dona Enes; assi que ella
era sua sobrinha da parte do padre, filha de seu primo coirmaão.
Das principais crónicas de Espanha contemporâneas de
D. Beatriz, destacamos a Gran
Cronica de Alfonso XI, redigida durante o reinado deste monarca que
era filho de Fernando IV, rei de Castela, e de dona Constança, e, por isso, sobrinho
da nossa rainha dona Beatriz, como o autor refere na crónica:
don Fernando rrey de Castilla, padre deste rrey don
Alfonso de Castilla, era Hermano de la rreyna dona Beatriz de Portogal
Talvez os laços familiares, políticos e diplomáticos
existentes entre as duas coroas peninsulares, a portuguesa e a castelhana,
estejam na origem de vários capítulos onde são narradas as relações entre os
dois reinos, sejam elas ocasiões de paz ou até mesmo de guerra, como no caso da
coligação militar na Batalha
do Salado (1340). Esta crónica constitui um manancial de informação complementar,
porque a perspectiva da narração é castelhana. Deste modo, o protagonista é
Afonso XI, rei castelhano, e o monarca português surge, principalmente, em
diferentes contextos de rivalidade. Dona Beatriz é, por diversas vezes,
referenciada como um elemento vital de união dos diferentes laços linhagísticos
e familiares que se estabeleceram entre as monarquias castelhana e portuguesa (el
rrey estando en Badajoz esperando las gentes que avian de yr com el a entrar en
el rreyno de Portogal, vino ay la rreyna doña Beatriz de Portogal su tia, hermana
de su padre), mas também como conciliadora, ao encontrar-se com o rei de
Castela Afonso XI, seu genro, na tentativa de mediar a paz entre os dois reinos».
In
Vanda Lisa L. Menino, A Rainha D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de
Doutoramento em História, Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012,
Wikipedia.
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